quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Pequenos Poetas: o que se aprende no terreno

Os ateliers de poesia, que tenho vindo a realizar com alunos do 1º ciclo, no concelho da Moita, têm-me dado água pela barba! Ainda não estou completamente satisfeita com as respostas que os alunos me têm dado. Os mais novinhos ainda não sabem ler nem escrever, e por isso tudo passa pela oralidade, pela exploração da palavra e do som. A noção de rima é ainda muito intuitiva, porque não relacionam os fonemas com a grafia, mas lá vão andando. Pensei então em explorar a rima para criar um poema colectivo. Amanhã porei esta nova estratégia em prática. A partir do comboio de rimas, que construimos em todas as sessões, vou pedir a cada par que forme uma frase, na sua cabeça, com duas palavras do comboio. Depois registarei todas as frases no quadro, e veremos o resultado das rimas. Não faço ideia de como vai correr, provavelmente sairá um poema sem sentido. Mas será mais um passo para a criação colectiva e para o desenvolvimento de estruturas sintácticas e morfológicas a partir de enunciados.
Com os alunos do 3º ano já me foi possível desafiá-los a escrever. Também a partir do comboio das rimas, pedi-lhes que escolhessem seis palavras de que gostassem e a partir daí fizessem um poema. Houve textos muito interessantes, nomeadamente de alunos com dificuldades de aprendizagem. Um deles começava sempre por era uma vez, e embora o poema não fizesse sentido, a estrutura repetitiva e a rima davam-lhe equilíbro e harmonia. Outro aluno criou um poema fonético, só com palavras que rimam, mas que colocadas por uma determinada ordem davam bastante ritmo ao poema.
Nesta fase, as crianças ainda não se preocupam com a mensagem, o sentido, o que querem dizer. Preocupam-se em colocar as palavras nas frases e rimar. O poema é acima de tudo um jogo de constrangimentos e não um jogo semântico. Ao vê-los não deixei de percepcionar que estão muito próximos do fazer efectivo da poesia, em que o lugar da palavra, o ritmo, as correspondências sintácticas, são tão importantes quanto o seu significado. Falta às crianças a consciência do sentido, a noção de coerência e de lógica. Mas isso treina-se com outro tipo de exercícios.

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