terça-feira, 30 de junho de 2009
Desparafusando na FLIPINHA 2009.
A Tragedia De Guanabara Ou Historia Dos Protomartyres Do Christianismo No Brasil, de Jean Crespin
Prefácio
Traduzindo do francez o capitulo em que Jean Crespin, na sua obra, Histoire des Martyres,
tomo II, pags. 448-465 e 506-519, se occupa da perseguição dos Calvinistas no Brasil,
fazemol-o por desejarmos concorrer, de algum modo, á commemoração que, aos 31 de
outubro do corrente anno, o Catholicismo Evangelico fará do 4° centenario da Reforma,
bem assim por ser geralmente desconhecida a historia dos primeiros fieis que, a 9 de
fevereiro de 1558, soffreram o baptismo de sangue em Coligny, hoje fortaleza de
Villegaignon, na bahia de Guanabara - Rio de Janeiro.
Das annotações feitas a esse capitulo por Matthieu Lelièvre, na edição de 1887, vertêmos
as que nos pareceram de real valor e addicionámos outras sobre pontos que cumpria
elucidar.
O dr. Erasmo Braga, membro da Academia de Letras de S. Paulo e deão do Seminário
Theologico Presbyteriano em Campinas, havendo, em 1907, traduzido a Confissão de Fé
que determinou a execução dos martyres Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil e Pierre
Bourdon, para que constasse do Relatório da Egreja Presbyteriana, desta Capital,
apresentado pelo dr. Alvaro Reis, seu pastor collado, e relativo ao mesmo anno, precedeu-a
de alguns conceitos que, com a devida vênia, passamos a transcrever, por constituírem
excellente Prefacio ao nosso trabalho:
"Vae-se alargando o martyrologio da Egreja de Christo no Brasil:
Ainda rubra corre a torrente, quando o céo chora sobre o sangue do ultimo martyr, e a
memória dos primeiros não tem um monumento, no coração siquer de seus confrades.
E' tempo de se levantarem as campas. Tirem-se as relíquias, e alcemol-as! São os
nossos trophéos.
Não ha no mundo quem tenha mais vivo monumento dos seus martyres que nós. Nem
o Colyseu com as suas arcarias soturnas: o rugido das feras ha muito que emmudeceu.
Ali, porém, naquella bellissima bahia de Guanabara, está a ilha, onde primeiro, em
terras da America, os fíeis commemoraram a morte do Salvador.
Ao cimo da collina, uma fortaleza, como então.
Seu nome perpetúa a memória execranda do carrasco.
Lá, a rebentar dos arrecifes, as mesmas ondas que sorveram os corpos dos martyres,
vêm cobrir de branca espuma a rocha que servio de cadafalso.
E o mar ainda ruge como no dia do martyrio.
Templo, cadafalso e jazigo.
Jean de Lery, o historiador da expedição de Villegaignon, por que no dia das
retribuições não se lhe leve em conta o olvido, emprehendeu narrar os martyrios de
seus irmãos na terra do Brasil.
Quebraram-se uma por uma as promessas do ambicioso almirante; Richier é injuriado
em plena congregação; os sermões são criticados com vehemencia pelo intimo do
chefe da expedição; por fim, violenta, estoura a apostasia.
Disputava-se sobre a doutrina dos Sacramentos, e Chartier, o outro pastor que Calvino
enviára, voltou á Europa, levando appello ás egrejas-mães.
Sósinho, a luctar contra a violencia, Richier e os fieis foram obrigados a deixar o forte
e ir para o continente.
Depois de muito soffrer, puderam, um dia, ver-se à bordo de um navio que os devia
repatriar. No alto mar, porém, o velho barco fazia água, e tão desgraçadamente , que o
deposito de viveres inundara. Era necessário diminuir os de bordo; e tocou a cinco
delles voltarem numa . chalupa para a terra, onde tanto soffreram.
Villegaignon os recebeu com toda a bondade. Os remorsos, porém, que lhe torturavam
a alma, levantavam a cada canto um phantasma, e como Caim, o apostata e assassino,
temia que um braço vingador viesse, de um golpe, cercear-lhe a ambição. E os pobres
homens, tornaram-se suspeitos de traição e espionagem.
Resolvido a eliminal-os, buscava ainda o vil perseguidor um véo para encobrir o crime.
Sabia bem o mesquinho que a mesma fé ardente no coração dos confessores reduzidos
a cinzas lá na pátria, mais ardente que as brazas das fogueiras, também inflammava o
coração das suas victimas: lembrou-se que era ali o representante de Henrique II.
Era direito dos governadores, em nome do rei, exigir dos subditos uma confissão de
sua fé. O almirante ordenou, portanto, que em doze horas respondessem aos artigos de
fé que lhes enviára.
O mais velho, distinto entre elles, porque velava pela piedade de seus irmãos e porque
em letras possuía conhecimentos da língua latina, foi eleito para redigir a resposta.
Sem livros, só possuíam a Bíblia, simples crentes que talvez não tivessem aos pés de
Calvino um , curso de divindades, afflictos, cansados, em um dia, foram obrigados a
responder a difficeis questões.
Jean du Bourdel escreveu; os outros assignaram a sua Confissão de Fé.
Recebido o documento, o tyranno o fez vir à sua presença.
Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil e André la Fon vieram; Pierre Bourdon, afflicto por
moléstia, ficara no continente.
Estavam promptos, disseram, a sustentar a Confissão. Enraivecido, ordenou
Villegaignon que os mettessem no carcere a ferros.
Durante a noite, todas as horas ia revistar as algemas, a porta do cárcere, rondar as
sentinellas.
Os servos de Deus, entretanto, oravam, cantavam psalmos e se consolavam
mutuamente.
Na manhã de sexta-feira 9 de fevereiro de 1558, desceu Villegaignon, bem armado,
com um pagem, a uma sala. Mandou apresentar du Bourdel, e mandou-lhe explicar o
5.° artigo da sua confissão. Ao responder du Bourdel, uma bofetada, do apostata
fez-lhe jorrar sangue da face, e Villegaignon mofára das suas lagrimas de dôr.
Conduzido ao supplicio, ao passar pela prisão, bradava aos seus cornpanheiros que
tivessem bom animo, pois breve seriam livres desta triste vida.
Cantando psalmos, subiu á rocha; orou, e, atado de pés e mãos, o algoz o arrojou ás
ondas.
Seguiu-o Matthieu Verneuil.
A's suas supplicas que o poupasse, tivesse-o como escravo, respondia o verdugo,
menos valor tinha qui o lixo do caminho: Tendo orado, exclamando: - 'Senhor Jesus,
tem piedade de 'mim' - desappareceu no mar.
Pierre Bourdon, fraco, debilitado pela molestia foi obrigado a levantar-se, e levado
para a ilha.
Lá percebeu o que o esperava, Ao presentir o logar onde soffreram seus irmãos não se
entristeceu, pois tinham ali obtido a victoria. Cruzou os braços, elevou os olhos ao céo;
orou.
Antes de morrer, quiz saber a causa de sua morte. Respondeu-se-lhe que era a sua
assignatura de uma Confissão heretica e escandalosa.
O rugido do mar não permittiu mais ouvir a sua voz clamar pelo soccorro e favor de
Deus, e o seu corpo desappareceu no abysmo das aguas.
E foi assim naquelles tempos que os nossos irmãos pagaram com a vida a audacia de
confessar a sua fé ; e, hoje, muita gente balbucia, hesita, ante o sorriso mofador, de
qualquer insolente."
Mas o Protestantismo no Brasil, em especial, grande e relevantissimo serviço deve ao dr.
Pedro Souto Maior: referimo-nos á traducção pelo mesmo feita das Actas dos Synodos e
Classes do Brasil, no século XVII, durante o dominio hollandez, as quaes, em Appendice,
juntamos a este trabalho, autorizados pelo conspicuo traductor e insigne mestre, a quem
hypothecamos eviterna gratidão.
E, por certo, injusto fôra que deixassemos tambem de render, aqui, homenagem á maior
autoridade, no Catholicismo Protestante Brasileiro, em materia de historia geral e
ecclesiastica - o notavel tribuno e emérito publicista dr. Alvaro Reis, autor de obras de
reconhecido valor, das quaes, dada a sua intima relação com o "martyrio dos huguenotes",
recommendamos aos estudiosos a que tem por titulo - O Martyr le Balleur.
