terça-feira, 21 de agosto de 2007

O caminho do meio - Compilação de textos Budistas

A verdade do sofrimento (duhkha)
Como nós sabemos, a vida é repleta de sofrimentos: o sofrimento do nascimento, o sofrimento da
velhice, o sofrimento da doença, o sofrimento da morte. Há também o sofrimento da perda de
entes queridos, o sofrimento de estar junto de algo que não se gosta, o sofrimento de não conseguir
o que se deseja, o sofrimento de perder suas conquistas...
Todos os seres estão sujeitos à tristeza, à lamentação, à dor, ao desespero, aos problemas...
Buddha não negou a existência de felicidade mundana, mas reconheceu que essas felicidades são
impermanentes.
Quando falamos da natureza insatisfatória da existência, é preciso entender que isso se insere no
contexto do caminho buddhista com um todo. Essas reflexões precisam ser compreendidas no seu
contexto adequado, que é dentro das coordenadas do caminho buddhista. Se não se tiver essa visão
do sofrimento dentro do seu contexto adequado, concordo que existe um perigo, ou mesmo uma
probabilidade, de que esse tipo de abordagem seja considerado equivocadamente como bastante
pessimista e negativo. Conseqüentemente, é importante compreender a postura básica do
buddhismo diante de toda a questão do sofrimento. Isso nós encontramos nos próprios
ensinamentos públicos do Buddha. O primeiro ponto que ele ensinou foi o princípio das quatro
nobres verdades, a primeira das quais é a Verdade do Sofrimento. E nesse princípio, dá-se muita
ênfase à conscientização da natureza sofredora da nossa existência.
Reconhecer claramente o sofrimento é o primeiro passo para se encontrar uma saída; é também
um remédio para todas as nossas falsas esperanças e nossa tendência de buscar apoio em prazeres
efêmeros que resultam em decepção. O noticiário da televisão é suficiente para que nos deparemos
com o imenso sofrimento; basta refletir sobre os acontecimentos dolorosos na vida daqueles que
nos cercam, ou explorar as constantes correntes por debaixo de nossos próprios problemas, para
podermos confirmar que a tristeza e o sofrimento permeiam toda a existência. Tal reconhecimento
pode nos devastar e nos esgotar. Perguntamo-nos então como foi que isso veio a acontecer, sem de
fato esperar uma resposta. Os ensinamentos buddhistas, porém, são claros quanto a esta questão.
O sofrimento, em suas inúmeras manifestações, tem uma única fonte: a desilusão da mente
dualista.
Há três tipos de sofrimento. O primeiro é o sofrimento que se sobrepõe ao sofrimento. Uma coisa
ruim acontece em cima da outra, e parece não haver justiça alguma no processo. Quando você
pensa que a situação em que está não pode ficar pior, ela fica. Você perde dinheiro, depois um
parente, depois a juventude — há inúmeras maneiras pelas quais sofremos. O segundo tipo é o
sofrimento da mudança. Nada é confiável ou consistente. Por maior que seja a nossa esperança de
ter uma base sólida sobre a qual podemos nos apoiar, tudo aquilo com que contamos sempre se
corrói, criando grande dor. O terceiro é o sofrimento que tudo permeia. Da mesma forma que,
quando você espreme uma semente de gergelim, constata que ela está permeada de óleo, pode
parecer que a nossa vida seja feliz, mas, quando somos espremidos, sofremos. Tão certo quanto o
fato de que nascemos é o fato de que iremos ficar doentes, envelhecer e morrer.
Pensar que podemos encontrar algum prazer duradouro e evitar a dor é o que o buddhismo chama
de samsara, o ciclo inútil que gira e gira, infinitamente, e nos causa tanto sofrimento. A primeira
nobre verdade que o Buddha nos apresenta chama nossa atenção para o fato de o sofrimento ser
inevitável para nós, seres humanos, enquanto acreditamos que as coisas permanecem — que não
desintegram e que podemos contar com elas para satisfazer nossa ânsia de segurança. Sob esse
ponto de vista, o único momento em que realmente sabemos o que está acontecendo é quando nos
puxam o tapete e não encontramos nenhum apoio. Podemos utilizar situações desse tipo para
despertar ou escolher dormir. Exatamente ali — precisamente no momento em que ocorre a
experiência de faltar o chão — encontram-se as sementes que nos levarão a cuidar daqueles que
precisam de nós e a descobrir nossa própria bondade.

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