segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Chegou mais um livro sem texto!


De repente, parece que a enorme lacuna da não edição de albuns sem texto está a diminuir. Acaba de chegar mais um, desta feita com a chancela do Planeta Tangerina e assinado por Bernardo Carvalho.
A ilustração vem na linha de Pê de Pai, com a totalidade das páginas preenchidas por cor, e a escolha de uma relação cromática que assenta em três ou quatro opções, reduzindo assim a ligação ao figurativo. O minimalismo de algumas páginas, onde consta apenas um elemento, ou parte dele, de uma perspectiva inesperada, contribui para a criação da narrativa visual, que se sustenta na gradual informação que as imagens vão dando a conhecer. O processo de leitura das imagens é em tudo semelhante ao da leitura de texto, no que respeita a progressão narrativa. Evidentemente, a percepção física do espaço é diferente, já que não obedece à ordem dos sistemas de escrita. O olhar deve percorrer toda a página e aí a perspectiva em que as figuras são apresentadas é muito importante para encontrar a mensagem.
À medida que a narrativa evolui, a página vai ficando cada vez mais preenchida, resultando desta acumulação dois efeitos diegéticos: um diacrónico e outro simbólico. A sucessão de acontecimentos, assente na repetição de uma acção e na acumulação de objectos dá ao texto visual uma lógica e um sentido crítico.
Este livro sem imagens é uma história ansiosa por ser lida e contada...

Bernardo Carvalho, Um dia na Praia, Planeta Tangerina

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