domingo, 12 de outubro de 2008

O Livro De Melquisedeque (Uma Parábola), de Diógenes Lopes De Oliveira

TRECHO:
Os Rolos do Mar Morto
No deserto da Judéia, no litoral do Mar Morto, próximo a Jerico, acampava-se uma tribo semibeduína conhecida
como Taamireh. Era o início da primavera de 1947, quando um dos filhos daquela tribo, Muhammad edh-Dhib, um
jovem de apenas 15 anos de idade, pastoreava o rebanho de seu pai. Ao retornar para casa, descobriu que estava faltando
uma cabra. Deixando o rebanho seguro no curral, retornou sem demora à procura da que havia se transviado.
Depois de caminhar por muitas partes em busca da cabra perdida, o beduíno sentou-se junto à
uma gruta, vencido pelo cansaço. Não sabia que os seus passos errantes o conduziram naquele
entardecer para próximo de um tesouro de inestimável valor. Ele encontrava-se naquele momento na
região noroeste do Mar Morto.
Ao arremessar uma pedra para dentro da caverna, o beduíno ouviu um ruído surdo que pareceulhe
o som de um vaso de barro quando cai. Achou muito estranho aquilo e, movido por um misto de
curiosidade e medo, aproximou-se da abertura para ver o que se encontrava lá dentro. A princípio,
somente conseguiu ver a escuridão que reinava dentro da caverna que voltara a ficar silente. Depois
de alguns instantes, seus olhos começaram a avistar contornos que lhe pareceram grandes jarros.
Vieram-lhe então à lembrança histórias que ouvira desde mui pequeno, sobre Sheitan, o espírito mau
que vive nas cavernas. Não seria aquela gruta a sua morada? Este pensamento o fez fugir dali
apressadamente, em direção de sua tenda. Tão grande era o medo, que se esqueceu inteiramente da
cabra que se perdera.
Ahmed, o seu irmão mais velho ,ao ouvir sua história, riu de sua falta de coragem. Ahmed,
contudo, não conseguia esquecer-se daqueles vasos que seu irmão afirmara ter visto no interior da
caverna; E se existisse dentro deles tesouros? Esse pensamento fez com que perdesse o sono naquela
noite. Assim que o dia raiou, pediu que seu irmão o levasse àquele lugar de onde fugira.
Cheios de esperança e coragem rumaram naquela manhã em direção ao possível tesouro.
Olhando atentamente para o interior da caverna, Ahmed constatou que, realmente, havia jarros ali.
Cheio de euforia, passou a remover os pedregulhos que estreitavam aquela abertura, até que
conseguiu resvalar-se para dentro da gruta. Estava muito escuro a princípio, mas suas vistas foram-se
acostumando e, dentro de instantes, viu-se cercado pelos vasos de barro. Com muito cuidado,
evitando que se quebrassem, foi tomando-os, um por um, e passando-os para o irmão, que ficara do
lado de fora.
Curioso para ver o que havia naqueles vasos, Ahmed saltou para fora da Gruta. Ao introduzir a
mão num daqueles vasos, tirou um embrulho feito de panos de linho. Abriram-no na expectativa de
encontrar ouro ou pedras preciosas, mas os irmãos ficaram decepcionados ao descobrirem apenas um
rolo, feito de coro de cabras. Em todo o rolo, havia uma escrita que não puderam decifrar. Os demais
jarros traziam igualmente grandes rolos de couro.
Os beduínos ficaram, inicialmente, sem saber o que fazer com aqueles rolos. A primeira idéia
foi a de devolvê-los à caverna; Mas, pensando melhor, decidiram vendê-los para algum sapateiro ou
colecionador de coisas antigas.
Khalil Iskander Shahin, conhecido como Kando, tinha uma sapataria em Belém. Remendava
uma bolsa quando dois beduínos entraram em sua sapataria, arrastando consigo sete grandes rolos.
Colocando-os sobre o balcão, perguntaram o quanto ele poderia pagar por todo aquele couro.
Analisando os rolos, viu que estavam muito envelhecidos e, com certeza, não lhe seriam úteis.
Khalil estava para despedir os moços quando, atraído por aquelas escritas, resolveu adquiri-los,
pensando em revendê-los para algum colecionador de antigüidades. Pagou então uma ninharia por
eles, e os rapazes, ainda que cansados por todo esforço, saíram felizes.
Durante alguns dias, os rolos permaneceram esquecidos em um canto da sapataria, enquanto
Khalil, procurava em vão despertar o interesse de seus clientes por eles.
Athanasius Y. Samuel, arcebispo metropolitano do Mosteiro São Marcos, em Jerusalém, tomou conhecimento
sobre os rolos através de um membro de sua paróquia que os vira na sapataria de Khalil. Dirigiu-se até lá e, como não
conseguia carregar todos, adquiriu quatro deles. Alguns dias depois, Khalil vendeu os outros três para o professor Eleazer
Lipa Sukenik da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Ao analisar os quatro rolos, Athanasios conscientizou-se de haver adquirido uma preciosidade.
