Rubem Alves diz que é preciso desaprender para ganhar novos conhecimentos. É preciso esquecer os paradigmas para novos avanços. Não é um exercício fácil. Eu, por exemplo, nunca gostei de livros que nasceram de filmes, desenhos animados e outras mídias sem papel. Tão certo como dois e dois são quatro, estes livros não merecem repousar nos meus olhos nem testar a resistência da estante aqui de casa. Devem haver exceções, mas não lembro agora. Assim pensava eu até me deparar com crianças de olhar aceso e sorriso aberto em cima de uns livros sobre uns personagens que eu havia visto de relance num programa vespertino de TV. As páginas pareciam pular nos olhos daqueles pequenos, sentados no chão acarpetado de uma dessas grandes livrarias. Resolvi pegar um dos três livros da série para uma rápida leitura enquanto saboreava um café. Não tinha dúvidas de que seria um livro repleto de imagens e cores. Mas o texto era de uma simplicidade e inteligência absurda que acabei trazendo Charlie e Lola – Eu Sou Muito Pequena para a Escola (Lauren Child, Editora Ática) para casa.
Charlie tem sete anos e Lola, quase cinco. São irmãos. Na história, o irmão mais velho tenta convencer a menina de que ela já é grande o suficiente para ir à escola. Lola discorda e se derrama em explicações. Charlie, rebate cada justificativa com argumentos criados à altura para conquistar a personalidade teimosa da irmã. Ao final, a pequena convida seu amigo invisível (Soren Lorensen) e descobrem a escola como um lugar de novos amigos e saberes. O tema é interessante e só a forma como a autora o desenvolve já valeria uma resenha. Mas o livro ainda é LINDO!!! As ilustrações se mesclam com texturas e fotos numa gigantesca e genial colagem. Surgem de todos os cantos das páginas. As palavras passeiam pelo texto em círculos, linhas sinuosas. Voam como borboletas num céu de papel. Tudo é muito BELO!!! Outra coisa que não passa despercebida é a ausência física de adultos na história. Charlie e Lola são retratados num mundo quase que exclusivamente infantil. A presença dos mais velhos naquele universo é minimamente sugerida nos diálogos. Também acho difícil imaginar um irmão com a paciência e sabedoria de Charlie mas, lembrem-se, este é um mundo de fantasia! Por isso, embarque sem preconceitos! A autora e ilustradora Lauren Child publicou várias histórias de Charlie e Lola pelo mundo mas, no Brasil, até hoje foram publicados apenas três: Eu Não Quero Dormir Agora e Eu Nunca Vou Comer um Tomate, além do título resenhado acima. Todos abordando temáticas que permeiam a vida dos pequenos.
Depois de ler o livro, me entreguei aos prazeres de também assistir aos desenhos animados exibidos na TV Cultura de segunda a sexta, às 17h45. Se vocês – como eu – não podem estar em casa sempre neste horário, ou se por aí não dá para assistir a TV Cultura, invista uns reais comprando os DVDs da série. A animação segue a idéia do livro com ilustrações em 2D, texturas, fotos e filmes. Ops... pois é... a animação segue a idéia do livro, sim. O livro veio primeiro. Eu é que não sabia. Não deu para me despir ainda daquele paradigma, mas estou aberto às novas descobertas. Charlie e Lola é para ser lido com as crianças, de preferência. Mas estou certo de que seu filho vai se divertir lendo sozinho. Você também vai descobrir diálogos incríveis numa leitura solitária. Ou simplesmente vocês, juntos ou não, acenderão o olhar e soltarão o riso nas páginas coloridas desta coleção repleta de humor, criatividade e infância. Pegue um leite rosa na geladeira, o livro na estante e... huummmm... delicie-se com mais esta leitura!!! Ah, o precinho é bem legal também. Hatuna Matata!!!
P.S. Tem um site bem legal. Em inglês!!!
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
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