Não encerraremos, todavia, este Proemio sem assignalar a alta conveniencia, ou antes, á
imperiosa necessidade da creação de uma Biblioteca do Protestantismo Brasileiro, como as
que existem em outros paizes. As vantagens de um tal Departamento seriam incalculáveis.
Attente-se, por exemplo, ao enorme auxilio que a Bibliotheca do Protestantismo Francez
prestou a Matthieu Leliévre, annotador da obra de Crespin, como se vê destas suas
palavras : L'accès aux grandes Bibliothèques de Paris nous a permis de remonter aux
sources de plusieurs chapitres du Martyrologe. Nous avons notamment trouvé à la
Bibliothèque Nationale les ouvrages qui ont foumi à Crespin et à ses continuateurs les
notices sur Ange Le Merle, l'lnquisition d'Espagne et la grande persécution de l'Eglise de
Paris, et à la Bibliothéque. De l'Arsenal, le livre sur l'expédition de Villegaignon, qui a passé
tout entier dans l'Histoire des Martyres. Nous ne devons pas oublier de mentionner la
Biblíothèque dii Protestantisme Français, qui occupe une place déjà distinguée parmi les
grands dépòts des richesses liitéraires de la France. Son bibliothécaire, M. N. Weiss, nous a
foumi, à diversej reprises, des indications utiles, et nous n'avons jamais fait appel en vain à
son obligeante érudition. Quem, pois, se disporá a estudar este magno assumpto? Quem
tomará a iniciativa de tão utilitario emprehendimento? Endereçamos, em particular, taes
questões aos ministros e professores de maior prestigio do Catholicismo Protestante no
Brasil.
Oxalá que as presentes traduções, a par de outros benefícios, produzam, em nosso meio
religioso, um maior interesse pelos assumptos históricos, notadamente pelos que se
prendem á Egreja Evangélica - esse ramo orthodoxo do Christianismo, embora assim não
seja reconhecido pelos Papistas obcecados!
Rio, Agosto - 1917, Domingos Ribeiro
Porto Editora apresenta o livro A Caixa da Avó Maria de Leonor Mexia
Autor: Leonor Mexia
Nº Págs.: 32
PVP: 5,50€
Preço WOOK.pt: 4,95€
A Caixa da Avó Maria, de Leonor Mexia, fala-nos da ligação perpétua e cúmplice entre uma avó e o seu neto, da percepção da morte e da
saudade que se combate.
A Porto Editora apresenta o livro A Caixa da Avó Maria, de Leonor Mexia. A sessão de lançamento, que conta com a autora, tem lugar na FNAC do Norteshopping, na próxima quarta-feira (1 de Julho), a
partir das 21:30.
Ilustrado por Sónia Cântara, A Caixa da Avó Maria dá voz a João, um menino cúmplice da avó que partira e que surge agora como um anjo. Nos cinco capítulos do livro, o João partilha experiências com a avó Maria e prova aos leitores da sua idade que a morte não é uma fatalidade quando a memória reconhece a vida.
A Caixa da Avó Maria é a sexta obra dedicada a crianças a partir dos sete anos da colecção Adoro Ler!, da Porto Editora. Outros cinco títulos, destinado aos pequenos leitores com nove anos, completam a
colectânea. Animais à Solta, de Maria João Lopo de Carvalho, A Rainha do Recreio, de Fanny Joly e Roser Capdevila, ou Comboio Nocturno, de Sigrid Baffert e Frederik Peeters, são alguns dos livros que prometem introduzir os mais novos aos hábitos saudáveis da leitura.
A Autora
Leonor Mexia nasceu no Porto em 1970. Desde 2006 que visita escolas básicas e secundárias,
infantários, grupos de jovens, lendo os seus contos ou escrevendo outros propositadamente para cada ocasião. Em 2007 ganhou uma menção honrosa no concurso Ora Vejamos, com o conto Onde se meteu a Lua?, posteriormente publicado na colectânea Um mar de contos, de vários autores lusófonos. Em 2007 e 2008 fez cursos de Escrita Criativa e Construção de Personagens na Companhia do Eu, sob a orientação de Pedro Sena-Lino. Em 2009 é reeditado o livro A caixa da avó Maria, pela Porto Editora, que, apesar de destinado a uma faixa etária mais jovem, é do agrado de pessoas de todas as idades.
Afinal, quem matou o General Zia?
A resposta a uma das perguntas mais repetidas na Internet, nas últimos semanas, está no O Caso das Mangas Explosivas, do paquistanês Mohammed Hanif, – um thriller político que relata, sem contemplações, os aspectos mais absurdos dos derradeiros dias do cruel ditador Zia ul-Haq, expondo as manipulações de todos os implicados que, com a sua miopia política, contribuíram para o auge do fanatismo radical islâmico.
O Caso das Mangas Explosivas, vencedor do Commonwealth Writers’ Prize 2008 para uma primeira obra e nomeado para o Booker Prize e para o Guardian First Book Award, serve-se de um humor ácido e de um ritmo trepidante para contar, na primeira pessoa, a participação do jovem oficial da Força Aérea Ali Shigri nos acontecimentos e o seu próprio desejo em vingar a morte do pai às mãos do ditador.
Da realidade, apenas o dia 17 de Agosto de 1988, data em que o avião em que viajava Zia, à época
presidente paquistanês, e outras personalidades importantes – entre as quais o embaixador dos
Estados Unidos – se despenhou inexplicavelmente. Terá sido falha humana ou mecânica? Resultado de uma conspiração de grupos militares rivais? Ou um complô da CIA, então a colaborar com o regime paquistanês para desestabilizar o Afeganistão e desse modo acelerar o processo de retirada das tropas russas do país vizinho? Foi, caricatamente, maldição de uma cega? Generais descontentes com as suas pensões de reforma ou consequências da estação das mangas?
Vencedores dos desafios no Facebook e nos blogues recebem o livro em primeira mão
Durante 10 dias, a Porto Editora deixou a pergunta ecoar na Web 2.0: Quem matou o General Zia? Os blogues do Porta-Livros, Estante dos Livros, O Segredo dos Livros, Planeta Márcia e Marcador de Livros dispensaram um primeiro capítulo não identificado e quatro perguntas cujas respostas davam direito ao livro prometido. No Facebook, nasceu a página do General Zia, espaço aberto a teorias conspiradoras que justificassem a morte do ditador paquistanês em 1988. Agora, os cinco participantes que responderam primeira e correctamente às perguntas na blogosfera juntam-se ao vencedor do passatempo do Facebook e recebem, em primeira mão, o livro O Caso das Mangas Explosivas.
Mohammed Hanif responde às questões dos fãs no Facebook
A Porto Editora prepara-se para promover uma entrevista com Mohammed Hanif num formato pouco tradicional. Até 9 de Julho – além da questão a que os vencedores dos desafios têm direito – aceitam-se perguntas dos fãs na página do General Zia no Facebook. As respostas do autor serão conhecidas, no mesmo espaço, no dia 10 de Julho (sexta-feira) a partir das 17 horas.
O Autor
Mohammed Hanif nasceu em Okara, no Paquistão, em 1965. Formado pela Academia da Força Aérea paquistanesa, abandonou a carreira militar para se dedicar ao jornalismo, tendo colaborado em jornais como o Newsline, o India Today e The Washington Post. Em Londres, onde viveu mais de uma década, foi director do serviço radiofónico em língua urdu da BBC. Recentemente decidiu regressar a Carachi com a mulher e o filho.
Para o primeiro capítulo:
http://www.portoeditora.pt/geral/popup/materiaisdownload/recurso/capitulo.pdf_obr
Para a imagem da capa:
http://www.portoeditora.pt/imprensa/recursos/detalhe/documento/capa
O endereço da página do General Zia no Facebook:
http://www.facebook.com/pages/edit/?id=93621182765#/pages/Bahawalpur-Pakistan/General-Zia/93621182765
O que dizem
“Perspicaz, requintado e deliciosamente anárquico«”
John Le Carré
“Divertido, subversivo, erótico e triste« Quem estiver a pensar candidatar-se a um emprego de ditador religioso desvairado deve, antes de mais, ler este livro.”
Mark Haddon
“Um romance de estreia na boa tradição dos thrillers políticos de Forsyth e le Carré.”
The Guardian
“Uma inteligente comédia negra.”
Booklist
“Mordaz, altamente engenhoso. Hanif é um escritor dotado. O explosivo finale está brilhantemente redigido.”
Daily Mail
O primeiro autógrafo a gente nunca esquece...
