segunda-feira, 22 de junho de 2009

Castelo Perigoso

TRECHO:
(Capítulo primeiro – Com quem deve a haver paz quem quiser edificar um castelo)
Quem quer fazer um castelo deve-o edificar em terra de paz, porque quanto homem fizesse
em comarca de guerra em um dia, em outro seria derrubado. E por em antes que
comecemos de edificar nosso castelo, cumpre resguardar e aprender com quem devemos
de haver paz e como devemos a viver para nossa saúde.
Eu digo que homem deve de haver paz primeiro com Deus; desde aí com seus maiores.
Terceira com seus próximos. Quarta consigo mesmo. E se alguma destas pazes falece, mal
se pode edificar castelo que dure.
Digo primeiro que homem deve fazer paz com Deus em três maneiras: primeira que homem
deixe e renuncie os pecados de feito e de vontade. Desde aí, que se meta esforçadamente à
pendência e a fazer boas obras. A terceira que persevere em bem até o fim. E destas três
coisas uma sem outra não vale nada.
A esta paz não pode algum vir se não há verdadeira contrição e dor no coração, com
repreendimento dos pecados com que anojou o seu senhor Deus. E muito há grande razão
de profundamente gemer e de se fundir toda em lágrimas a pessoa que assanha seu
criador, pecando mortalmente, onde perde Deus e o paraíso e ganha os tormentos do
inferno, e perde os bens que dantes havia feitos, se o Deus não chama por sua graça, e é
tornado servo do diabo; e a alma, que era filha e esposa do rei da glória, é feita serva e
barreguã do inimigo. E depois do repreendimento deve vir à confissão. Esta é a boa
camareira que limpa a casa e lança fora toda a sujidade com a vassoura da língua, assim
como diz Davi.

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