quinta-feira, 11 de junho de 2009

Os meninos descalços

O motivo da Ana Paula estar com este sorriso solto aí na foto acima é um só: Samuel. Menino roedor de livros desde o ano passado, naquele dia apareceu com uma pergunta daquelas que desconcertam a gente pela simplicidade, expontaneidade e força quando acontece dentro de um projeto de leitura. Foi no final da manhã de sábado, 30 de maio. Era a hora das crianças escolherem os livros para empréstimo. Edna e Célio estavam viajando, cada um com seus motivos profissionais e particulares. Na Ceilândia, eu, Ana Paula e as crianças.

Ao chegarmos, muito barulho (a creche passa por uma reforma) e foi preciso uma sessão enorme de músicas e brinquedos cantados até que fosse possível reunir o grupo para uma boa mediação. Ouvidos atentos para Marina e Makulelê (Gilles Eduar, projeto Bem Me Quer). O livro encantou a todos com seu enredo simples valorizando as amizades que se formam apesar das diferenças seja na aparência, nos costumes, enfim. Após a leitura, Ana Paula perguntou ao pequeno grupo se ali havia alguém diferente.

Depois de um breve silêncio um deles respondeu afirmativamente e apontou para outro: "Fulano é diferente". Observamos ali que uma das crianças com mais características distintas do grupo enxergou no outro algum problema. Mas ressaltou: "Eu gosto muito dele. Somos amigos". E são mesmo. Brincam juntos. Brigam juntos. Como todas as crianças. Dividem suas histórias. As da vida. As dos livros.

Ana Paula leu ainda As Meninas Descalças (Jonas Ribeiro, Projeto Bem-Me-Quer), outro texto reforçando a importância em conviver bem na diversidade. Ali, no tapete vermelho, todos atentos à história do encontro, na praia, entre duas meninas de classes sociais opostas. "As meninas estão descalças como nós aqui no tapete", lembrou uma das crianças. Pura sabedoria infantil.

Depois da mediação, hora de escolher os livros. Ana Paula com as fichas e sacolas, eu com a câmera e os meninos comos livros. Foi então que apareceu o Samuel perguntando: "Tem mais livros do André Neves?". Ana levantou a cabeça e pescou na caixoteca A Caligrafia de Dona Sofia. "Esse eu já li", disse o menino. Ana procurou mais um pouco e ofereceu Poesias dão nomes ou nomes dão poesias? "Esse eu já li", disse o menino. Ana então encontrou O Monstro Monstruoso da Caverna Cavernosa, de Rosana Rios que, em nova versão, ganhou ilustrações de André Neves. "É esse o que eu vou levar", gritou Samuel, pegando o livro e guardando-o na sacola. Aquele livro havia acabado de chegar junto com o Mateus (que veio depois da aula, mesmo atrasado), outro fã do autor e ilustrador pernambucano. As outras crianças escolheram seus livros e fomos todos para casa. Eu e Ana Paula, felizes, por colher frutos tão saborosos em nosso jardim de livros. Amo muito tudo isso! Hatuna Matata!!!

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