A primeira, sem dúvida, foi o local. O Centro Cultural Ação da Cidadania passarai a abrigar o maior e melhor evento nacional do gênero. Um lugar lindo, com uma infraestrutura bem melhor que a dos salões anteriores abria suas portas para mim e para Ana Paula.
A segunda, mais intensa, foi a de entrar no Salão como autor. Sei lá, foi diferente. Estranhamente gostoso. Uma sensação que sumiu depois do primeiro dia, mas que naquela tarde do sábado, 13 de junho, me tomou por inteiro já na entrada, quando recebi o crachá.
Depois de abraçar alguns amigos que encontramos nos corredores, é claro que fui ao stand da Manati. Lá, tudo lindo demais. Encontrei meu livro ao lado de tantos outros que aprendi a admirar. Rosalina, Marieta, e A Cristaleira dividiam espaço com Cadê o Juízo do Menino. As pessoas entravam no stand, folheavam o livro, achavam engraçado. Meu olho brilhou, encheu meu sorriso de cor e eu fiquei ali parado um tempão meio sem saber da vida.
Foi Ana Paula quem me trouxe de volta:
- Ei menino sem juízo, a moça quer um autógrafo!!!
A mãe do Lucas estava ali, ao lado, esperando por um carinho meu na folha de rosto do livro.
Pausa para pensar o que escrever... Afinal, era o primeiro autógrafo... A dedicatória saiu fácil, afinal, Lucas é nome de menino traquino, feliz. Soltei a mão e deixei um abração para o Lucas. A mãe dele sorriu. Espero que os dois tenham se divertido com o livro. Eu estava muito, MUITO feliz.
Faltou Mariana naquele primeiro encontro com o livro. Mas ela esteve presente em outros tantos bons momentos naquela visita ao Rio. Para encerrar o primeiro dia, uma foto com Silvia Negreiros e Bia Hetzel, as meninas que apostaram na minha história. Muito criativas, elas me ensinam a atravessar o caminho das pedras. Estamos juntos nesta lida de levar a fantasia para a casa do pensamento das crianças sem juízo. Hatuna Matata.
Resultado do passatempo "Quem Matou o General Zia?"
1 - Que poeta alemão perpetua os seus textos no papel amarrotado escondido debaixo do colchão do narrador? Rilke
2 - Qual a sigla que identifica os serviços secretos referidos no excerto? ISI
3 - Com base na informação que o texto lhe dispensa, identifique o país onde se desenrola a acção? Paquistão
4 - Que personagem interpretou o narrador no espectáculo de variedades anual que protagonizou? Águia (imperialista)
O primeiro participante a responder correctamente a todas as questões colocadas (às 15h08 do dia 19 de Junho) foi Tiago Pinheiro de S. João da Madeira, que irá receber em casa um exemplar do livro-mistério, que é nada mais nada menos que "O Caso das Mangas Explosivas", de Mohammed Hanif, vencedor do Commonwealth Writers' Prize 2008 e nomeado para o Booker Prize. O livro chega às livrarias no próximo dia 15 de Julho e a capa é esta:
Resultados do Passatempo: Quem matou o General Zia?
O vencedor do passatempo "Quem matou o General Zia" é Estefânia Botelho. Obrigada a todos os que participaram nesta inicitiva conjunta entre o Marcador de Livros e a Porto Editora.
Estefânia Botelho vai receber em casa o livro “O Caso das Mangas Explosivas” (vencedor do Commonwealth Writers’ Prize 2008 e nomeado para o Booker Prize), de Mohammed Hanif, que chegará às livrarias a 15 de Julho.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
O mensageiro e os Roedores de Livros.
- Ah, meninos… passei a semana inteira trabalhando, ontem fui à 03 escolas e hoje à tarde terei mais uma apresentação na Expotchê. Tô precisando relaxar aqui no hotel, aproveitar a piscina, tomar um café v a g a r o s a m e n t e. Vamos deixar para uma próxima vez?
Mas ele não disse isso. Muito pelo contrário. Aliás, foi ele quem ligou para dizer:
- Vocês vêm me pegar que horas?
Bocejando ao celular o Tino disse:
- Já estamos a caminho…
…
Hermes Bernardi Jr. tinha mesmo passado a semana trabalhando, tinha visitado e se apresentado em 03 escolas no dia anterior, tinha que fazer uma apresentação no meio da tarde na badaladíssima Expotchê e estava hospedado num super hotel da Capital Federal.
Mas trouxe na bagagem – de fato – o desejo de conhecer as crianças do projeto Roedores de Livros. Os deuses enviaram o mensageiro para mostrar que ainda há generosidade por aí.
Foi lindo ver os olhinhos das crianças brilhando ao se deparar com um autor vindo de tão longe. Hermes havia presenteado nossos meninos com alguns livros e sua história estava na pontinha da memória dos pequenos.
O autor de livros bons de roer como Planeta Caiqueria e E Um Rinoceronte Dobrado (RESENHADOS AQUI) conversou com a turma, fez uma apresentação improvisada do seu Lilliput de Sorvete e Chocolate, ao ar livre; fez mediação de leitura, batizou a todos “em nome da ordem dos rinocerontes dobrados”; autografou todos os livros com um carinho sincero; lanchou e andou de trem conosco.
Tudo isso aconteceu na manhã de sábado, 06 de junho, uma semana antes dele lançar dois novos livros (Doido pra voar e O Emaranhado da Moçoroca) no Salão da FNLIJ no Rio de Janeiro… Mas isso é assunto para outra hora.
Agora só queremos agradecer a Hermes - em nome das nossas crianças – por dispor do seu tempo e compartilhar conosco todo o seu talento e amizade.
E para vocês, queridos leitores, algumas fotos do nosso encontro inesquecível. Hatuna Matata.
Hermes conquista o olhar dos Roedores de Livros com sua performance teatral.
Abaixo, quem encontra os quindins na página de E O Rinoceronte Dobrado?
Um autógrafo carinhoso para cada criança...
Euzinha, sendo batizada "em nome da ordem dos rinocerontes dobrados"...
Por fim, nosso convidado andou de trem no brinquedo cantado movido pelo Tino.
The Curious Case of Benjamin Button
Tal como muitas das pessoas que recentemente leram este conto, a minha curiosidade surgiu pelo facto de ter sido adaptado ao cinema; ainda não vi o filme, porque gosto de conhecer primeiro a história escrita sempre que possível. Conto vê-lo em breve e comentá-lo por aqui.
Este pequeno conto apresenta-nos a peculiar história de Benjamin Button: nasce como um septuagenário e, ao longo da vida, em vez de envelhecer fica mais jovem. Para escrever esta história, Fitzgerald inspirou-se numa frase proferida por Mark Twain, em que este referia que é uma pena que as melhores coisas da vida aconteçam no seu início e as piores no fim.
Ao longo desta pequena história, vamos acompanhando a transformação de Benjamin e vemos como a sua diferença vai sendo aceite (ou não) pela sociedade e pela sua própria família. Para além da óbvia originalidade do ponto fulcral na história, gostei imenso da forma como o autor adapta o tom da narrativa à evolução da personagem. E, dentro desta, achei particularmente interessante o facto de o "crescimento ao contrário" não ser apenas físico, mas também psicológico.
Só fiquei mesmo com pena de não ser mais desenvolvido; acho que teria dado um excelente romance. É apenas uma questão de gosto pessoal, e o meu problema de sempre com os contos, mas presumindo que a intenção do autor era precisamente escrever uma história curta e marcante, acho que foi bastante bem conseguido. Posso dizer que fiquei com curiosidade para conhecer mais deste autor.
Uma vez que o conto está já em domínio público nos Estados Unidos, podem lê-lo online aqui. Em Portugal, o conto conheceu uma publicação recente da Editorial Presença.
