José Eduardo Agualusa, autor angolano mas com fortes raízes culturais lusas, é, hoje em dia, um nome sonante no meio literário português e, talvez. o mais sonante do universo angolano.
Desconhecendo por completo a sua escrita, este foi o primeiro e, até agora o único livro que li deste autor e as ilações são muito positivas.
Poucas páginas depois de ter começado, já não conseguia desgrudar do livro, tal a forma fluída, simples e atraente da sua escrita. Honestamente, Agualusa foi dos poucos escritores que me conseguiram prender logo nas primeiras páginas do primeiro livro, apenas com o grande Eça isso havia acontecido e nem Saramago me havia entusiasmado dessa maneira. Mas Agualusa tem efectivamente “aquele” dom de contar histórias, “aquele” dom mágico de prender o leitor à sua narrativa, fazendo com que o leitor se sinta parte integrante da narrativa, parceiro dos personagens.
É o próprio autor que afirma que a grande fonte de inspiração, aquele que o levou a ser escritor, foi o mestre Eça de Queiróz. Conhecedor e fanático da obra de Eça, nota-se em Agualusa o estilo e até mesmo uma certa ironia que efectivamente faz lembrar Eça, no entanto seria injusto afirmar que o estilo é o mesmo. Não, Agualusa cria um estilo, uma forma de narrar diferente, tornando-o, na minha opinião, um dos grandes escritores lusófonos da actualidade e, de certeza, de um dos grandes escritores do futuro a nível mundial.
Nesta obra, Agualusa inspira-se nas cartas de Fradique Mendes, personagem criada por Eça de Queiróz, para recriari a sociedade colonial em Angola no século XIX.
Fradique é um escritor português que chega a Luanda em 1868. O tema de fundo é a escravatura que embora tenha sido oficialmente abolida em 1836, na realidade é um negócio rentável, pois os negros continuam a ser enviados para o Brasil.
Todo o livro é composto por cartas que Fradique vai enviando à sua madrinha, narrando a sua vida em Luanda e tudo o que vai observando. Entretanto acaba por se apaixonar por uma ex-escrava, na altura uma mulher livre, mas que acaba por ser ver novamente na escravatura. Curioso verificar que o melhor amigo de Fradique dá pelo nome de Eça de Queiróz, e também para ele Fradique Mendes escreve cartas.
Um excelente livro onde Agualusa descreve a sociedade hipócrita da altura. Uma sociedade onde a mentira e os compadrios reinavam, cheia de falsas imagens sociais e de gente que se vendia por qualquer preço.
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