sábado, 13 de setembro de 2008

Filosofia e Espiritualidade - Uma abordagem psicológica, de Adenáuer Novaes

TRECHO:
Introdução
Este é um livro especialmente escrito buscando uma análise
filosófica, psicológica e espiritual a respeito da vida e do psiquismo
humano. É fruto de idéias que estavam no inconsciente do autor,
exigindo o momento adequado para vir à consciência. O momento
se deu quando reflexões psicológicas novas se uniram à perspectiva
espiritual de enxergar a vida. O leitor encontrará uma visão
tríplice de entender os fatos e idéias que preponderaram na história
do pensamento humano. Notará, em alguns parágrafos, pura especulação
filosófica; em outros, considerações subjetivas psicológicas
e, na maioria deles, assertivas de natureza espiritual. Poderá
parecer confuso, porém espero evitar tal ocorrência. O assunto é
um tanto árido e bastante subjetivo, mas tentarei impedir que haja
um entendimento equivocado ou inadequado.
Não pretendi, ao escrever este livro, unir a filosofia à
psicologia e ao espiritismo, mas tão somente apresentar considerações
sobre alguns temas da vida sob perspectivas filosóficas,
psicológicas e espíritas, por conta de minha formação acadêmica
e de meus estudos do espiritismo. Não se trata de escrever sobre
a filosofia, sobre a psicologia ou sobre o espiritismo, enquanto
áreas do conhecimento, mas tão somente analisar algumas idéias
à luz de tais saberes. Portanto, este não é um livro sobre filosofias,
filósofos, psicólogos ou psicologias. É um livro sobre idéias. Não
analisarei as pessoas, nem a totalidade de suas idéias, mas apenas
aquelas que resultam numa compreensão diferente a respeito da
realidade atual. Idéias que foram canalizadas pelos filósofos e deles
receberam o colorido de suas personalidades. Desse modo,
entendo que conceitos, idéias e pensamentos são eivados pelas
emoções que circulam na mente humana. Recebem a contribuição
da consciência e do inconsciente de quem as expõe, sendo então
idéias individuais e coletivas ao mesmo tempo.
Para escrever este livro vali-me dos seguintes autores: Nicola
Abbagnano, Allan Kardec, C. G. Jung, além de outros, em escala
menor. Difícil distinguir se as idéias aqui expostas são oriundas de
meu saber, da interpretação que dei às idéias daqueles autores ou
ainda da inspiração espiritual que sinto ocorrer sempre quando
escrevo. Como nenhum ser humano é uma ilha, creio que tudo o
que produzimos recebe a contribuição de terceiros. Sou então,
desta forma, co-autor.
Em sua evolução, considerada como complexidade consciente
crescente, o ser humano caminha para a autoconsciência.
Ele nasce inconsciente de si mesmo, desenvolve aptidões, trazendo
à consciência o que apreende a partir de suas estruturas inconscientes
(arquétipos). A autoconsciência é a consciência de si e do
mundo. É um processo indubitável no qual não há retrocesso nem
possibilidade de fuga.
A história da evolução do pensamento da humanidade, ou
da filosofia, ou da civilização, passou por diversas fases caracterizadas
por paradigmas diversos nos mais variados campos. As
novas etapas do processo de evolução da sociedade sempre
acumularam o saber das anteriores. A física relativística do Século
XX não destruiu os conceitos da física newtoniana. Ampliou-os,
considerando novos paradigmas. Tal ampliação é continua. Podese
dizer que o conhecimento humano se reestrutura gradativamente,
reformulando antigas hipóteses, as quais são expressas
numa nova linguagem. As bases que formulam novas idéias são
aquelas que antes sustentavam o saber humano, porém compreendidas à luz de novos paradigmas. Não são desprezados antigos
conceitos ou idéias, pois a psiquê que os formula se assenta neles
próprios para a descoberta de outros.
Nesse sentido, o espiritismo se apropria do conhecimento
da humanidade, numa espécie de sincretismo religioso, filosófico,
sociológico e psicológico do saber humano, propondo uma visão
mais ampla, sem se distanciar da época em que foi formulado.
Nele se encontram antigas teses reorganizadas e agrupadas,
visando a compreensão de uma nova idéia ou paradigma. Nesse
sincretismo encontramos também os paradigmas que sustentam
as bases científicas modernas. Por exemplo, a idéia da fé raciocinada
é anterior à sua apresentação pelo espiritismo e já era
aceita na época do lançamento de “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, tendo sido base para a compreensão da realidade
espiritual e dos fenômenos espíritas.