8/10 - Muito Bom
[Livro n.º 56 do meu Desafio de Leitura]
Texto da Pedra de Roseta
No reinado do jovem que sucedeu o pai na realeza, senhor de diademas, mais glorioso, que
estabeleceu o Egito e foi piedoso para os deuses, triunfante em cima dos inimigos que
restabeleceram a vida civilizada de homens o senhor dos Trinta Festivais de Anos, até
mesmo como Ptah o Grande, um rei amado de Rá, grande rei dos países Altos e Baixos,
descendência dos Deuses Philopatores, um a quem Ptah aprovou, para quem Rá deu a
vitória, a imagem viva de Amun, filho de Rá, PTOLEMAIO, O que vive para sempre, AMADO
DE PTAH, no nono ano, quando o filho de Aetos era o sacerdote de Alexandre, e os Deuses
Soteres, e os Deuses Adelphoi, e os Deuses Euergetai, e os Deuses Philopatores e o Deus
Epiphanes Eucharistos; Filha de Pyrrha de Philinos que é Athlophoros de Berenike
Euergetis, filha de Areia de Diogenes que é Kanephoros de Arsinoe Philadelphos,; Filha de
Irene de Ptolemaio que é a Sacerdotisa de Arsinoe Philopator; o quarto do mês de Xandikos,
de acordo com os egípcios o 18º Mekhir.
OS FEITICEIROS DO CÉU
Autor: CHRISTIAN BERNADAC
Título: OS FEITICEIROS DO CÉU
Título Original: "Les Sorciers du ciel"
Tradução: Mário Alves
Editora: Editorial Inova
Sebastian
Autor: Anne Bishop
Editora: Saída de Emergência
Tradução: Cristina Correia
Nº de páginas: 380
Jogos de Sedução - Madeline Hunter
Título: Jogos de sedução
Autor: Madeline Hunter
Colecção: Romance
Preço: 15 €
Páginas: 304
Sinopse:
Ele conhece todos os segredos dela. Excepto um…
Numa sala repleta de convivas, os seus olhares cruzam-se com uma intensidade invulgar… mas os seus mundos vão colidir violentamente. Ela é Roselyn Longworth e, antes de a noite terminar, vai ser leiloada. Ele é Kyle Bradwell, o homem que lhe dará a conhecer o Inferno. Todavia, quando vence o leilão, Kyle trata Roselyn com uma delicadeza a que ela não está habituada desde que um escândalo familiar arruinou a sua reputação. E quando finalmente descobre o que o motivou a salvá-la do seu terrível passado, é já demasiado tarde: Roselyn está perdidamente apaixonada pelo homem que sabe os seus mais íntimos segredos. Agora, ele surpreende-a com um pedido de casamento – o primeiro passo num jogo de sedução que exigirá nada menos que a sua completa rendição…
A minha opinião
"Porque hás-de casar com uma mulher assim, sobre a qual o país inteiro fala?"
Devido a um erro do seu irmão Timothy, Roselyn vê-se na mais completa pobreza e desprezo por parte da sua classe. Devido ao seu orgulho, e sem querer recorrer ao marido da sua prima Alexia, Roselyn decide, por sua conta e risco, entregar-se ao pérfido Norbury, que após se ter aproveitado dela, a coloca em leilão numa das festas em que organiza. Kyle Bradwell acaba por fazer a licitação maior e, logo após a festa, coloca-a em liberdade, e entrega-a à sua família. No entanto, vão mantendo-se em contacto até que Kyle a pede em casamento. Sem muitas alternativas, Roselyn decide aceitar a proposta e põe definitivamente de lado a proposta do seu irmão Tim, que se encontra foragido, para se juntar a ele em Itália. Com Kyle, Roselyn vive uma intensa história de amor e desejo, em que a descoberta do sexo a faz cada vez mais feliz. No entanto, as trafulhices do irmão continuam a assombrar-lhe o casamento. Roselyn descobre que o seu marido é o principal credor de Tim, e que também ele perdeu muito dinheiro ao investir no banco do seu irmão. Mas Kyle não é único homem a quem Tim fez mal. Muitos outros homens, sobretudo Norbury, procuram justiça e desejam ver Tim na forca pelos erros que cometeu no passado… Jogos de sedução seduziu-me até ao último capítulo e fez-me colocar na minha lista de livros a adquirir o livro anterior de Madeline Hunter, As Regras da Sedução, que também já foi editado em Portugal. Pela sinopse, As Regras de Sedução está interligado com este segundo livro e conta mais pormenorizadamente os erros cometidos por Timothy.
domingo, 28 de junho de 2009
Hotel Memória
Sinopse:
O narrador deste romance é um estudante que, ao chegar a Nova Iorque para uma pós-graduação, conhece na universidade uma rapariga bastante enigmática chamada Kim pela qual se apaixona doidamente. Apesar de achar que nunca será capaz de a conquistar, acaba por ser correspondido no seu amor, embora não chegue nunca a decifrar inteiramente os mistérios que envolvem a rapariga. É por isso também que a morte desta, brutal e inesperada, o vai encher de culpa e remorso e lançálo numa espiral descendente que o transformará num autêntico vagabundo. É então que, sem dinheiro nem bens, o protagonista chega ao Hotel Memória, um estranho lugar na Baixa de Manhattan que parece destinado a albergar criaturas perdidas; e é também aí que conhece Samuel, um excêntrico milionário que o desafia a procurar um fadista português desaparecido, Daniel da Silva, emigrado para os Estados Unidos na década de sessenta. A pouco e pouco, deparando-se com o inesperado a cada esquina, o narrador vai-se embrenhando nesse mistério por resolver, e a busca por Daniel da Silva transforma-se na busca do seu próprio eu, da sua identidade perdida e do seu passado. Tendo Nova Iorque como pano de fundo, dos anos sessenta até ao presente, e criando a figura inesquecível de Daniel da Silva, o fadista que conquista Manhattan com o seu talento, Hotel Memória é, ao mesmo tempo, um romance de mistério, um policial e uma aventura. Inspirado pela ficção de Edgar Allan Poe e de Melville, que são referências constantes, é um livro ao mesmo tempo intrigante e comovente, que lida com os fantasmas da memória, da culpa e da redenção.
Aproveitando a edição de bolso, por isso mais barata, comprei-o na Feira do Livro e não resisti muito tempo para o começar a ler, confirmando que a escrita de João Tordo nos leva a percorrer histórias entusiastas, que nunca pensamos parar de ler.
Apesar de este livro ser anterior a “As 3 vidas”, demonstra-nos um autor com uma escrita bem madura, onde todas as palavras parecem bater certo, e bastante cinematográfica, não me admirando que qualquer dia ele se aventure na escrita de argumentos de cinema.
Sobre a história, penso que a sinopse resume bem, e até, por um lado, revela demais. A personagem principal, que é o narrador, é um estudante brilhante, mas que depois dum acontecimento inesperado na sua vida, que quase o levará à auto-destruição, terá uma missão desafiadora e perigosa: encontrar um fadista português, de nome Daniel da Silva.
Mais uma vez, João Tordo consegue impor uma mais-valia ao seu romance, disfarçado de policial, entrecruzando as histórias de vida das suas personagens, como se fosse uma verdadeira teia que levará a um caminho comum, levando a embalar-nos e a ler sofregamente.
Por fim, são as referências a pessoas que o influenciam, das quais os autor tem admiração na escrita, no cinema ou na música; leva-nos a pensar que aquela história bem poderia ser a nossa ou de alguém nosso conhecido. Um romance para ler com prazer.
8/10 - Muito Bom
História do Futuro, de Padre Antônio Vieira
Plano da História do Futuro
História do Futuro (Volume I, Capítulo I: Declara-se a primeira parte do titulo desta História, e quão própria é
da curiosidade humana a sua matéria.)
por Padre Antônio Vieira
Nenhuma cousa se pode prometer à natureza humana mais conforme ao seu maior apetite,
nem mais superior a toda a sua capacidade, que a notícia dos tempos e sucessos futuros; e
isto é o que oferece a Portugal, à Europa e ao Mundo esta nova e nunca vista história. As
outras histórias contam as cousas passadas, esta promete dizer as que estão por vir; as
outras trazem à memória aqueles sucessos públicos que viu o Mundo; esta intenta
manifestar ao Mundo aqueles segredos ocultos e escuríssimos que não chega a penetrar o
entendimento. Levanta-se este assunto sobre toda a esfera da capacidade humana, porque
Deus, que é a fonte de toda a sabedoria, posto que repartiu os tesouros dela tão
liberalmente com os homens, e muito mais com o primeiro, sempre reservou para si a
ciência dos futuros, como regalia própria da divindade. Como Deus por natureza seja
eterno, é excelência gloriosa, não tanto de sua sabedoria, quanto de sua eternidade, que
todos os futuros lhe sejam presentes; o homem, filho do tempo, reparte com o mesmo a sua
ciência ou a sua ignorância; do presente sabe pouco, do passado menos e do futuro nada.
