
Este livro interessou-me, logo à partida, pela experiência profissional do autor, face à minha formação académica enquanto jornalista. A aventura a que Michael Hastings se propôs trouxe-lhe, no entanto, dissabores que o título do livro revela de imediato. Nesse sentido, poder-se-à pensar que há pouco a descobrir, mas a verdade é que as cerca de 200 páginas escondem acontecimentos e emoções cativantes. O meu Amor morreu em Bagdade é um relato das memórias do autor, muitas delas traumáticas, e, por isso, inevitavelmente, não pude deixar de o comparar com Um Coração Poderoso, de Marianne Pearl, que se centra também no sofrimento pessoal. Contudo, o primeiro cria um maior entrosamento entre o leitor e o autor, transformando a leitura quase numa conversa a dois.
Depois de quase dois anos de guerra, o repórter Michael Hastings decide ir atrás do seu sonho e partir para o Iraque em busca do seu furo jornalístico. O que ele não contava era apaixonar-se antes da sua aventura. A distância entre o Iraque e os EUA será uma dura prova ao amor entre o jornalista e Andi e marcará toda a história. De forma simplista, mas sentida, acompanhamos a relação amorosa de ambos ao longo dos dois anos que durou. A escrita simples e pouco trabalhada permite-nos acompanhar as suas discussões, os seus planos, as suas conversas como se ambos estivessem diante de nós. Daí que o final da obra, mesmo esperado, nos toque de forma comovente. De salientar que, sem reservas, o autor partilha com o leitor conversas íntimas que nos fazem compreender toda a experiência pela qual ele e Andi passaram, sem nunca se queixarem nem fazerem exigências um ao outro.
No entretanto, o seu dia-a-dia de trabalho naquela zona de conflito é também dado a conhecer. O leitor tem acesso a relatos sobre a vida no Iraque, pós-invasão americana, sob o ponto de vista dos invasores e dos invadidos. Tudo é contado ao pormenor, denotando-se algumas críticas à actuação do governo Bush. O interesse do livro deve-se também à forma quase fotográfica como o autor descreve acontecimentos que acompanhámos pela televisão, nomeadamente o enforcamento de Saddam Hussein, os ataques a mesquitas e o conflito entre xiitas e sunitas. Abstraindo-se da sua própria dor, Michael Hastings dá igualmente voz a muitas famílias face a uma realidade que muitos querem esquecer: o número exorbitante de mortos, sobretudo entre os soldados americanos, mas também de iraquianos.
7/10 - Bom
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