TRECHO:
Em 1460, Cósimo de Médicis mands Marsílio Ficino interromper a
tradução dos manuscritos de Platão e Plotino para iniciar com urgência, a
tradução do Corpus Hermeticum, coletânea de textos formado pelo Asclépios
( onde descreve-se a antiga religião egípcia e e os ritos e processos através
dos quais estes atraiam as forças do Cosmo para as estátuas de seus deuses)
e outros quinze diálogos herméticos tratando de temas como a ascensão da
alma elas esfaras espirituais até o reino divino e a regeneração durante a qual a
alma rompe os grilhões da matéria e torna-se plena de poderes e virtudes
divinas, incluindo o Pimandro que é um relato da Criação do mundo.
Esta tradução, juntamente com as obras de Platão e Plotino, tiveram um
papel fundamental na História Cultural e religiosa do Renascimento, sendo
responsáveis pelo triunfo do neoplatonismo e de um interesse apaixonado pelo
hermetismo em quase toda a Europa. A apoteose do homem, característica do
Humanismo, passou a ter, em diferentes pensadores do período, uma profunda
inspiração na tradição hermética redescoberta assim como no neoplatonismo
para cristão.
Todos os movimentos de vanguarda da Renascença tiraram seu vigor e
impulso de um determinado olhar que lançaram sobre o passado. Ainda
vigorava uma noção de tempo cíclica onde o passado era sempre melhor que o
presente pois lá estava a Idade do Ouro, da Pureza e Bondade. Esta tendência
aponta uma profunda insatisfação com a escolástica e uma aspiração em
encontrar as bases para uma religião universalista, trans-histórica e
primordial/original. O Humanismo Clássico recuperava a Antiguidade Clássica
procurando o ouro puro de uma civilização melhor e mais elevada. Os
reformadores religiosos procuravam a pureza evangélica nos estudos das
Escrituras e os escritos dos pais primitivos da Igreja.
A crença numa prisca theologia e nos velhos velhos teólogos - Moisés,
Zoroastro, Orfeu, Pitágoras, Platão e Hermes Trismegisto - conheceu uma voga
excepcional, assim como a leitura do Antigo Testamento, dos Evangelhos e a
pp. Tradição Clássica. Pensava-se numa aliança possível entre estas antigas e
puras teologias, entre as quais destacava-se o hermetismo (afinal sendo
Hermes o mais antigo dos sábios e diretamente inspirado por Deus pois suas
profecias cumpriram-se com o nascimento de Jesus), para chegar-se a um
universalismo espiritual capaz de restaurar a paz e o entendimento pale
compreensão da “divindade” nos Homens.
Sob esta ótica assistimos a uma intensa recuperação de diversas formas
de gnose, da alquimia e do esoterismo cristão em seus temas fundamentais:
enobrecimento e transmutação dos metais, regeneração do homem e da
natureza a quem serão devolvidas a diginidade e a pureza perdidas com a
Queda, a vitória sobre as doenças, a imoratlidade e felicidade no seio de Deus,
as relações simpáticas entre os seres e as coisas, o acesso a textos ocultos e
revelados a poucos iniciados, astrologia, magia naturallis, etc.
Estamos falando das bases sobre as quais certos pensadores que
marcaram a época construiram suas obras. Estamos falando de Johanes
Augustinus Pantheus, sacerdote veneziano autor de Ars transmutationes
metallicaee, ou ainda do provençal Michel de Nostredame (ou Nostradamus),
médico e alquimista, prottegido de Catarina de Médicis e autor das proféticas
Centurias; de Jerónimo Cardano, médico e matemático perseguido pela
Inquisição e protegido pelo Papa; Juan Tritemio, sacerdote do convento de
Spanheim mas profeta, necromante e mago da corte do Imperador Maximiliano;
até chegarmos ao pansofo Paracelso (Teofrasto Bombast von Hohenheim)
discípulo de Tritemio e buscador da realização sobrenatural. Temos também
Enrique Cornelius Agrippa de Netesheim que publicou em 1510, De Occulta
Philosophia, estudioso da Cabala, magia naturallis, alquimia, angelologia, os
segredos ocultos da natureza e da vida, bem como os esoteristas cristãos
Marsílio Ficino e Pico de la Mirandola ( e a renovação do cabalismo no
Renascimento.
Era possível, para estes pensadores, elaborar uma harmonia entre
gnose, hermetismo, cabala, magia natural e cristianismo. Magia naturallis era
compreendida como a aproximação da Natureza com a religião: estudar a
natureza ( inclusive oculta) das coisas era um caminho para compreender e
chegar a Deus.
E assim chegamos a Giordano Bruno (1548-1600). Natural de Nola, foi
sacerdote dominicano até 1576, quando fugiu do convento, abandonando o
hábito, após ser acusado de heresia. Percorreu a Europa continental (Suiça,
Alemanha, França) e também a Inglaterra ( sob ele pesaram suspeitas de
espionagem). Retornou a Itália, onde foi preso pela Inquisição em 1592, julgado
e executado no Campi dei Fiori em fevereiro de 1600.
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