A ciência dos futuros — disse Platão — é a que distingue os deuses dos homens, e daqui
lhes veio sem dúvida aquele antiquíssimo apetite de serem como deuses. Aos primeiros
homens, a quem Deus tinha infundido todas as ciências, nenhuma lhes faltava senão a dos
futuros, e esta lhes prometeu o Demônio com a divindade, quando lhes disse: Eritis sicut
Dii, scientes bonum et malum. Mas ainda que experimentaram o engano, não perderam o
apetite. Esta foi a herança que nos ficou do Paraíso, este o fruto daquela árvore fatal, bem
vedado e mal apetecido, mas por isso mais apetecido, porque vedado.
Como é inclinação natural no homem apetecer o proibido e anelar ao negado, sempre o
apetite e curiosidade humana está batendo às portas deste segredo, ignorando sem
moléstia muitas cousas das que são, e afetando impaciente a ciência das que hão de ser.
Por este meio veio o Demônio a conseguir que o homem lhe desse falsamente a divindade,
que o mesmo demônio com igual falsidade lhe tinha prometido. E senão, pergunto: Quem
foi o que introduziu no Mundo, sem algum medo, mas antes com aplauso, a adoração do
Demônio? Quem fez que fosse tão freqüentado e consultado o ídolo de Apolo em Delfos? O
de Júpiter em Babilônia? O de Juno em Cartago? O de Vênus no Egito? O de Dafne em
Antioquia? O de Orfeu em Lesbo? O de Fauno em Itália? O de Hércules em Espanha, e
infinitos outros em muitas partes? Não há dúvida que o desejo insaciável que os homens
sempre tiveram de saber os futuros, e a falsa opinião dos oráculos com que o Demônio
respondia naquelas estátuas, foram os que todo este culto lhe granjearam, sendo certo que,
se Deus, vindo ao Mundo, não emudecera (como emudeceu) os oráculos da Gentilidade,
grande parte do que hoje é fé, fora ainda idolatria. Tão mal sofreram os homens que Deus
reservasse para si a ciência dos futuros, que chegaram a dar às pedras a divindade própria
de Deus, só porque Deus fizera própria da divindade esta ciência: antes queriam uma
estátua que lhes dissesse os futuros, que um Deus que lhos encobria.
Mas que direi das ciências ou ignorâncias das artes ou superstições que os homens
inventaram desde a terra até o céu, levados deste apetite? Sobre os quatro elementos
assentaram quatro artes de adivinhar os futuros, que tomaram os nomes dos seus próprios
sujeitos: agromancia, que ensina a adivinhar pelas cousas da terra; a hidromancia, pelas da
água; a aeromancia, pelas do ar, e a piromancia, pelas do fogo. Tão cegos seus autores no
apetite vão daquela curiosidade, que, tendo-se perdido na terra os vestígios de tantas
cousas passadas, cuidaram que na água, no ar e no fogo os podiam achar das futuras.
No mesmo homem descobriram os homens dois livros sempre abertos e patentes, em que
lessem ou soletrassem esta ciência. A fisionomia, nas feições do rosto; a quiromancia, nas
raias da mão. Em um mapa tão pequeno, tão plano e tão liso como a palma da mão de um
homem, inventaram os quiromantes não só linhas e caracteres distintos, senão montes
levantados e divididos, e ali descrita a ordem e sucessão da vida e casos dela, os anos, as
doenças e os perigos, os casamentos, as guerras, as dignidades, e todos os outros futuros
prósperos ou adversos; arte certamente merecedora de ser verdadeira pois punha a nossa
fortuna nas nossas mãos.
Deixo a astrologia judiciária, tão celebrada no nascimento dos príncipes, em que os
genetlíacos, sobre o fundamento de uma só hora ou instante da vida, levantam ou figura ou
testemunhos a todos os Sucessos dela. Nem quero falar na triste e funesta nicromancia,
que, freqüentando os cemitérios e sepulturas no mais escuro e secreto da noite, invoca com
deprecações e conjuros as almas dos mortos para saber os futuros dos vivos.
A este fim excogitaram tantos gêneros de sortilégios, como se na contingência da sorte se
houvesse de achar a certeza; a este fim observaram os sonhos como se soubesse mais um
homem dormindo do que sabia acordado; a este sentido consultavam as entranhas
palpitantes dos animais, como se um bruto morto pudesse ensinar a tantos homens vivos.
Com o mesmo apetite pediam respostas às fontes, aos rios, aos bosques e às penhas; com o
mesmo inquiriam os cantos e vôos das aves, os mugidos dos animais, as folhas e
movimentos das árvores, com o mesmo interpretavam os números, os nomes e as letras, os
dias e os fumos, as sombras e as cores e não havia cousa tão baixa e tão miúda por onde os
homens não imaginassem que podiam alcançar aquele segredo que Deus não quis que eles
soubessem. O ranger da porta, o estalar do vidro, o cintilar da candeia, o topar do pé, o
sacudir dos sapatos, tudo notavam como avisos da Providencia e temiam como presságios
do futuro. Falo da cegueira e desatino dos tempos passados, por não envergonhar a
nobreza da nossa Fé com a superstição dos presentes.
Finalmente, a investigação deste tão apetecido segredo foi o estudo e disputa dos maiores e
mais sinalados filósofos, de Sócrates, de Pitágoras, de Platão, de Aristóteles e do eloqüente
Túlio, nos livros mais sublimes e doutos de todas suas obras. Esta era a teologia famosa dos
Caldeus; este o grande mistério dos Egípcios; esta em Roma a religião dos áugures; esta em
Judéia a seita dos Pitões e Aríolos; esta em Pérsia a ciência e profissão dos Magos; esta
enfim do Céu até o Inferno, o maior desvelo dos sábios e maior ânsia e tropeço dos
ignorantes; uns injuriando o Céu, e dando trato às estrelas para que digam o que não
podem; outros inquietando o Inferno (como dizia Samuel), e tentando os mesmos demônios,
para que revelem o que não sabem. Tanto foi em todas as idades do Mundo, e tanto é hoje,
na curiosidade humana, o apetite de conhecer o futuro!
Mas o que mais que tudo encarece a tenacidade deste desejo, é considerar que, enganados
tão profundamente os homens pela falsidade e mentira de todas estas artes e seus
ministros, não tenha bastado nenhuma experiência, nem haja de bastar já para mais os
desenganar e apartar dele: Genus hominum potentibus infidum, sperantibus fallax, quod in
civitate nostra, et vetabitur semper et retinebitur, disse Tácito. O mesmo Saul, que
desterrou a Pitonisa, a foi buscar e se serviu de sua má arte; e os mesmos que mais
severamente negam o crédito às cousas prognosticadas, folgam de ouvir e saber que se
prognosticam, sinal certo que não buscam os homens os futuros, porque os achem, senão
que vão sempre após eles, porque os amam.
Para satisfazer, pois, à maior ânsia deste apetite e para correr a cortina aos maiores e mais
ocultos segredos deste mistério, pomos hoje no teatro do Mundo esta nossa História, por
isso chamada do Futuro. Não escrevemos com Beroso as antiguidades dos Assírios, nem
com Xenofonte a dos Persas, nem com Heródoto as dos Egípcios, nem com Josofo a dos
Hebreus, nem com Cúrcio a dos Macedônios, nem com Tucídides a dos Gregos, nem com
Lívio a dos Romanos, nem com os escritores portugueses as nossas; mas escrevemos sem
autor o que nenhum deles escreveu nem pôde escrever. Eles escreveram histórias do
passado para os futuros, nós escrevamos a do futuro para os presentes. Impossível pintura
parece antes dos originais retratar as cópias, mas isto é o que fará o pincel da nossa
História.
Assim foram retratos de Cristo Abel, Isaac, José, David, antes do Verbo ser homem. O que
ignorou o mundo antigo, o que não conheceu o moderno e o que não alcança o presente, é o
que se verá com admiração neste prodigioso mapa descrito: cousas e casos que ainda lhes
falta muito para terem ser quanto mais Antigüidade.
A história mais antiga começa no princípio do Mundo; a mais estendida e continuada acaba
nos tempos em que foi escrita. Esta nossa começa no tempo em que se escreve, continua
por toda a duração do Mundo e acaba com o fim dele. Mede os tempos vindouros antes de
virem, conta os sucessos futuros antes de sucederem, e descreve feitos heróicos e famosos,
antes de a fama os publicar e de serem feitos.
