O primeiro romance de Patrick Süskind foi o livro «O Perfume» que imediatamente o celebrizou como autor e que continua a ser um livro de culto para sucessivas camadas de leitores atraídos por uma verdadeira obra-prima de ficção. Nesta novela, o porteiro Jonathan, figura central do livros, que partilha a sua monótona existência entre a mansarda que habita e o banco onde trabalha, vê de um momento para o outro a sua vida abalada quando um pássaro ferido tomba a seus pés. A partir deste "fait-divers", feito do encontro entre um homem e um pássaro ferido, Patrick Süskind constrói uma pequena maravilha.
Começo esta opinião por referir que o escritor alemão Patrick Süskind é o autor de um dos meus livros preferidos de sempre, "Perfume - A História de um Assassino". Posto isto, é normal que tivesse um certo interesse em ler mais coisas escritas por ele. Para além desta obra-prima, o autor conta apenas com alguns pequenos livros (como este "A Pomba"), uma peça e um conjunto de ensaios (também publicado pela Editorial Presença*, com o título "Sobre o Amor e a Morte").
Tenho de confessar que esperava um pouco mais de "A Pomba", independentemente de se tratar de um livro curto - não chega a ter 100 páginas. Tal como n'"O Perfume", também aqui acompanhamos uma personagem sui generis, um homem de meia-idade que vive num quarto alugado há 30 anos, o seu santuário, e que tem o seu repetitivo dia-a-dia planeado ao ínfimo pormenor, repetindo as mesmas acções continuamente. O livro acompanha o dia em que esta vida cuidadosamente planeada sofre uma alteração devido ao aparecimento de uma pomba. Aliás, este acontecimento desencadeia tal perturbação na personagem principal, que o leitor consegue facilmente aperceber-se do nível de estranheza e insanidade da mesma.
A escrita é, como já esperava, muito boa e inteligível. O que me deixou a desejar foi a história; não tanto o desenrolar (apesar de ter desejado que fosse mais desenvolvido), mas o desfecho final. A sensação com que fiquei é que não consegui apreender a mensagem (pressupondo que havia uma). Quando terminei o livro e me perguntei a mim própria o que é que tinha ficado, a resposta que encontrei foi: pouco, para além de uma personagem interessante.
5/10
*Uma pequena nota: porque é que todos os comentários de leitores existentes nas várias páginas de livros da Editorial Presença são favoráveis aos mesmos? Será que as pessoas que não gostam dos livros não se dão ao trabalho de comentar? Ou será que existe algum tipo de censura? Não sei porquê, mas estou mais inclinada para a segunda hipótese...
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