Introdução
José Castellani
Esta é uma História de apenas 30 (trinta) anos da Maçonaria brasileira, em relação à atuação político-social de
muitos de seus componentes, numa época agitada e de grandes transformações sociais. Foram trinta anos --- de
1860 a 1890 --- em que diversos acontecimentos importantes e inclusive modificadores de toda a estrutura social
brasileira, ocorreram, concomitantemente, ou em rápida seqüência.
Era a época em que os maçons brasileiros, nas Lojas, na imprensa, ou na tribuna, já vinham se preocupando com
a grave questão da escravatura no Brasil e, em seqüência, com a hipótese de um terceiro reinado, o qual poderia
dar sobrevida a um sistema, que já se esgotara e que vinha sendo rejeitado em muitas partes do mundo. E, ao
mesmo tempo em que se desenrolavam os dois movimentos --- abolicionista e republicano --- ocorria a questão
religiosa brasileira, que teria uma certa influência no incremento do movimento republicano, por ter indisposto o
alto clero com o imperador.
Na época do início desta História, o Grande Oriente do Brasil, matriz da Maçonaria brasileira --- fundado a
17 de junho de 1822 --- era a única Obediência maçônica do país, mas viria, logo, a sofrer uma dissidência, que
duraria vinte anos, promovida, exatamente, por um dos maiores líderes republicanos. Isso não significava,
todavia, um enfraquecimento dos movimentos, que, então, começavam a empolgar os maçons de ponta, porque
sua atividade independia das tricas políticas internas. Por isso, ao mesmo tempo em que são mostrados os passos
e as atividades dos maçons, na campanha republicana, é também abordada a situação interna da Maçonaria
brasileira --- com base em documentos e em depoimentos fidedignos --- numa época em que, sem embargo de
suas lutas intestinas, ela agrupava muitos dos melhores homens do país, sob sua bandeira social.
O que é importante destacar é que, conforme mostra uma farta documentação, só agora resgatada, o Grande
Oriente do Brasil, como instituição, não participou das campanhas da abolição da escravatura e da implantação
da República. Essa participação foi de Lojas e de maçons, que se empenharam em ambas as campanhas, sob a
égide e os princípios da instituição, mas sem que esta tomasse, oficialmente, partido, como acontecera em 1822,
por ocasião da independência do Brasil.
Trata-se assim, esta sintética obra, de uma pequena contribuição para a História real e documentada da
Maçonaria brasileira, numa época de importantes transformações sociais no país. A História da Maçonaria
brasileira tem sido mistificada e romanceada há algumas décadas, por autores simplesmente ufanos, sem base
documental e sem a imparcialidade do honesto pesquisador, fazendo com que ela fosse tratada com desdém e até
de maneira jocosa nos meios acadêmicos brasileiros, com grandes prejuízos para a sua divulgação e para o
conhecimento de suas reais e sempre perseguidas finalidades. Só de alguns anos para cá é que a realidade
histórica da maçonaria brasileira tem vindo à tona, sem maquiagem, sem arroubos tendenciosos, sem invenções
ufanistas, que destacam fatos positivos e varrem os negativos para baixo do tapete. E isso graças a poucos, mas
diligentes pesquisadores, que, paulatinamente, vão mudando o modo de pensar dos maçons brasileiros e
despertando, junto à comunidade pensante, a atenção e o respeito à atividade maçônica.
Para que se perpetue dal disposição é que as obras que divulgam as fontes primárias devem ser sempre
disseminadas entre os maçons, para que estes deixem de pensar que a Maçonaria é uma instituição
contemplativa, entregue a elucubrações de ordem ocultista e afastada dos grandes problemas político-sociais do
país. Construtora social, ela tem é que pugnar pelo aperfeiçoamento moral, material e intelectual do Homem e
não pelo atrelamento de sua mente a conceitos fantásticos de pretensos gurus, cujos pés se encontram na
estratosfera e cuja cabeça alcança o espaço sideral, talvez para equiparar o vácuo interno ao externo.
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