O tempo, como o Mundo, tem dois hemisférios: um superior e visível, que é o passado,
outro inferior e invisível, que é o futuro. No meio de um e outro hemisfério ficam os
horizontes do tempo, que são estes instantes do presente que imos vivendo, onde o passado
se termina e o futuro começa. Desde este ponto toma seu princípio a nossa História, a qual
nos irá descobrindo as novas regiões e os novos habitadores deste segundo hemisfério do
tempo, que são os antípodas do passado. Oh que de cousas grandes e raras haverá que ver
neste novo descobrimento!
Aqueles historiadores que nomeamos e foram os mais célebres do Mundo, escreveram os
impérios, as repúblicas, as leis, os conselhos, as resoluções, as conquistas, as batalhas, as
vitórias, a grandeza, a opulência e felicidade, a mudança, a declinação, a ruína ou daquelas
mesmas nações, ou de outras igualmente poderosas, que com elas contendiam. Nós
também havemos de falar de reinos e de impérios, de exércitos e de vitórias, de ruínas de
umas nações e exaltações de outras; mas de impérios não já fundados, senão que se hão-de
fundar; de vitórias não já vencidas, mas que se hão-de vencer; de nações não já domadas e
rendidas, senão que se hão-de render e domar.
Hão-se de ler nesta História, para exaltação da Fé, para triunfo da Igreja, para glória de
Cristo, para felicidade e paz universal do Mundo, altos conselhos, animosas resoluções,
religiosas empresas, heróicas façanhas, maravilhosas vitórias, portentosas conquistas,
estranhas e espantosas mudanças de estados, de tempos, de gentes, de costumes, de
governos, de leis; mas leis novas, governos novos, costumes novos, gentes novas, tempos
novos, estados novos, conselhos e resoluções novas, empresas e façanhas novas,
conquistas, vitórias, paz, triunfos e felicidades novas; e não só novas, porque são futuras,
mas porque não terão semelhança com elas nenhumas das passadas. Ouvirá o Mundo o que
nunca viu, lerá o que nunca ouviu, admirará o que nunca leu, e pasmará assombrado do que
nunca imaginou. E se as histórias daqueles escritores, sendo de cousas menores antigas e
passadas, se leram sempre com gosto, e depois de sabidas se tornaram a ler sem fastio,
confiança nos fica para esperar que não será ingrato aos leitores este nosso trabalho, e que
será tão deleitosa ao gosto e ao juízo a História do Futuro, quanto é estranho ao papel o
assunto e nome dela.
Mas porque não cuide alguma curiosidade crítica que o nome do futuro não concorda nem
se ajusta nem com o título de história, saiba que nos pareceu chamar assim à esta nossa
escritura, porque, sendo novo e inaudito o argumento dela, também lhe era devido nome
novo e não ouvido.
Escreveu Moisés a história do princípio e criação do Mundo, ignorada até aquele tempo de
quase todos os homens. E com que espírito a escreveu? Respondem todos os Padres e
Doutores que com espírito de profecia. Se já no Mundo houve um profeta do passado,
porque não haverá um historiador do futuro? Os profetas não chamaram história às suas
profecias, porque não guardam nelas estilo nem leis de histórias: não distinguem os
tempos, não assinalam os lugares, não individuam as pessoas, não seguem a ordem dos
casos e dos sucessos, e quando tudo isto viram e tudo disseram, é envolto em metáforas,
disfarçado em figuras, escurecido com enigmas e contado ou cantado em frases próprias do
espírito e estilo profético, mais acomodadas à majestade e admiração dos mistérios, que à
notícia e inteligência deles.
Do profeta Isaías, que falou com maior ordem e maior clareza, disseram S. Jerônimo e
Santo Agostinho que mais escrevera história que profecia. A sua profecia é o Evangelho
fechado; o Evangelho é a sua profecia aberta. E porque nós, em tudo o que escrevemos,
determinamos observar religiosa e pontualmente todas as leis da história, seguindo em
estilo claro e que todos possam perceber, a ordem e sucessão das cousas, não nua e
secamente, senão vestidas e acompanhadas das suas circunstancias; e porque havemos de
distinguir tempos e anos, sinalar províncias e cidades, nomear nações e ainda pessoas,
(quando o sofrer a matéria), por isso, sem ambição nem injúria de ambos os nomes,
chamamos a esta narração História e História do Futuro.
Sós e solitariamente entramos nela (mais ainda que Noé no meio do dilúvio) sem
companheiro nem guia, sem estrela nem farol, sem exemplar nem exemplo. O mar é
imenso, as ondas confusas, as nuvens espessas, a noite escuríssima; mas esperamos no Pai
dos lumes (a cuja glória e de seu Filho servimos), tirará a salvamento a frágil barquinha: ela
com maior ventura que Argos, e nós com maior ousadia que Tífis.
Antes de abrir as velas ao vento (oh faça Deus que não seja tempestade!), em lugar da
benevolência que se costuma pedir aos leitores, só lhes quero pedir justiça. É de direito
natural que ninguém seja condenado sem ser ouvido; isto só deseja e pede a todos a nova
História do Futuro, com palavras não suas, mas de S. Jerônimo: Legant prius et postea
Anexo:Imprimir/ História do Futuro 6
despiciant: «Leiam primeiro, e depois condenem» — assim dizia aquele grande mestre da
Igreja, defendendo a sua versão dos sagrados Livros, então perseguida e impugnada, hoje
adorada e de fé.
Espada de Átila (A) - Michael Curtis Ford
Em 450 DC, o Império Romano do Ocidente estava a perder, de uma forma gradual, o poderio militar assim como o controlo das suas províncias, entre as quais a Gália, a Bretanha, a Lusitânia, entre outras.
De Oeste uma nova e poderosa força, alicerçada em alianças de povos que odiavam os romanos, os Hunos, liderados por Atila, avançam sobre Roma com um exército de 1 milhão de homens, algo nunca visto em toda a Europa.
A liderar o exército romano estava o general Flávio Aécio que, de acordo com documentos da época, comandava um exército de 500.000 homens, exército composto pelas legiões romanas e por povos que se mantinham fiéis a Roma, os Visigodos, os Francos e os Alanos. No entanto deixo aqui a ressalva acerca destes números, pois há historiadores que avançam com cerca de 300.000 homens para cada lado.
Entre Flávio e Atila um pormenor sobressaia: eram amigos de infância.
Flávio, por causa da política da altura do Império Romano, havia sido entregue como refém aos Hunos e aí criado durante 14 anos (409-425). Atila, através da mesma política, esteve entre os romanos pelo menos período. Tornam-se amigos no período (409) onde convivem durante alguns meses.
Esse período, obviamente, irá moldar o carácter desses dois homens. Ambos aprendem a conhecer o povo com quem vivem, mas ambos vão mais longe, ambos aprendem os costumes e tradições desses povos e, sobretudo, aprendem a pensar como um deles. Isso acontece principalmente com Aécio.
Esses factos vão ter uma preponderância sublime nos acontecimentos futuros. Ambos conhecem a mentalidade do inimigo e ambos tiram disso vantagem.
Opinião
O livro está sublime!
Michael Curtis Ford, como nos tem habituado, efectua um trabalho de pesquisa história soberbo.
Os acontecimentos acima narrados são todos escalpelizados.
O livro inicia-se com a infância destes dois homens e aborda o seu crescimento. Centra-se mais em Aécio simplesmente porque de Atila sabe-se pouco, pois os Hunos não deixaram documentos e a sua civilização quase que não deixou vestígios. De Atila conhece-se alguma coisa mas isso deve-se a historiados romanos.
Dessa forma, Curtis Ford, com o pouco que tem, é sublime na forma como retracta os costumes e tradições dos Hunos. Mitos, histórias e modos de vida são-nos dados a conhecer, um povo “bárbaro” que dizimava à sua passagem.
As tricas e alianças, até a justificação de Atila em atacar os romanos, quando entre os romanos e os hunos existia um pacto de não agressão, está bem encaixada e de acordo com a História.
A culminar está a Batalha dos Campos Catalaúnicos ou a Batalha de Chalons.
A descrição da mesma é terrível, de uma violência inolvidável.
