segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Alquimia do Amor - Depressão, Cura e Espiritualidade, de Adenáuer Novaes

TRECHO:
O mundo íntimo do ser humano é uma grande incógnita,
somente decifrável através de seus efeitos, pois não é dado penetrar
em sua essência real. A mente não se vê a si mesma. Na intimidade
de cada criatura ocorrem incríveis fenômenos alquímicos, cuja
compreensão só se dá através de representações e símbolos que
permeiam a cultura, as artes e o saber humanos.
Combinações químicas, impulsos nervosos e estímulos
aferentes se associam às emoções, aos pensamentos, às idéias,
aos desejos e à vontade, numa fantástica alquimia interna,
promovendo a vida humana. Quando um desses fatores não se
encontra em sincronia com os demais, ocorre a doença. Essa
combinação de elementos internos na psiquê humana é promovida
pela energia psíquica, que proporciona o movimento na direção
da atitude. Quando esse movimento é muito intenso na direção
de conteúdos internos, próprios e aversivos, é sinal que a
depressão está a caminho.
Em seu interior pulsa a energia da vida, criada num ínfimo de
tempo que o Criador dedicou à singularidade humana. Em seu mundo
íntimo, jaz algo inacessível e impenetrável ao mais arguto olhar. Ali,
Deus estabeleceu sua morada e seu ponto de apoio para a
construção da personalidade integral que se quer ser. O ser humano
é resultante do produto da união do amor de Deus com o desejo
de existir e ser feliz. Nada poderá obstaculizar a senda progressiva
da alma humana na direção de si mesmo e de sua própria felicidade.
O encontro com Deus, em si mesmo, selará sua vitória definitiva,
alcançando a perfeição para a qual foi destinada.
A vida é um processo alquímico constante, no qual a inércia
inexiste. A estabilidade é movimento. O propósito é a realização
do si mesmo, cujo fluxo é para o mundo íntimo, porém a forma é
atuando na vida externa. O movimento é no duplo sentido, isto é,
para dentro e para fora simultaneamente.
Alquimia é mistura profunda, densa e essencial, na tentativa
de alcançar algo puro. Ocorre na intimidade das coisas, assim
como na profundidade da mente humana. No coração, os
sentimentos se misturam na tentativa do encontro final e definitivo
com aquilo que possa trazer plenitude. A vida humana apresenta
uma série imensa de processos alquímicos, nos quais se misturam
emoções, pensamentos e sentimentos que não pertencem à própria
pessoa que a vive. Quando não se misturam os elementos
adequados e nas proporções ótimas, a vida tenta corrigir,
oferecendo avisos. Um deles é o adoecer. Na depressão, a
alquimia ocorre entre a consciência e o inconsciente, para que o
equilíbrio do sistema se recomponha adequadamente.
Depressão é desconexão do indivíduo com seu eu maduro.
É um desligamento psicológico com o mundo e com a afetividade.
Ela sempre estará mostrando o quão insatisfeito o espírito está
consigo mesmo, porém sem coragem para mudar. Nela o espírito
cria um sistema psíquico no qual pretende viver, que se mostra
impraticável e sem saída. Recuar, mudando seu sistema, parecelhe
impossível e vergonhoso, restando-lhe, inconsequentemente,
permanecer à espera de que algo mude externamente.
A depressão é um estado psíquico estritamente psicológico,
decorrente de fatores endógenos e espirituais, no qual a consciência
sofre uma perda de energia e o eu sucumbe parcialmente ao
inconsciente.
Todo ser humano tem tendência a entrar em depressão,
pois o contato com o inconsciente, intensificado na depressão, é
fundamental ao processo de transformação da alma.
A depressão possui um núcleo em torno do qual giram os
pensamentos do depressivo. Esse núcleo contém o cerne de seu
problema, pois, por causa dele, a energia psíquica é consumida.
Esse núcleo é o foco do problema, isto é, o motivo principal que
provoca a derrocada do depressivo. Nesse núcleo há uma questão
principal da qual o depressivo tem fugido ou se sente incapaz de
resolver. Esse núcleo é o dragão que o depressivo não quer ou
não sabe enfrentar, sentindo-se impotente diante dele. Em muitos
casos ele é imperceptível e, de tal forma sutil, que a pessoa não
consegue saber a real razão pela qual entrou em depressão.
Lidar com a depressão é o mesmo que entrar em contato
com a falta de vida. É perceber os efeitos danosos que causa a
ausência de esperança. Como psicólogo, ao mesmo tempo em
que desejo contribuir para ser útil àquela pessoa que atendo, tenho
vontade de sacudi-la, para que perceba seu grande equívoco em
fugir da vida. São mortas vivas, contrariam a lógica da existência,
que é viver, pois não existe o contrário. Não existe a não vida,
pois a morte não a cessa.
Neste livro analiso de forma mais profunda a depressão,
sobretudo em mulheres e, muito embora também ocorra nos
homens, é mais comum na mulher, talvez pela riqueza de sua vida
emocional, mais suscetível aos sentimentos. O homem naturalmente
está mais exposto ao mundo racional externo, e a mulher ao mundo
emocional interno.

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