«A revolução do texto electrónico será também ela uma revolução da leitura. Ler num ecrã não será como ler num codex. Mesmo abrindo novas e inúmeras possibilidades, a representação electrónica dos textos altera completamente a sua condição: à materialidade do livro substitui a imaterialidade de textos sem lugar próprio; às relações de contiguidade, estabelecidas no objecto impresso, opõe a livre composição de fragmentos indefinidamente manipuláveis; à apreensão imediata da totalidade da obra, tornada visível pelo objecto que a contém, faz suceder a navegação de longo curso por arquipélagos textuais sem margens nem limites. Essas mutações comandam, inevitavelmente, imperativamente, novas maneiras de ler, novas relações com a escrita, novas técnicas intelectuais. Se as anteriores revoluções da leitura aconteceram sem que se alterassem as estruturas fundamentais do livro, o mesmo não acontece no nosso mundo presente.»
Roger Chartier, A Ordem dos Livros, Vega, p. 142
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