terça-feira, 4 de setembro de 2007

Três Mosqueteiros (Os) - Alexandre Dumas

Escrito em 1844, os “Três Mosqueteiros” nasceram aquando da descoberta por Alexandre Dumas de um manuscrito intitulado As memórias do sr. D’Artagnan”. Nessas memórias, d’Artagann refere que na primeira visita ao sr. de Tréville, capitão dos mosqueteiros, encontrou três moços que se chamavam Athos, Porthos e Aramis, nomes que Dumas julga tratar-se de pseudónimos que disfarçam nomes ilustres.
Posteriormente e perseguindo a sua investigação, Dumas acaba por descobrir um outro manuscrito intitulado ”Memórias do conde de La Fère, respeitante a alguns acontecimentos que se passaram em França em fins do reinado de Luís XIII e princípios do de Luís XIV”. Manuscrito este que e pelo que Dumas diz, relata os acontecimentos descritos no livro “Os três mosqueteiros” e um outro que me parece ser “20 anos depois”, também da autoria de Alexandre Dumas.
Esta informação, que desconhecia, vem no prefácio da edição que possuo.
Verdade? Ficção? Não o sei dizer!
Certo é que li esta obra quando tinha 12, 13 anos e que, até hoje, ficou guardado num lugar muito especial do meu imaginário. Uma obra de referência no panorama da literatura que, e depois de a ter relido, ainda aconselho a uma certa faixa etária e a pessoas que lêem pouco e apenas pretendem distrair-se um pouco.
Quero com isto dizer que fiquei muito desiludido com esta minha 2ª leitura.
Está muito longe de ser um bom livro. A narração, presumo que de Dumas, tem muitas falhas e os acontecimentos que se vão sucedendo, têm mais buracos que as ruas de Lisboa. A acção tem realmente factos históricos verídicos (lembro-me, por exemplo, do cerco de Arrochela), personagens que existiram (Luís XIII, Ana de Áustria, Richelieu), mas a forma como os acontecimentos se vão sucedendo, são extremamente rápidos, com pouco sentido e contém pouco rigor narrativo.
Se não concorda, atente a alguns factos:
D’Artagnan, jovem fidalgo gascão, vem para Paris com aspirações a ser mosqueteiro. É possuidor de uma carta de seu pai para o sr. de Tréville. Até chegar à presença do capitão, passa por alguns contratempos, perde a carta que Dumas nunca mais refere, e sobretudo assiste a uma impensável e violenta repreensão do sr. de Tréville a 3 mosqueteiros... e o sr. de Tréville nem sabia quem era d’Artagnan. 2, 3 páginas depois já d’Artagnan é grande compincha desses mosqueteiros e meia dúzia de páginas adiante já esses mosqueteiros seguem quase religiosamente d’Artagnan, e o jovem gascão apenas consegue ser colocado no corpo da guarda. Depois temos o papel de Richelieu que, à noite joga partidas amigáveis com o Rei e de dia conspira contra tudo e contra todos, não olhando a meios para atingir os seus fins. Existe de facto um fundo de verdade, mas o relato de Dumas é bastante desconexo assim como a ligação entre o cardeal e Milady e o papel desta é deveras incongruente, e confuso. Uma mulher que é tão bela que tem um poder hipnotizador sobre tudo e todos. Demonstra um ódio tão grande por tudo o que se mexe. Esse ódio não é muito compreensível porque também não é muito compreensível o percurso de Milady. Cheguei a parar para meditar no que lia, pois a ânsia que demonstra em fazer mal é tão grande que e por diversas vezes, me pareceu que várias etapas do texto ou foram omitidas ou nem sequer foram escritas. Lembro-me de uma “cena” quase no fim do livro onde ela é presa. O homem que a prende coloca um tenente a vigiá-la e, para que esse tenente não caia nos terríveis jogos de Milady, adverte-o para que não vá em cantigas, que não acredite numa palavra que ela disser, no entanto, esse tenente que tudo devia a esse homem, inclusive a sua vida, acaba por ser facilmente dominado por Milady em apenas 3, 4 dias, a ponto de a ajudar a fugir e de ele próprio cometer um terrível homicídio. E o engraçado é que ela nem usa grandes argumentos.
Mesmo a forma como o romance acaba é algo de impensável, uma completa contradição. Depois do que acabámos de ler, depois de os mosqueteiros terem passado o livro todo a lutar contra os homens do cardeal, com esse mesmo cardeal a demonstrar uma raiva mortal principalmente a d’Artagnan, é precisamente Richelieu que premeia o jovem gascão... certo que o cardeal sempre demonstrou uma certa admiração por d’Artagnan, mas é estranho!
A história em si é simples:
Situada em 1630 (+/-), 3 mosqueteiros e um jovem guarda, aliam-se á rainha contra o cardeal. D’Artagnan parte para Inglaterra para recuperar uma jóia que a rainha havia oferecido ao duque de Buckingham como prova do seu amor. O cardeal, sabendo disso, manipula do rei no sentido de ele realizar um baile em que a rainha terá que apresentar essa jóia. Mesmo com homens do cardeal atrás dos mosqueteiros, d’Artagnan consegue chegar a Inglaterra e trazer de volta essa jóia que a rainha, para grande raiva do cardeal, usa com visível satisfação. De notar que no caminho para Inglaterra, Athos, Porthos e Aramis vão ficando para trás sem nós sabermos se morreram ou não. Dumas pouco se importa em explicar, só depois de d’Artagnan chegar é que o sr. de Tréville se lembra dos mosqueteiros e lá parte o jovem guarda em busca dos amigos.
Posto isto, os 3 mosqueteiros entretêm-se com as suas conquistas e chulices amorosas (era uso e costume nessa época as amantes sustentarem os seus amados militares e eles até tinham brio em o fazer). São então convocados para o tal cerco de Arrochela e é daí que partem para a última aventura.
Eu assumo-me como um leitor muito exigente e um crítico feroz. Como cada qual, também eu tenho as minhas preferências e o que pode ser bom para mim, pode ser muito mau para outras pessoas e vice-versa. Esta obra desiludiu-me porque, sem ser pelas razões já apontadas, nota-se que Dumas se limitou a pegar nos textos já existentes, não lhe acrescentando mais valia nenhuma, nem sequer teve capacidade para criar um enredo mais elaborado, cuidado ou artístico. Repare-se que não é por acaso que Dumas foi talvez o único escritor que fez da arte de escrever um negócio de produção em série, empregando vários funcionários para escreverem histórias.
Assim “Os três mosqueteiros” é, na minha opinião, um típico romance de aventuras que aconselho a jovens que se iniciam neste mágico mundo da literatura ou a pessoas que pouco lêem e que apenas pretendem relaxar e divertir-se um pouco.
Para quem procura Qualidade, para quem deseje ler, absorver, pensar, analisar e estudar uma obra literária, este não é certamente um romance que aconselho.
Obviamente que continuará a fazer parte do meu imaginário, embora já tenha mudado de lugar. E eu que estava a pensar em reler o “Conde de Monte Cristo”, obra que tenho como uma das melhores que li até hoje, depois de reler os “três mosqueteiros”, prefiro deixá-la onde está e continuar a pensar no “Conde de Monte Cristo” como uma Grande Obra.

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