sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Nosso Lar, de André Luiz e Francisco Cândido Xavier / Chico Xavier

Novo amigo
Os prefácios, em geral, apresentam autores, exaltando-lhes
o mérito e comentando-lhes a personalidade.
Aqui, porém, a situação é diferente.
Embalde os companheiros encarnados procurariam o médico
André Luiz nos catálogos da convenção.
Por vezes, o anonimato é filho do legítimo entendimento e
do verdadeiro amor. Para redimirmos o passado escabroso,
modificam-se tabelas da nomenclatura usual na reencarnação.
Funciona o esquecimento temporário como bênção da Divina
Misericórdia.
André precisou, igualmente, cerrar a cortina sobre si
mesmo.
É por isso que não podemos apresentar o médico terrestre e
autor humano, mas sim o novo amigo e irmão na eternidade.
Por trazer valiosas impressões aos companheiros do mundo,
necessitou despojar-se de todas as convenções, inclusive a do
próprio nome, para não ferir corações amados, envolvidos ainda
nos velhos mantos da ilusão. Os que colhem as espigas maduras,
não devem ofender os que plantam a distância, nem perturbar a
lavoura verde, ainda em flor.
Reconhecemos que este livro não é único. Outras entidades
já comentaram as condições da vida, além-túmulo...
Entretanto, de há muito desejamos trazer ao nosso círculo
espiritual alguém que possa transmitir a outrem o valor da
experiência própria, com todos os detalhes possíveis à legítima
compreensão da ordem que preside o esforço dos desencarnados
laboriosos e bem-intencionados, nas esferas invisíveis ao olhar
humano, embora intimamente ligadas ao planeta.
Certamente que numerosos amigos sorrirão ao contacto de
determinadas passagens das narrativas. O inabitual, entretanto,
causa surpresa em todos os tempos. Quem não sorriria, na Terra,
anos atrás, quando se lhe falasse da aviação, da eletricidade, da
radiofonia?
A surpresa, a perplexidade e a dúvida são de todos os
aprendizes que ainda não passaram pela lição. É mais que
natural, é justíssimo. Não comentaríamos, desse modo, qualquer
impressão alheia. Todo leitor precisa analisar o que lê.
Reportamo-nos, pois, tão-somente ao objetivo essencial do
trabalho.
O Espiritismo ganha expressão numérica. Milhares de
criaturas interessam-se pelos seus trabalhos, modalidades,
experiências. Nesse campo imenso de novidades, todavia, não
deve o homem descurar de si mesmo.
Não basta investigar fenômenos, aderir verbalmente,
melhorar a estatística, doutrinar consciências alheias, fazer
proselitismo e conquistar favores da opinião, por mais
respeitável que seja, no plano físico. É indispensável cogitar do
conhecimento de nossos infinitos potenciais, aplicando-os, por
nossa vez, nos serviços do bem.
O homem terrestre não é um deserdado. É filho de Deus, em
trabalho construtivo, envergando a roupagem
da carne; aluno de escola benemérita, onde precisa aprender a
elevar-se. A luta humana é a sua oportunidade, a sua ferramenta,
o seu livro.
O intercâmbio com o invisível é um movimento sagrado, em
função restauradora do Cristianismo puro; que ninguém, todavia,
se descuide das necessidades próprias, no lugar que ocupa pela
vontade do Senhor.
André Luiz vem contar a você, leitor amigo, que a maior
surpresa da morte carnal é a de nos colocar face a face com
própria consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no
purgatório ou nos precipitamos no abismo infernal; vem lembrar
que a Terra é oficina sagrada, e que ninguém a menosprezará,
sem conhecer o preço do terrível engano a que submeteu o
próprio coração.
Guarde a experiência dele no livro dalma. Ela diz bem alto
que não basta à criatura apegar-se à existência humana, mas
precisa saber aproveitá-la dignamente; que os passos do cristão,
em qualquer escola religiosa, devem dirigir-se verdadeiramente
ao Cristo, e que, em nosso campo doutrinário, precisamos, em
verdade, do ESPIRITISMO e do ESPIRITUALISMO, mas, muito
mais, de ESPIRITUALIDADE.
EMMANUEL
Pedro Leopoldo, 3 de outubro de 1943.

Mensagem de André Luiz
A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é jogo
escuro das ilusões.
O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso.
Copiando-lhe a expressão, a alma percorre igualmente caminhos
variados e etapas diversas, também recebe afluentes de
conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se
em qualidade, antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria.
Cerrar os olhos carnais constitui operação demasiadamente
simples.
Permutar a roupagem física não decide o problema
fundamental da iluminação, como a troca de vestidos nada tem
que ver com as soluções profundas do destino e do ser.
Oh! caminhos das almas, misteriosos caminhos do coração!
É mister percorrer-vos, antes de tentar a suprema equação da
Vida Eterna! É indispensável viver o vosso drama, conhecer-vos
detalhe a detalhe, no longo processo do aperfeiçoamento
espiritual!...
Seria extremamente infantil a crença de que o simples
"baixar do pano" resolvesse transcendentes questões do Infinito.
Uma existência é um ato.
Um corpo - uma veste.
Um século - um dia.
Um serviço - uma experiência.
Um triunfo - uma aquisição.
Uma morte - um sopro renovador.
Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos,
quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos
ainda?
E o letrado em filosofia religiosa fala de deliberações finais
e posições definitivas!
Ai! por toda parte, os cultos em doutrina e os analfabetos do
espírito!
É preciso muito esforço do homem para ingressar na
academia do Evangelho do Cristo, ingresso que se verifica, quase
sempre, de estranha maneira - ele só, na companhia do Mestre,
efetuando o curso difícil, recebendo lições sem cátedras visíveis
e ouvindo vastas dissertações sem palavras articuladas.
Muito longa, portanto, nossa jornada laboriosa.
Nosso esforço pobre quer traduzir apenas uma idéia dessa
verdade fundamental.
Grato, pois, meus amigos!
Manifestamo-nos, junto vós outros, no anonimato que
obedece à caridade fraternal. A existência humana apresenta
grande maioria de vasos frágeis, que não podem conter ainda
toda a verdade. Aliás, não nos interessaria, agora, senão a
experiência profunda, com os seus valores coletivos. Não
atormentaremos alguém com a idéia da eternidade. Que os vasos
se fortaleçam, em primeiro lugar. Forneceremos, somente,
algumas ligeiras notícias ao espírito sequioso dos nossos irmãos
na
senda de realização espiritual, e que compreendem conosco que
"o espírito sopra onde quer".
E, agora, amigos, que meus agradecimentos se calem no
papel, recolhendo-se ao grande silêncio da simpatia e da
gratidão. Atração e reconhecimento, amor e júbilo moram na
alma. Crede que guardarei semelhantes valores comigo, a vosso
respeito, no santuário do coração.
Que o Senhor nos abençoe.
ANDRÉ LUIZ

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