Nessa batalha, travada a 20 Junho de 451, pereceram mais de 1/3 do exército de ambos os lados. “Pilhas de Mortos”, “à sua frente, o chão estava coberto de cavalos e de homens, montes de corpos…”, “estavam empilhados casualmente em muralhas improvisadas e contorcidas no local onde tinham caído…”
Durante um dia inteiro e parte da noite, os exércitos digladiam-se de uma forma brutal, insana, para além do racional. Na confusão tudo é permitido, a brutalidade dessa batalha, que irá ter uma importância enorme no futuro da Europa, é soberba e excitantemente bem escrita por Michael Curtis Ford, dando-nos não só uma real percepção dos acontecimentos como, também, nos faz quase participar nessa mesma batalha e nos acontecimentos anteriores à mesma.
Um livro excepcional!
sábado, 27 de junho de 2009
Ketuvim Tehilim
Tehilim 1:1
.בשי אל םיצל בשומבו דמע אל םיאטח ךרדבו םיעשר תצעב ךלה אל רשא שיאה ירשא
Feliz o homem que não anda no conselho dos maus/ E na estrada dos errantes não descansa
/ E no assento dos zombadores não assenta.
Tehilim 1:2
.הלילו םמוי הגהי ותרותבו וצפח הוהי תרותב-םא יכ
Porque na Torá de HaShem está seu prazer /E em sua Torá murmura prazeirosamente dia e
noite.
Tehilim 1:3
.חילצי השעי-רשא לכו לובי אל והלעו ותעב ןתי וירפ רשא םימ יגלפ-לע לותש ץעכ היהו
E será como árvore plantada sobre córregos de águas/ Cujo fruto dá em seu tempo/ E cuja
folha não murcha/ E tudo o que faz irá adiante.
O Toque de Midas
Críticas da Imprensa:
«Se tem assuntos por resolver, resolva-os. Se tem crianças, ponha-as na avó. Se tem a sopa ao lume, apague-o. É que este é daqueles livros que levam tudo atrás: uma vez que o comece, não irá conseguir deixar de o ler.» - Activa
«Uma história muito bem conseguida, colorida, acerca de personagens e lugares também eles bastante coloridos. O Toque de Midas é Colleen McCullough no seu melhor.» - Kirkus Reviews
A Minha Opinião:
Uma obra-prima, sem dúvida, soberba! São 500 páginas, mas que se lê deliciosamente, como que a saborear um gelado verdadeiro num dia quente de Verão!
A história decorre no século XIX desde a Escócia à Austrália. Gira em torno de Alexander, um bastardo de origem escocesa que foge da sua terra natal (Kinross) aos 15 anos de idade. Testemunhamos as suas aventuras, aprendizagens e descobertas, até se tornar num homem poderosamente rico. Alexander tinha um “faro” para o ouro, ou seja, "cheirava" o ouro, era assim chamado “O Toque de Midas”, daí o título do livro! E depois testemunhamos a sua vida de casado, de amante, de pai, de empresário...
O que torna o livro fabuloso, é a forma como a história está contada, faz com que nos sintamos dentro da história que até cheiramos o ouro, vemos a cidade do Alexander a crescer até se prosperar com o aparecimento da electricidade e outras invenções, ficamos a saber mais sobre as colónias, a politica e a religião daquele tempo, e ainda mais interessante a luta das mulheres com grande cérebro para exercer as mesmas funções que os homens! Na verdade, detesto politica mas a escrita da autora, límpida e clara, fez-me prender em relação a este tema, fez-me ficar com uma perspectiva diferente acerca da politica que chegou a suscitar-me vários pensamentos.
Há várias personagens que são tão variadas e ricas de personalidade! A família Kinross: Alexander e a sua esposa Elizabeth e as duas filhas (uma sobredotada e uma deficiente mental). A amante de Alexander, a Ruby e o filho desta - Lee. Os criados chineses e entre outras personagens. Há todos os ingredientes que tornam a história extremamente emocionante: amor, paixão, infidelidade, traição, amizade, tristeza, alegria, dificuldades, dúvidas, luta.... O final é muito surpreendente, um chocante clímax!
Para finalizar, é realmente uma história épica imperdível! Teria adorado de a ver transformada em série televisiva com vários episódios, como fizeram com "Passáros Feridos" escrito por esta autora (este não cheguei a ler - talvez mais tarde - mas lembro-me de ter adorado a série com o actor Richard Chamberlain que fez de padre, uma interpretação espantosa!).
Este livro é definitivamente o melhor que já li deste ano! Uma excelente compra da Feira do Livro que paguei por metade do preço, pois era "livro do dia"!
Classificação: 5/5 (Excelente!)
Outras Opiniões:
Aqui (do blog planetamarcia)
Fotobiografias do Século XX - Fernando Pessoa - Richard Zenith e Joaquim Vieira
Editora: Círculo de Leitores
P.V.P.€ 35,00
A minha opinião
“Diz-se, por vezes que os quatro maiores poetas portugueses do século XX são Fernando Pessoa” assim começa a fotobiografia do, tal como Richard Zenith diz, o melhor poeta português.
Eu até ia mais longe e, tal como disse num post anterior, não apenas do século XX, mas de todos os tempos. Conheci Pessoa não muito cedo, apenas comecei a ler alguns poemas dele na adolescência, com mais ou menos 14 anos. Mas cada vez que leio o poeta e seus heterónimos surpreendo-me sempre e descubro coisas que não tinha visto anteriormente.
Antes de começar a ler esta fotobiografia já tinha começado a ler uma biografia do autor, “Fernando Pessoa - Vida , Personalidade e Génio de António Quadros. Ainda não terminei o livro anterior, mas a leitura da fotobiografia foi deveras aliciante. Muito bem documentada e ilustrada, é um excelente trabalho que recomendo para os fãs do poeta ou até para aqueles que gostariam de conhecer um pouco mais sobre Pessoa.
Não podia deixar de postar algumas das passagens da sua vida que mais me agradaram ler neste livro, apesar de já serem do conhecimento geral.
Fernando Pessoa nasceu a 13 de Junho de 1888, em Lisboa. O dia do seu nascimento ocorreu numa quarta-feira, pelas 15h30.
“No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, eu era feliz e ninguém estava morto.” Do poema Aniversário, escrito em 13 de Junho de 1930. Filho de um casal que se dava bastante bem, cedo perdeu o pai (com cinco anos), o que fez com que o pequeno Pessoa e a sua família tivessem que abandonar a casa onde até ali viveu, situada no Largo de S. Carlos. Fernando Pessoa sempre recordaria o local com uma certa nostalgia e eternizá-lo-ia com o poema “Ó sino da minha aldeia”. O sino seria o da Igreja dos Mártires, no Chiado, a “aldeia”, o largo onde nascera, designado assim pela sua pacatez na altura.
Um ano após a morte do seu marido, a mãe de Pessoa casa-se novamente e parte para Durban com o pequeno Fernando. Em Durban, Pessoa não fez grandes amigos e tinha nos irmãos mais novos, Henriqueta e Luís, os seus cúmplices de brincadeiras. A irmã relembra: “éramos as personagens de uma história continuamente inventada por ele”. Segundo Zenith esta era “uma espécie de heteronímia às avessas, portanto, com pessoas reais transfiguradas em personagens fictícias”. Apesar de ter sido um aluno bem sucedido em Durban, Pessoa sonhava em regressar ao seu país e é aí que ingressa no Curso de Letras. No entanto, pouco mais de um ano, fica desiludido com a mentalidade demasiado convencional dos seus colegas e começa a demonstrar o desejo de ir para Inglaterra, caso conseguisse arranjar dinheiro. “Apesar de ler e escrever bem em português, Pessoa continuou a fazer poemas e contos em inglês, por causa da falta de modelos, por falta de leitura da sua língua materna. É preciso compreender que pessoa aprendia a fazer literatura por imitação. Imitara Dickens, Carlyle, Pope, Shakespeare e Shelley na adolescência, e mais tarde imitaria Cesário Verde”, continua Zenith.
Heterónimos
“Reduzido a um par de óculos, um chapéu, um bigode e uma gabardina, o corpo praticamente desapareceu. É como se Pessoa fosse, não um homem sem qualidade, mas um conjunto de qualidades sem homem”, diz Zenith.
O termo heterónimo aplica-se apenas aos três poetas que surgiram em 1914: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. A eles, Pessoa fez biografias, atitudes e estilos completamente diferentes. C. R. Anon e Alexander Search, segundo Zenith, podem ser denominados de pré-heterónimos. “Enquanto que os heterónimos representavam o que Pessoa não era, os dois alter-egos anglófonos representavam o que o jovem poeta assumidamente era quando surgiram. Para que finalidade? Para permitir que o autor falasse de sim sem falar de si”, diz.