Decidido a fazer fortuna com sua venda, levou-os clandestinamente para os Estados Unidos, onde
passou a oferecê-los para pessoas e instituições que acreditava poderem se interessar por eles.
Ninguém, contudo, aceitou sua proposta, pois o preço exigido era muito alto.
Desanimado, Athanasios decidiu, numa última tentativa, colocar um anúncio no Wall Street
Journal.
Preço Multiplicado
Era início de 1954, quando o General Yigael Yadin, Chefe do Estado-Maior do Exército
Israelense, ao ler o Wall Street Journal, foi atraído para o pequeno artigo que falava daqueles quatro
rolos encontrados no Mar Morto, contendo manuscritos bíblicos datados entre 100 a 200 anos a.C.;
Sua aquisição poderia ser ideal para instituições educacionais ou religiosas.
Yigael era filho do professor Eleazer, que comprara os três últimos rolos. Desde então, eles
estavam desesperados à procura dos outros quatro.
Depois de recortar o anúncio, Yigael ligou imediatamente para o aeroporto, exigindo uma
passagem no próximo vôo para os Estados Unidos. Jamais fizera uma viagem sentindo-se tão
ansioso; Aquelas horas de vôo pareciam-lhe uma eternidade.
Ao desembarcar, dirigiu-se imediatamente ao endereço indicado no anúncio. Chegando ao
local, viu que várias pessoas, atraídas pelo anúncio, faziam uma grande fila para conhecerem os tais
rolos. Seria uma loucura permitir que elas entrassem antes dele, por isso, encaminhando-se para
junto da porta, colocou-se como o primeiro da fila. Alguns começaram a reclamar, mas ele, tocando
na porta, desculpou-se, afirmando ser amigo de Athanasius.
Ao ouvir os toques na porta, Athanasios, que mostrava a um possível comprador os
pergaminhos, foi ver quem era. Sem saber que tinha diante de si o General do Exército Israelense,
Athanasios foi rude, mandando-o esperar pela sua vez. Isto o fez passar vergonha diante das pessoas,
a quem havia afirmado há pouco ser amigo daquele homem. Começaram então fortes protestos e,
alguns se adiantaram querendo tirá-lo a força de seu primeiro lugar na fila. Nesse momento, Yigael,
que não queria revelar sua identidade, vociferou com fúria, mostrando sua alta patente confirmada
por uma credencial que ergueu aos olhos de todos. Esse gesto fez com que o sentimento de
humilhação e vergonha se transferisse para aqueles que o afrontaram.
Ao chegar a sua vez, Yigael, sem se identificar, perguntou para Athanasios o valor que ele
esperava receber pelos rolos. Não querendo ainda lhe dar o preço, convidou-o a ver os pergaminhos.
Yigael, ressentido pelo tratamento que havia recebido, disse secamente que não estava ali movido
pela curiosidade, querendo simplesmente admirar-se ante aqueles rolos; Estava ali para comprá-los.
Assim, para não perderem tempo, gostaria de saber o quanto pagaria por eles.
Athanasios que, dominado pelo desânimo, estava a ponto de vendê-los por qualquer preço que
cobrisse suas despesas de viagem, abaixou, a cabeça e meditou: Se conseguisse vendê-los por $ 5.000
já estaria bom; Mas não lhe custaria pedir mais: quem sabe dez vezes mais, $ 50.000; Ou mesmo
cinqüenta vezes cinco. Seus lábios então pronunciaram o preço de $ 250.000.
Prontamente, Yigael tomou seu talão e preencheu um cheque de 250.000 dólares. Ele o faria
com a mesma determinação, ainda que o processo multiplicador continuasse na mente do ancião em
dezenas de outras operações.
Ao conferir no cheque o valor daquela fortuna, Athanasios ficou possuído por um sentimento
misto de alegria e vergonha, pois o mesmo continha a assinatura do Chefe do Estado-Maior do
Exército Israelense, a quem pouco antes tratara com estupidez.
Quando a porta novamente se abriu, a fila de curiosos foi aniquilada pelos passos daquele que
já havia sido herói de muitas batalhas, e que conduzia, sob os poderosos braços, os rolos da Gruta 1, a
sua maior conquista. Agora, os sete rolos eram propriedade do Estado de Israel, que desfrutava seus
primeiros anos de independência, depois de um desterro de milênios.
Ao serem os sete rolos cuidadosamente analisados por eruditos em Israel, comprovou-se que se
tratavam dos mais antigos manuscritos já descobertos pelo homem, datados de tempos anteriores aos
dias de Cristo. Um dos rolos, o mais conservado dos sete, apresentava uma cópia do livro de Isaías
que, ao ser comparado com as cópias modernas, trouxe a certeza de que não houve nesses dois
milênios nenhuma alteração de sua mensagem profética.