Observei que, embora à primeira vista pareça que os
filósofos e pensadores teriam sido os únicos responsáveis pelas
suas idéias, uma análise mais atenta sobre o conjunto do conhecimento
humano revela que cada um deles dá uma contribuição
específica à compreensão da realidade existencial. É como se
cada um deles fosse um elemento, o qual participasse de um grande
colar cheio de contas preciosas, de cujo brilho ressalta o valor
individual e coletivo.
Qualquer contradição que o leitor encontrar aqui se deve à
não profundidade com que propositadamente tratei de certos
temas, bem como à inexistência de uma revisão bibliográfica mais
completa. Assim procedi por força dos objetivos a que me propus.
Não se trata de uma obra erudita, destinada aos estudiosos e
pensadores. Busco sempre uma linguagem popular sobre aquilo
que escrevo. Portanto solicito a compreensão do leitor ao
considerar que me envolvi ousadamente numa tarefa, ciente do
tamanho do desafio a vencer, tendo por objetivo apenas levar
alguma luz a temas profundos do pensar humano.
Peço que me perdoem os filósofos e pensadores que citei,
caso tenha lhes alterado os pensamentos e idéias, não sendo este
meu propósito. Escrevo de acordo com meu entendimento das
idéias por eles defendidas. Considero que elas passaram a ser
patrimônio universal por tratarem de temas universais e terem sido
divulgadas para a compreensão da própria vida.
Ao me preparar para escrever este trabalho, encontrei, em
minhas leituras, preciosidades em autores antes renegados por
mim, por considerá-los discrepantes em relação às minhas crenças.
Isso me fez rever meu conceito a respeito das idéias alheias. Por
detrás das palavras que tentam expressar conceitos humanos
existem idéias que apontam na direção do divino, por mais
esdrúxulas que elas possam parecer. Tudo que vem do humano é
humano, e o humano é divino. Idéias contrárias às nossas são
complementos do saber.
Meus objetivos contemplam uma maior compreensão a
respeito da evolução do conhecimento humano, bem como do
aparelho psíquico. Creio que a mente humana, ou psiquê, ou ainda,
aparelho psíquico, se estrutura ou se constrói à medida que o
saber se desenvolve. A complexidade crescente da consciência
reflete-se na estrutura psíquica humana. Assim como o corpo
humano se desenvolve com o uso, a exemplo do maior desenvolvimento
do braço mais usado pelo tenista, a mente também se
modifica estruturalmente (energeticamente) com a apreensão do
saber.
Sinto que o velho sábio, em mim, fala mais alto quando
tento esmiuçar temas filosóficos e psicológicos. Parece-me que
retornam conhecimentos adquiridos alhures, em épocas nas quais
o saber era minha grande paixão. A absorção do saber espírita
aguçou-me aquela paixão, ampliando os horizontes do conhecimento
humano. Tento, na medida do possível, passar adiante aquilo
que vou descobrindo. Permita-se, caro leitor, que o seu velho
sábio acorde para o aprendizado do saber espírita. Tenha certeza
de que isso ampliará o alcance de sua própria psiquê.
Por muito tempo se pensou que os campos material e
espiritual da Vida, por se oporem em certos aspectos, deveriam
ser objeto de escolha. Dever-se-ia declarar-se materialista ou
espiritualista. Não se poderia optar por um sem desprezar o outro.
Quem optasse por viver mais declaradamente um deles, receberia
a pecha de materialista ou de espiritualista. Isso estigmatizava
qualquer das escolhas. Uma opção implicava a negação da outra.
Evidente que os materialistas se achavam certos, tanto quanto os
espiritualistas. Agora, à luz do espiritismo, se percebe que ambos
os aspectos são inseparáveis e que devem ser vividos responsavelmente,
de forma integrada. Viver a vida material com seus
desafios e experiências enriquecedoras, colocando nelas o sentido
espiritual, significa possibilidade maior de crescimento do que
renegar a realidade do espírito e a continuidade da existência após
a morte. Da mesma forma, viver consciente da vida espiritual sem
negar a importância e necessidade das experiências materiais,
extraindo delas o aprendizado emocional que contêm, é ter certeza
de conseguir um rico crescimento interior. Vida material e vida
espiritual são campos de realização do Espírito imortal. São
impagáveis, irrepetíveis e singulares as experiências vividas em
cada um dos campos. São experiências contíguas e contínuas,
mas diferentes. Mesmos as sensações de se estar repetindo uma
experiência diferem da real vivência anterior.
O filosofar, compreendendo o alcance da própria psiquê,
tendo como “pano de fundo” a realidade do Espírito imortal, nos
leva a uma ampliação da consciência, bem como à verdadeira
transcendência. A partir daí, a vida ultrapassa os horizontes que
porventura limitem a alma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário