Pedi à prof. Manuela Caeiro que reflectisse sobre a TLEBS, visto considerar importante o testemunho de alguém que, como ela, sente os problemas do ensino da língua no dia-a-dia da sala de aula. Aqui fica o seu contributo.
«Ainda... a Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário
(...a famosa TLEBS!...)
Respondo ao pedido da Andreia para explicitar a minha opinião sobre a TLEBS, dado eu ser professora de Língua Portuguesa de 5º e 6º anos.
Venho, pois, nessa qualidade, dar uma opinião pessoal.
Saúdo a decisão da Senhora Ministra de Educação por ter suspendido, ainda que temporariamente, a generalização da experiência da TLEBS. Uma decisão louvável, embora tardia.
O que fora anunciado como experimentação pedagógica parecia instalar-se já como uma realidade permanente e imutável.
Em muitas escolas, os professores de Língua Portuguesa, tentando cumprir o calendário imposto, leccionavam este ano a nova terminologia gramatical, alguns com bom senso... outros talvez não.
Em outros tantos estabelecimentos de ensino, assumiu-se a decisão de adiar a experiência, fundamentando essa posição. Foi o caso da escola em que lecciono: a E.B 2.3 Comandante Conceição e Silva, na Cova da Piedade.
A nosso ver, não estavam reunidas as necessárias condições para tal: não haviam sido definidos os termos a introduzir em cada ano de escolaridade; os manuais dos alunos, adoptados há dois anos (e ainda em vigor por mais dois anos) contêm a terminologia da gramática tradicional; o site oficial da TLEBS era alvo de permanente correcção e actualização e, consequentemente, os materiais de apoio, tais como gramáticas e dicionários, entretanto publicados, não eram inteiramente fiáveis; os professores não se sentiam seguros...
A adopção de uma nova terminologia gramatical não pode, efectivamente, ser entregue ao critério de professores e escolas ou de autores de manuais e editoras, tanto mais porque haverá exames nacionais. Não restam, pois, dúvidas de que caberá ao Ministério de Educação definir claramente a matéria a cumprir em cada ano de escolaridade. Sem este trabalho preparatório, a experiência não poderá ter lugar.
Considero também que uma qualquer experiência deve ser alargada gradualmente. Não se pode esperar que alunos de 5º, 7º ou 10º anos, com matérias progressivamente mais complexas, ignorem o que aprenderam até então e alterem a terminologia a usar, apenas porque “...agora já não se chama assim...”. Geram-se confusões e resistências, as quais implicam desperdício de tempo.
A formação de professores está longe de ter abrangido todos os docentes de Língua Portuguesa ou mesmo apenas parte dos docentes de todas as escolas. E a nova terminologia implica alterações profundas na nomenclatura a utilizar, nomeadamente em relação à formação de palavras; Morfologia e Classe de Palavras (coisas diferentes!...); Sintaxe;... o que exige estudo e reflexão. A insegurança era visível mesmo em professores que ministraram acções de formação... Fiz uma e sou disso testemunha!
Esta “nova gramática” implica um grau de abstracção que, na minha opinião, os nossos alunos mais jovens, seguramente, não têm. Parece-me imprescindível que, neste caso específico, os especialistas em Ciências da Educação cooperem, em equipas multidisciplinares, e ajudem a definir o que é oportuno, nas diferentes fases etárias.
A Linguística é uma importante Ciência que terá necessariamente de evoluir, como qualquer outra. Mas não queiramos repetir o erro de pretender ensinar, no Ensino Básico, conceitos de novas correntes linguísticas, em estudo no Ensino Superior. Muitos se lembrarão ainda da má experiência da Linguística Generativa...
E como poderemos nós conceber que sejam utilizadas diferentes terminologias gramaticais no ensino da Língua Materna e no da Língua Estrangeira? (Sim porque, em Língua Estrangeira, a nomenclatura a utilizar continuará a ser a da gramática tradicional.)
A nova terminologia poderá ser um meio de linguistas alcançarem notoriedade ou uma oportunidade de negócio para editoras, mas o eventual sucesso da sua implementação terá de ser medido pelo seu contributo para a melhoria das competências da leitura e escrita dos discentes. Creio que o ensino/aprendizagem de qualquer gramática só faz sentido se assim for. E não antevejo que esta nova terminologia contribua significativamente para esse fim.
Será imprescindível reflectir se bastará suspender temporariamente a implementação da TLEBS.
Que impere o bom senso. A bem da Língua Portuguesa.