Os demais manuscritos, também de grande importância, são: O Manuscrito de Lameque,
conhecido como O Apócrifo de Gênesis, que apresenta um relato ampliado do Gênesis; A Regra da
Guerra, que descreve a grande batalha final entre os filhos da luz e os filhos das trevas, sendo os
descendentes das tribos de Levi, Judá e Benjamim retratados como os filhos da luz, e os edomitas,
moabitas, amonitas, filisteus e gregos representados como os filhos das trevas. Há também um
pergaminho com Os Hinos de Ação de Graças (Hodayot), uma seqüência de 33 salmos que eram
cantados, em cultos de adoração ao Criador, o grande Adonai.
O que os Eruditos Encontraram
Dois anos depois da experiência daqueles jovens beduínos, dois arqueólogos, G. L. Harding e
R. De Vaux, auxiliados por quinze habitantes daquela região do Mar Morto, começaram novas
buscas nas proximidades daquela caverna que viria a ser conhecida como Gruta 1. Em dois anos de
incansáveis pesquisas, descobriram as ruínas do Mosteiro de Khirbet Qumran, uma propriedade dos
essênios. Dentre os muitos objetos ali descobertos, encontraram uma sala onde os manuscritos eram
preparados, ao qual deram o nome de scriptorium. Foram encontrados naquela sala dois tinteiros,
ambos contendo restos de tinta de carvão do tipo usado nos pergaminhos. Encontraram também uma
escrivaninha, ao lado da qual havia concavidades que, possivelmente, eram usadas para armazenar
água limpa, com a qual o piedoso escriba purificava as suas mãos, ao iniciar as cópias das Sagradas
Escrituras, ou mesmo antes de escrever o nome divino.
Um grande terremoto, ocorrido no ano de 31 a.C., trouxe muitos danos ao Mosteiro de Khirbet
Qumran, exigindo a reconstrução de alguns de seus compartimentos. Em 68 AD, com o avanço da
Décima Legião Romana, comandada por Vespasiano, o Mosteiro foi completamente destruído, e a
maior parte de seus ocupantes mortos ou levados cativos. Existem muitos indícios de que tenha sido
por esta ocasião que os essênios, no intuito de preservar seus preciosos rolos, esconderam-nos nas
cavernas.
As Grutas 2 a 10
Enquanto os arqueólogos prosseguiam as escavações das ruínas do Mosteiro Essênio, alguns
beduínos, incentivados pelas descobertas da Gruta 1, empreenderam-se em incansáveis buscas,
vasculhando toda aquela região montanhosa do Mar Morto em busca de novos vasos.
No mês de fevereiro de 1952, descobriram finalmente, ao sul da Gruta 1, a Gruta 2, na qual
encontraram partes de dezessete manuscritos bíblicos e uma porção maior de manuscritos nãobíblicos.
Ao todo, eram 187 fragmentos.
Com a descoberta da Gruta 2, a atenção dos arqueólogos e de todos aqueles pesquisadores do
Mar Morto, voltou-se para as cavernas. Deixando as escavações daquele Mosteiro, iniciaram uma
exploração sistemática em toda a área de Qumran. Um mês depois, no dia 14 de março, encontraram
a Gruta 3. Além de centenas de fragmentos de outros manuscritos, encontraram nesta caverna um
documento muito especial: eram três folhas de cobre muito fino, cada qual medindo 0,30 m por 0,80
m. Examinando aquelas lâminas de cobre, descobriram que compunham originalmente um único
rolo, pois suas extremidades traziam as marcas de seu ligamento. O estudo posterior deste documento
revelou-se de grande importância, pois trazia detalhadas informações sobre as demais grutas que
continham documentos e tesouros.
À medida que novas grutas eram descobertas, novos documentos vinham à luz, fazendo crescer
o interesse pelo assunto que passou a ser amplamente divulgado pelos jornais e revistas, criando um
clima de grande expectativa. Tudo era tão fantástico que até mesmo pessoas incrédulas começaram a
pressentir naquelas descobertas algo miraculoso, como se um poder sobrenatural houvesse reservado,
nas entranhas daquelas rochas, uma mensagem para um mundo que, somente naquela metade de
século, havia experimentado os horrores de duas grandes guerras, que pareciam prenunciar o fim do
mundo, como retratado em muitos daqueles manuscritos.
Depois da descoberta da Gruta 6, em setembro de 1952, as buscas foram intensificadas, não
trazendo, contudo, nenhuma nova descoberta por um período de quase três anos. Na manhã do dia 2
de fevereiro de 1955, quando, vencidos pelo desânimo, estavam a ponto de suspenderem as buscas,
foram agraciados pela descoberta da Gruta 7. Ainda que os documentos encontrados nessa caverna se
mostrassem muito danificados, os arqueólogos sentiram-se renovados em seu ânimo de
prosseguirem com as procuras, certos de que teriam novas recompensas. Esta perspectiva não foi
frustrada, pois entre os dias 2 de fevereiro e 6 de abril de 1955, haviam sido agraciados com os
tesouros das Grutas 7, 8, 9 e 10. Com todo esse sucesso, intensificaram ainda mais as buscas, porém
sem nenhum resultado.

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