sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Sabedoria de Sri Aurobindo (Seleção de seus escritos)

O ensinamento de Sri Aurobindo origina-se daquele dos antigos sábios da índia, no qual, por trás das aparências do universo, existe a Realidade de um Ser e Consciência, um Eu de todas as coisas, uno e eterno. Todos os seres estão unidos àquele único Eu e Espírito, mas divididos por uma certa separatividade de consciência, uma ignorância de seu verdadeiro Eu e Realidade na mente, vida e corpo. É possível, por uma certa disciplina psicológica, remover este véu de consciência separativa e tornar-se consciente do verdadeiro Eu, a Divindade dentro de nós. O ensinamento de Sri Aurobindo declara que este único Ser e Consciência está envolvido aqui na Matéria. Evolução é o método pelo qual Ele se liberta; a consciência surge no que parece inconsciente, e uma vez tendo aparecido, é auto impelida para se elevar cada vez mais alto e ao mesmo tempo ampliar-se e desenvolver-se para atingir uma perfeição cada vez maior. A vida é o primeiro passo desta libertação de consciência; a mente é o segundo. Mas a evolução não termina com a mente; ela espera uma libertação em algo maior, uma consciência que é espiritual e supramental. O próximo passo da evolução deve ser em direção ao desenvolvimento da Supermente e Espírito como o poder dominante do ser consciente. Só então a Divindade envolvida nas coisas libertar-se-á inteiramente e será possível à vida manifestar perfeição.
Mas enquanto os passos precedentes na vida vegetal e animal eram tomados pela Natureza sem a vontade consciente, no homem, a Natureza torna-se capaz de evolver por uma vontade consciente no instrumento. Não é, contudo, pela vontade mental no homem que isso pode ser inteiramente feito, porque a mente só alcança um certo ponto e depois disso pode apenas se mover em círculos. Deve ser feita uma conversão, uma mudança de direção de consciência, peIa qual a mente tenha que se transformar no princípio mais alto. Este método é para ser encontrado através da antiga disciplina e prática psicológica de Yoga. No passado, isso foi tentado por um afastamento do mundo e um desaparecimento nas alturas do Eu ou Espírito. Sri Aurobindo ensina que é possível uma descida do princípio mais alto, que não meramente libertará o Eu espiritual além do mundo, mas o libertará no mundo, substituindo a ignorância da mente, ou seu mui limitado conhecimento, pela Verdade-Consciência supramental, que será um instrumento adequado do Eu interior e possibilitará ao ser humano se encontrar, tanto dinâmica como interiormente e excedendo sua humanidade ainda animal, florescer em uma raça mais divina. A disciplina psicológica do Yoga pode ser usada para este fim, pela abertura de todas as partes do ser a uma conversão ou transformação, através da descida e trabalho do mais alto princípio supramental ainda veIado.
Isso, contudo, não pode ser feito de uma vez ou em pouco tempo ou por qualquer transformação rápida ou miraculosa. Muitos passos devem ser dados por aquele que busca, antes que a descida supramental seja possível. O homem vive a maior parte do tempo em sua mente, vida e corpo de superfície, mas existe um ser interior dentro dele com maiores possibilidades, para o qual ele tem que despertar - porque é apenas uma influência muito restrita deste ser interior que ele recebe agora e é ela que o impele a uma constante busca de beleza, poder e conhecimento. O primeiro processo do Yoga é, portanto, abrir as dimensões deste ser interior e viver de lá para fora, governando sua vida exterior por uma luz e força interiores. Assim fazendo, ele descobre em si sua verdadeira alma, que não é esta mistura exterior de elementos mentais, vitais e físicos, mas algo da Realidade por trás deles, uma faísca do único Fogo Divino. Ele tem que aprender a viver em sua alma e purificar e orientar, por seu impulso em direção à Verdade, o resto da natureza. Pode-se seguir posteriormente uma abertura para cima e uma descida do princípio mais alto do Ser. Mas mesmo então, não é imediatamente a plena Luz e Força supramentais. Pois há várias gradações de consciência entre a mente humana comum e a Verdade-Consciência supramental. Estas gradações interferentes têm que ser abertas e seu poder trazido para baixo, para dentro da mente, vida e corpo. Somente depois é que o pleno poder da Verdade-Consciência pode trabalhar na natureza. O processo desta auto-disciplina ou Sadhana é portanto longo e difícil, mas mesmo um pouco disso significa ganhar muito, porque torna mais possível a libertação e perfeição últimas.
Há muitas coisas pertencentes a sistemas mais antigos que são necessárias no caminho: uma abertura da mente para uma ampliação maior e em direção ao sentido do Eu e do Infinito, uma emergência para dentro do que foi chamado a consciência cósmica, domínio dos desejos e paixões. Um ascetismo exterior não é essencial, mas a conquista do desejo, apego e um controle sobre o corpo e suas necessidades, ambições e instintos são indispensáveis. Há uma combinação dos princípios de antigos sistemas: o caminho do conhecimento através do discernimento entre a Realidade e a aparência, o caminho da devoção, amor e entrega e o caminho dos trabalhos, desviando a vontade de motivos de interesse próprio, voltando-se para a Verdade e o serviço de uma Realidade maior que o ego. Pois o ser inteiro tem que ser treinado para que possa responder e ser transformado quando a estas Luz e Força maiores for possível trabalhar na natureza.
Nesta disciplina, a inspiração do Mestre, e nos estágios difíceis, seu controle e sua presença, são indispensáveis - pois, de outro modo, seria impossível atravessá-la sem muito tropeço e erro, que impediriam toda chance de sucesso. O Mestre é aquele que se elevou a uma consciência e ser mais altos e é freqüentemente considerado como sua manifestação ou representante. Ele não apenas ajuda por seu ensinamento e, mais ainda, por sua influência e exemplo, como também por um poder de comunicar sua própria experiência aos outros.
Este é o ensinamento e método de prática de Sri Aurobindo. Não é seu objetivo desenvolver nenhuma religião ou amalgamar religiões mais antigas ou fundar alguma nova religião - pois qualquer destas coisas desviariam de seu propósito central. O único objetivo do seu Yoga é um autodesenvolvimento interior pelo qual cada um que o seguir possa, com o tempo, descobrir o único Eu em tudo e evolver uma consciência mais alta que a mental, uma consciência espiritual e supramental, que transformará e divinizará a natureza humana.


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