Cova da Piedade, 12 de Fevereiro de 2007
Maria Manuela R. A. Martins Caeiro»
(...a famosa TLEBS!...)
Respondo ao pedido da Andreia para explicitar a minha opinião sobre a TLEBS, dado eu ser professora de Língua Portuguesa de 5º e 6º anos.
Venho, pois, nessa qualidade, dar uma opinião pessoal.
Saúdo a decisão da Senhora Ministra de Educação por ter suspendido, ainda que temporariamente, a generalização da experiência da TLEBS. Uma decisão louvável, embora tardia.
O que fora anunciado como experimentação pedagógica parecia instalar-se já como uma realidade permanente e imutável.
Em muitas escolas, os professores de Língua Portuguesa, tentando cumprir o calendário imposto, leccionavam este ano a nova terminologia gramatical, alguns com bom senso... outros talvez não.
Em outros tantos estabelecimentos de ensino, assumiu-se a decisão de adiar a experiência, fundamentando essa posição. Foi o caso da escola em que lecciono: a E.B 2.3 Comandante Conceição e Silva, na Cova da Piedade.
A nosso ver, não estavam reunidas as necessárias condições para tal: não haviam sido definidos os termos a introduzir em cada ano de escolaridade; os manuais dos alunos, adoptados há dois anos (e ainda em vigor por mais dois anos) contêm a terminologia da gramática tradicional; o site oficial da TLEBS era alvo de permanente correcção e actualização e, consequentemente, os materiais de apoio, tais como gramáticas e dicionários, entretanto publicados, não eram inteiramente fiáveis; os professores não se sentiam seguros...
A adopção de uma nova terminologia gramatical não pode, efectivamente, ser entregue ao critério de professores e escolas ou de autores de manuais e editoras, tanto mais porque haverá exames nacionais. Não restam, pois, dúvidas de que caberá ao Ministério de Educação definir claramente a matéria a cumprir em cada ano de escolaridade. Sem este trabalho preparatório, a experiência não poderá ter lugar.
Considero também que uma qualquer experiência deve ser alargada gradualmente. Não se pode esperar que alunos de 5º, 7º ou 10º anos, com matérias progressivamente mais complexas, ignorem o que aprenderam até então e alterem a terminologia a usar, apenas porque “...agora já não se chama assim...”. Geram-se confusões e resistências, as quais implicam desperdício de tempo.
A formação de professores está longe de ter abrangido todos os docentes de Língua Portuguesa ou mesmo apenas parte dos docentes de todas as escolas. E a nova terminologia implica alterações profundas na nomenclatura a utilizar, nomeadamente em relação à formação de palavras; Morfologia e Classe de Palavras (coisas diferentes!...); Sintaxe;... o que exige estudo e reflexão. A insegurança era visível mesmo em professores que ministraram acções de formação... Fiz uma e sou disso testemunha!
Esta “nova gramática” implica um grau de abstracção que, na minha opinião, os nossos alunos mais jovens, seguramente, não têm. Parece-me imprescindível que, neste caso específico, os especialistas em Ciências da Educação cooperem, em equipas multidisciplinares, e ajudem a definir o que é oportuno, nas diferentes fases etárias.
A Linguística é uma importante Ciência que terá necessariamente de evoluir, como qualquer outra. Mas não queiramos repetir o erro de pretender ensinar, no Ensino Básico, conceitos de novas correntes linguísticas, em estudo no Ensino Superior. Muitos se lembrarão ainda da má experiência da Linguística Generativa...
E como poderemos nós conceber que sejam utilizadas diferentes terminologias gramaticais no ensino da Língua Materna e no da Língua Estrangeira? (Sim porque, em Língua Estrangeira, a nomenclatura a utilizar continuará a ser a da gramática tradicional.)
A nova terminologia poderá ser um meio de linguistas alcançarem notoriedade ou uma oportunidade de negócio para editoras, mas o eventual sucesso da sua implementação terá de ser medido pelo seu contributo para a melhoria das competências da leitura e escrita dos discentes. Creio que o ensino/aprendizagem de qualquer gramática só faz sentido se assim for. E não antevejo que esta nova terminologia contribua significativamente para esse fim.
Será imprescindível reflectir se bastará suspender temporariamente a implementação da TLEBS.
Que impere o bom senso. A bem da Língua Portuguesa.
Cova da Piedade, 12 de Fevereiro de 2007
Maria Manuela R. A. Martins Caeiro»
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