quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A Catedral do Mar

Sinopse: Século XIV. A cidade de Barcelona encontra-se no auge da prosperidade; cresceu até ao humilde bairro dos pescadores, cujos habitantes decidem construir, com o dinheiro de uns e o esforço de outros, o maior templo mariano conhecido: Santa Maria do Mar. Uma construção paralela à desditosa história de Arnau, um servo da terra que foge dos abusos do seu senhor feudal e que se refugia em Barcelona. Daqui se torna cidadão e, assim, num homem livre. O jovem Arnau trabalha como estivador, palafreneiro, soldado e cambista. Uma vida extenuante, sempre à sombra da Catedral do Mar, que o tirará da condição miserável de fugitivo para lhe dar nobreza e riqueza. Mas com esta posição privilegiada chega também a inveja dos seus pares, que tramam uma sórdida conspiração que põe a sua vida nas mãos da Inquisição... Lealdade e vingança, traição e amor, guerra e peste, num mundo marcado pela intolerância religiosa, a ambição material e a segregação social. Um romance absorvente, mas também uma fascinante e ambiciosa recreação das luzes e sombras do mundo feudal.

A expectativa em relação a este livro era enorme, pelas opiniões que tinha lido e ouvido. Na maioria das vezes não é bom partir para um livro com expectativas tão elevadas, porque a probabilidade de desilusão é maior. Neste caso, não posso dizer que fiquei desiludida, mas esperava que o livro me tivesse arrebatado mais. Um pouco como quando esperamos tirar um 20 num exame, mas afinal só conseguimos o 18.

Neste romance histórico, acompanhamos a vida de Arnau Estanyol, desde as dificuldades na sua infância até ao sucesso obtido na idade adulta como cambista. Pelo meio, assistimos a várias peripécias da personagem principal, sempre com um denominador comum: a construção da igreja de Santa Maria del Mar. A ligação de Arnau com esta igreja marca boa parte do livro, tanto na sua condição de bastaixo (os homens que carregavam as pedras com que se construiu a igreja), como quando necessita de força para enfrentar as dificuldades que a vida lhe apresenta, apoiando-se sempre na única figura materna que conheceu - a Virgem Maria.

A reconstituição histórica é sublime. A cidade de Barcelona ganha vida aos nossos olhos: a sua configuração, as suas gentes, os seus costumes. Gostei particularmente de tomar conhecimento da host de Barcelona: sempre que havia um cidadão de Barcelona a invocar que fosse feita justiça, as pessoas da cidade juntavam-se e iam em seu socorro. Para além disso, são dadas vastas explicações do contexto da época, desde as guerras entre os soberanos da Catalunha, Castela e Maiorca, ao estado da economia da época e das características comerciais da cidade. Está também presente uma interessante perspectiva sobre os tentáculos da Inquisição e sobre o fanatismo religioso que se vivia na altura, não só em Barcelona mas no resto da Europa. Por fim, entramos também em contacto com a terrível peste e as consequências nefastas que provocou.

A espaços, recordei-me d'"Os Pilares da Terra", de Ken Follett, pela semelhança de ambos os livros versarem sobre a construção de uma catedral. Contudo, no livro de Ken Follett o próprio edifício tem um papel mais importante e, na minha opinião, Ildefonso Falcones escreve bem melhor: a sua escrita é envolvente e cuidada, e deixa muito boa impressão.

Resumindo, é um excelente livro para quem gosta de romances históricos. A nível de enredo deixou-me um pouco a desejar, não porque seja mau, mas mais pelo rumo que por vezes desejamos que a história siga, quando no fim o autor opta por ir por outro caminho. Apesar disso, foi uma leitura muito boa, que não posso deixar de recomendar.

8,5/10

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