Ulisses, de Maria Alberta Menéres, é já um clássico da literatura para crianças. Duplamente clássico. E a forma como os leitores o recebem corresponde à sua condição. A obra revelar-se-á, provavelmente, a maior excepção no que respeita a livros de leitura obrigatória pelo entusiasmo que as façanhas do herói provocam nos alunos.
A intriga original tem todos os ingredientes para poder ser transformada em história de acção e aventura, bem ao gosto dos mais novos: muitos episódios perigosos, soluções imprevisíveis para superar todas as dificuldades, coragem e sagacidade do herói, e um final feliz. As magníficas descrições do original, bem como a estrutura narrativa (in media res) foram eliminadas, mas a relação da personagem com o contexto mitológico e natural alimenta o maravilhoso, suficiente para envolver e surpreender o leitor.
Apesar do tom narrativo aparentar um certo simplismo, a intriga tenta preservar alguns vazios que agucem a curiosidade e obriguem cada um a imaginar detalhes do cenário ou do episódio. Por isso, a síntese operada obedeceu a um rigoroso critério de distinção entre o que seria imprescindível para a compreensão da história e aquilo que seria excessivo para as crianças, colmatando a falta de elementos descritivos com figuras de retórica (gráficas, sintácticas e semânticas). Comparações, pleonasmos, anáforas, enumerações, entoam os sons da natureza, os sentimentos do herói, os sinais do perigo. Sara Reis Silva, numa recensão à obra (Dez réis de gente… e de livros, Caminho, pp. 159, 161), enumera os aspectos que fazem deste um texto belo, envolvente e original.
É evidente que Ulisses não reproduz a Odisseia, nem é essa a intenção do livro. Logo no início, o narrador apresenta com muita clareza a sua intenção: contar, à sua maneira, uma história antiga, narrada pela primeira vez por Homero; a história de Ulisses. Não se trata por isso de uma adaptação simplificada e sim de um reconto. Não há, em consequência, comparação a fazer entre esta obra e a de Frederico Lourenço (A Odisseia de Homero adaptada para jovens, Cotovia), que é assumidamente uma adaptação da Odisseia, embora em prosa, mas mantendo quase inalterado o estilo original.
O que se espera, da leitura de Ulisses, é que a curiosidade e a memória daquele universo fantástico e intemporal, possa levar as crianças às epopeias clássicas, cuja leitura não se apresenta tão difícil como consta, pelo lugar que tradicionalmente ocupam no cânone da literatura ocidental. Tal solenidade retira estas obras para lugares recônditos, afastando-as de leitores potenciais, que no passado se deliciaram com bons romances de aventuras e hoje consomem os seus sucedâneos comerciais e artificiais. Aconselham-se por isso os docentes a experimentarem o gozo de ler a Odisseia, resistindo ao primeiro estranhamento estilístico do verso, do refrão, do vocabulário. A partir daí, o leitor habitua-se ao facto de não decorar o nome das personagens, dos lugares, e de não conseguir reconstituir todos os acontecimentos. Mas muito provavelmente estará preso à intriga, mesmo conhecendo o seu final. Invertamos o exercício e apliquemo-lo ao adulto: o que falta a Ulisses que encontramos na Odisseia?
Respondida esta pergunta, a leitura orientada será ainda mais entusiasmante, e quem sabe, até se poderá apresentar aos mais novos um bocadinho do poema homérico. Para atenuar estranhamentos futuros…
A intriga original tem todos os ingredientes para poder ser transformada em história de acção e aventura, bem ao gosto dos mais novos: muitos episódios perigosos, soluções imprevisíveis para superar todas as dificuldades, coragem e sagacidade do herói, e um final feliz. As magníficas descrições do original, bem como a estrutura narrativa (in media res) foram eliminadas, mas a relação da personagem com o contexto mitológico e natural alimenta o maravilhoso, suficiente para envolver e surpreender o leitor.
Apesar do tom narrativo aparentar um certo simplismo, a intriga tenta preservar alguns vazios que agucem a curiosidade e obriguem cada um a imaginar detalhes do cenário ou do episódio. Por isso, a síntese operada obedeceu a um rigoroso critério de distinção entre o que seria imprescindível para a compreensão da história e aquilo que seria excessivo para as crianças, colmatando a falta de elementos descritivos com figuras de retórica (gráficas, sintácticas e semânticas). Comparações, pleonasmos, anáforas, enumerações, entoam os sons da natureza, os sentimentos do herói, os sinais do perigo. Sara Reis Silva, numa recensão à obra (Dez réis de gente… e de livros, Caminho, pp. 159, 161), enumera os aspectos que fazem deste um texto belo, envolvente e original.
É evidente que Ulisses não reproduz a Odisseia, nem é essa a intenção do livro. Logo no início, o narrador apresenta com muita clareza a sua intenção: contar, à sua maneira, uma história antiga, narrada pela primeira vez por Homero; a história de Ulisses. Não se trata por isso de uma adaptação simplificada e sim de um reconto. Não há, em consequência, comparação a fazer entre esta obra e a de Frederico Lourenço (A Odisseia de Homero adaptada para jovens, Cotovia), que é assumidamente uma adaptação da Odisseia, embora em prosa, mas mantendo quase inalterado o estilo original.
O que se espera, da leitura de Ulisses, é que a curiosidade e a memória daquele universo fantástico e intemporal, possa levar as crianças às epopeias clássicas, cuja leitura não se apresenta tão difícil como consta, pelo lugar que tradicionalmente ocupam no cânone da literatura ocidental. Tal solenidade retira estas obras para lugares recônditos, afastando-as de leitores potenciais, que no passado se deliciaram com bons romances de aventuras e hoje consomem os seus sucedâneos comerciais e artificiais. Aconselham-se por isso os docentes a experimentarem o gozo de ler a Odisseia, resistindo ao primeiro estranhamento estilístico do verso, do refrão, do vocabulário. A partir daí, o leitor habitua-se ao facto de não decorar o nome das personagens, dos lugares, e de não conseguir reconstituir todos os acontecimentos. Mas muito provavelmente estará preso à intriga, mesmo conhecendo o seu final. Invertamos o exercício e apliquemo-lo ao adulto: o que falta a Ulisses que encontramos na Odisseia?
Respondida esta pergunta, a leitura orientada será ainda mais entusiasmante, e quem sabe, até se poderá apresentar aos mais novos um bocadinho do poema homérico. Para atenuar estranhamentos futuros…
Como posso baixar o livro?
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