Quem me conhece (nem que seja virtualmente), sabe que A Bíblia de Barro era aquele livro que, não tendo, queria ter. Recebi-o no Natal como recompensa de ter sido uma boa menina... ou melga, não sei. Confesso, desde já, que, apesar de ter gostado e o recomende, não escolhi a melhor altura para o ler. Sinto que não soube apreciar a leitura ao máximo e, sobretudo, que houve aspectos que me passaram ao lado.
A acção da obra centra-se na descoberta de umas pequenas tabuinhas com o relato da Criação [do Mundo], ditado pelo próprio Abraão. Uma descoberta sem precedentes que revolucionaria a Igreja e a Humanidade. Porém, para ser revelada ao Mundo na sua totalidade, é necessário que se realize uma investigação arqueológica num dos países mais odiados por tudo e por todos: o Iraque. A trama acontece, precisamente, em 2003, por alturas da pré-invasão do Iraque pelo presidente George W. Bush. Daí que a autora Júlia Navarro tenha aproveitado para explorar ao pormenor os bastidores desta guerra e todos os jogos de interesses associados, criando, logo aí, uma identificação entre o leitor e a obra.
Ao longo do livro, e à medida que a investigação arqueológica vai prosseguindo, são revelados três núcleos de personagens movidos por interesses distintos, entre o desejo de glória pessoal, riqueza e vingança. Todos estão unidos, mas isso vai-se descobrindo pouco a pouco à medida que a autora cruza o passado e o presente das personagens. Essa transição cria um ritmo consistente ao livro e incentiva a leitura. Para além disso, a caracterização das personagens é bastante forte tanto física como psicologicamente. Os sentimentos de vingança, de luta, de incompreensão, de poder e de absolvição estendem-se, por conseguinte, aos leitores que, envolvidos pela trama, dividem os bons dos maus e assumem a sua defesa.
O que mais me fascinou nesta obra foi o facto da autora ter conseguido uma boa interligação entre vários acontecimentos que marcaram a Humanidade e o romance. Em apenas algumas páginas, estamos a ver o Mundo a ser criado, através de relatos de Abraão, e devidamente fundamentados, passamos pelas torturas da II Guerra Mundial, onde somos invadidos por uma repulsa enorme, e, finalmente, somos confrontados com a guerra no Iraque, baseada em mentiras e interesses que muitos viram, mas de que não quiseram falar.
Finalmente, uma palavra para a escrita da autora que é fluída, sem grandes floreados, e recheada de diálogos que facilitam a leitura. Pessoalmente, como desvantagem, aponto-lhe apenas o facto de nem sempre identificar o interlocutor e, por isso, exigir dos leitores grande concentração. De Júlia Navarro tenho ainda para ler O Sangue dos Inocentes, que espero ler em breve.
8/10 - Muito Bom
oi
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