Em 1915, Fernando Pessoa e demais companheiros de tertúlia, decidem criar a revista Orpheu, que saiu em fins de Março de 1915. Ao contrário do esperado, e apesar de largamente noticiada na imprensa, Orpheu foi alvo de troça de muitos: “Maluqueira literária”, “Os poetas do Orpheu e os alienistas” e “Orpheu nos infernos”, foram alguns dos títulos de artigos que saíram em vários jornais. “Os poetas eram apontados na rua e toda a gente falava do Orpheu. Deste modo, a revista comprada para ler ou para escarnecer, esgotou a sua tiragem de 450 exemplares. O segundo número saiu 3 meses depois, com uma tiragem de 600 exemplares e também esgotou”, relata Zenith. No número dois do Orpheu, mais de um terço da revista era preenchido por obras de Pessoa, muitas delas assinadas por Álvaro de Campos, o primeiro dos três heterónimos a ser revelado publicamente. As pequenas tensões existentes no grupo e o escândalo que alguns textos de Campos suscitaram na opinião pública, além das dificuldades económicas, fizeram com que o terceiro número nunca chegasse a ser publicado. O suicídio de Mário de Sá-Carneiro, em 1916, viria a unir novamente os companheiros, que começaram a publicar várias revistas sobre literatura: Exílio, Centauro e Portugal Futurista foram alguns dos títulos que apareceram.
Mas era nos cafés lisboetas que os amigos se juntavam para falar sobretudo sobre arte e literatura. Dos muitos cafés frequentados por Pessoa, apenas dois sobreviveram até aos nossos dias: A Brasileira do Chiado, fundado em 1905, e o Martinho da Arcada, em 1782.
Apesar de ter «nascido» a 16 de Abril de 1889, Alberto Caeiro apenas «apareceu» a Pessoa a 8 de Março de 1914, surgindo a história do «dia triunfal» dado que Caeiro, escreveu, de um jacto e «numa espécie de êxtase», mais de 30 poemas de “O Guardador de Rebanhos”. Richard Zenith refere que o nome Caeiro poderá ter surgido como uma homenagem ao melhor amigo de Pessoa, Mário de Sá-Carneiro. “O nome Caeiro é Carneiro sem carne, dado a um pasto cujas ovelhas foram espiritualizadas em pensamentos. Sá-Carneiro suicidou-se poucas semanas antes de completar 26 anos e Alberto Caeiro, segundo a sua «biografia» também morreu jovem, com 26 anos, de tuberculose”.
Álvaro de Campos nasceu em Tavira em 1890, estudou engenharia naval em Glasgow, viajou pelo oriente, viveu alguns anos em Inglaterra até que se fixou em Lisboa. “Enquanto os seus colegas heteronímicos viveram uma existência secreta durante mais de uma década, só sendo publicamente revelados em 1924 (Reis) e 1925 (Caeiro), Álvaro de Campos teve uma projecção mediática quase imediata”, diz Zenith.
Ricardo Reis, médico e neoclassicista, nasceu em 1887 no Porto e era monárquico. Por isso mesmo teve de se exilar no Brasil, onde terá vivido o resto dos seus dias. Sobre a sua mudança Pessoa disse: “é uma morte parcial; morre qualquer coisa em nós” e “e assim mudar para melhor, porque mudar é mau, é sempre mudar para pior”.
Definido por Pessoa como um semi-heterónimo surge Bernardo Soares, guarda-livros, cujo lugar de trabalho correspondia ao mesmo local para onde o poeta redigia cartas nos anos 20 e 30. Sobre a sua personalidade disse: «não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela». Sobre as críticas feitas aos seus heterónimos Pessoa desabafou: «E contudo – penso-o com tristeza – pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm de ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples!»
Família e Ofélia Queirós
Pessoa não era um homem muito chegado à família. Quando as tias mais chegadas faleceram, o poeta passou a viver sozinho mudando constantemente de residência, sempre localizada entre os bairros da Estefânia e dos Anjos. Contudo, Pessoa chegou a queixar-se de dificuldades económicas e de não ter ninguém a quem recorrer, embora a miséria nunca lhe tivesse batido à porta. A culpa de nunca ter dinheiro era o tempo que Pessoa queria dedicar à escrita, o que fazia com que recusa-se trabalhos a tempo inteiro. Foi num desses trabalhos que Pessoa conheceu Ofélia Queirós. Em Novembro de 1919, quando Ofélia respondia a um anúncio (e seria admitida) na empresa para a qual trabalhava o poeta trabalhava, começou uma troca de olhares entre os dois, que resultaria em namoro. Pessoa declarou o seu amor citando Hamlet, mas mudava constantemente de humores: tanto era afectivo, como indiferente, pelo que Ofélia lhe pediu uma declaração por escrito sobre as suas intenções. É nessa altura que começa a troca de correspondência entre os dois. Foi nas palavras de Ofélia “um namoro simples”, porque Pessoa nunca quis conhecer a família dela nem nunca a apresentou à sua. Mas guardou todas as suas cartas e mesmo os bilhetinhos mais insignificantes.
Morte
No início de 1933, com 44 anos, Pessoa parecia mais velho que a sua real idade. Para o seu envelhecimento precoce poderá ter contribuído os grandes momentos de solidão. Bebia e fumava muito. Por isso mesmo, era acometido por crises hepáticas ou pancreáticas. Em Setembro de 1935 uma crise mais forte abateu-o e a 19 de Novembro escreveu o seu último poema em português. Oito dias depois, 27 de Novembro, sofreu mais uma crise, precisamente no dia em que se comemorava o aniversário da sua irmã. Estranhando o facto de Pessoa não comparecer ao evento, o cunhado foi procurá-lo no dia seguinte. Pessoa parecia ter melhorado um pouco, mas a 29 de Novembro ficou internado no Hospital de São Luís dos Franceses, no Bairro Alto. Nesse dia escreve as suas últimas palavras “I know not what tomorrow will bring” (não sei o que trará o amanhã) com mão segura e letra firme, dotando a frase e sublinhando a data duas vezes. “O amanhã trouxe-lhe a morte, talvez devido a uma pancreatite aguda, entre as 20 e as 21 horas”. A 2 de Dezembro foi enterrado no Cemitério dos Prazeres. “Como legado à humanidade deixara na Rua Coelho da Rocha, n.º 16, uma despretensiosa arca de madeira que continha milhares de originais dactilografados ou manuscritos em cadernos, agendas, papel de escritório onde trabalhara, papel de cafés que frequentava, folhas volantes, facturas ou impressos, envelopes e pedaços de papel rasgado –na sua grande maioria inéditos”, diz Zenith. A notícia da sua morte, porém, apenas sairia nos jornais três dias depois. Tendo morrido no fim de sábado, 30 de Novembro e não se publicando jornais no domingo à tarde nem na manhã de segunda-feira, por ter sido feriado na véspera, a ocorrência da morte de pessoa só foi anunciada após o funeral que reuniu 50 pessoas. O Diário de Notícias publicaria, na 1.ª página, uma notícia intitulada: “Morreu Fernando Pessoa, grande poeta de Portugal”, e outros jornais deram também notícias da sua morte em páginas interiores. Após analisados todos os documentos da arca que Pessoa deixara é que o poeta viria a ser conhecido totalmente, corria o ano de 1990. “Viemos a saber que, ao longo da vida e desde a infância, Pessoa inventara não 3, nem 10, nem 30 personagens-escritores, mas mais de 70”, diz Zenith. “É uma drama em gente, em vez de em actos”, explicou Pessoa num texto publicado em 1928. “No jazigo da sua avó Dionísia, no cemitério ocidental de Lisboa, o Grande Poeta esperava por nascer. Aguardava não só que as suas obras fossem devidamente publicadas, mas também que o tempo passasse, trazendo a próxima geração de leitores, mais susceptível de apreender o seu génio – que nunca poderia ser plenamente apreciado pelos seus coetâneos, segundo as teorias sobre a imortalidade”, continua o autor da fotobiografia. O centenário de Pessoa foi celebrado por uma profusão de iniciativas em Portugal e além-fronteiras, mas a coroa da glória do rei-poeta foi a trasladação dos seus restos mortais para o Mosteiro dos Jerónimos. «Cada vez mais perto do mito, cada vez menos perto de mim» - Álvaro de Campos vaticinava o futuro. Hoje a poesia e prosa de Pessoa é publicada em todos os continentes e em cerca de 40 línguas.