quinta-feira, 4 de setembro de 2008

João Tordo | As Três Vidas

1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «As Três Vidas»?
R- Representa um enorme passo em frente e dois para trás. Explico: um passo em frente porque é, dos três romances que tenho publicados, aquele com mais fôlego, mais páginas, mais densidade dramática e de estrutura, mais personagens, mais enredos cruzados. Para mim, foi uma superação pessoal, uma vez que neste romance atravesso vinte e cinco anos da história pessoal de um narrador e, ao mesmo tempo, praticamente um século de História mundial; existe também um arco nesta História, como se ela própria fosse uma personagem, culminando na intersecção da vida de uma das personagens, a Camila, com a maior catástrofe dos tempos modernos. Tive dúvidas de que conseguisse fazê-lo; agora sei que foi um sucesso pessoal, muito apoiado pela confiança e trabalho das minhas editoras, a Rosário Pedreira e a Ana Pereirinha. Dois passos para trás: porque me fez regressar à origem do meu trabalho como romancista. Redescobri o sentimento de completa liberdade criativa (ie, de dúvida permanente) e o meu posicionamento nesta vida enquanto escritor. Mais não explico!

2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Uma frase que li num livro do Javier Cercas, que diz qualquer coisa como: "foi neste estado de funambulismo que me encontrei naqueles dias...", ou assim. A palavra atraiu-me imenso: funambulismo. Fui à procura dos funâmbulos, descobri-os, quis escrever um romance sobre caminhar na corda bamba. Ao mesmo tempo, andava fascinado com a ideia de um casarão no meio do campo onde se passassem coisas misteriosas e obscuras, muito ao jeito de um conto do Poe. Misturei as duas coisas na centrifugadora da minha cabeça e acabei com este romance, que inclui um velho enigmático chamado António Augusto Millhouse Pascal, três netos rebeldes, a violência da guerra e uma viagem pessoal à descoberta de todos os mistérios deste mundo.

3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- É difícil dizer concretamente. Estou na fase de ebulição, isto é, a misturar várias ideias para ver se funcionam. Há para aqui algures uma cabana perdida num bosque. E digamos que vi recentemente um documentário sobre os Beatles que me fascinou. Também ando a pensar muito no tema da amizade. Veremos. Ainda é cedo.
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João Tordo
As Três Vidas
QuidNovi

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