domingo, 29 de março de 2009

Emília Ferreira | Cartografia Íntima


1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Cartografia Íntima»?
R- Cada livro, para mim, funciona como uma experiência narrativa e reflexiva. Não me considero uma contadora de estórias no sentido mais evidente da tessitura da narrativa, mas sim uma inquiridora que usa as estórias como pretextos para fazer perguntas. "No contexto da obra", no entanto, parece-me ainda prematuro avançar com a importância deste texto, porque acho que ainda não tenho "Obra". Tenho algumas obras, o que é muito diferente. Talvez daqui a dez anos possa ter uma ideia do que isso significa.

2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Este livro — que faz parte de um conjunto de cinco — levanta questões sobre o tempo, o que ele inscreve em nós. Num período histórico como o nosso em que queremos tantas vezes parecer mais novos do que somos, em que a morte é um assunto mal resolvido e a vida se perde na perseguição de ilusões, a minha personagem anda ao contrário da maré, fascinando-se com o tempo, olhando-se e descobrindo-se na escrita que ele — e a vida — inscreve no seu corpo. Tendo a morte no horizonte ela sabe que tem de valorizar o circunstancial. O facto de não vivermos para sempre devia iluminar as nossas prioridades, a nossa perseguição dos objectivos maiores da nossa vida. Este livro anda também por isso muito em torno de uma frase do Vergílio Ferreira em "Aparição": "A vida devia iluminar-se na presença da morte". A morte é a única bitola. Porque haveremos de trabalhar para sermos infelizes se tudo passa e este é o único momento que temos?Por outro lado, este livro, como referi, é o primeiro de cinco. Cinco, como os sentidos tal como tradicionalmente vistos. Os cinco sentidos são um tema frequentemente tratado na História da Arte. Resolvi experimentar uma actualização desse tema. A ideia original era simplesmente escrever um conto sobre o tema. Rapidamente esse conto acabou por se transformar em cinco estórias e depois percebi também que a primeira estória se estava a transformar num romance. Tive de transformar todo o projecto e espero que dele saia um conjunto de inquirições que toque os leitores.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Entre outras coisas, o segundo volume deste projecto.
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Emília Ferreira
Cartografia Íntima
Difel, 13€

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