sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Liber CDXVIII: Liber XXX Aerum Vel Saeculi - A Visão e a Voz, de Omnia Vincam, Comentado por Aleister Crowley

TRECHO:
O CHAMADO OU CHAVE DOS ÆTHYRS (1)
“Ó Céus Sim, os que habitam o primeiro Ar (2) e são poderosos nas partes da Terra e nela
realizam o Julgamento do Altíssimo, a vocês eu digo: Contemplai a Face do teu Deus, o
início do conforto cujos olhos são o esplendor dos Céus, os quais provem a ti para Governar
a Terra e a sua indizível variedade, dando-te um poder de compreensão, que possas dispor
de todas as cousas de acordo com a presciência Dele que senta no Trono Sagrado (3)
erguendo-se no Início dizendo: A Terra, que ela seja governada por suas partes e que nela
haja Divisão que a sua glória possa sempre ser o êxtase e a agitação do orgasmo. O curso
dela circula com os Céus e, como uma criada, deixe-a servi-los Uma estação, deixe-a
confundir outra e que não haja criaturas, sobre ou dentro dela, iguais entre si. Todo o seu
membro deixe-os diferenciar-se em suas virtudes e que não haja Criatura igual à outra. As
Criaturas racionais da Terra e os Homens, que eles caiam em cólera e extirpem um ao
outro. E suas moradas, que eles esqueçam o nome delas A obra do homem e seu
esplendor, que eles apodreçam Sua construção, que seja uma Caverna para o Campo da
Besta. Confunda a compreensão dela com trevas. Pois me regozijo pela Virgem e pelo
Homem. Que ela seja conhecida e o outro um estranho, pois ela esta no leito de uma
meretriz e a morada dele desmoronou
Ó Céus sim, erguei-vos; os céus inferiores, que eles assim sirvam-te, Governai aqueles que
governam; rebaixai-os; trazei aqueles que crescem; e destrua o podre. Em lugar algum que
fiquem em um número. Somai e subtrai até as que estrelas sejam todas contadas. Ergueivos!
Movei-vos! e Aparecei-vos! Ante o Pacto feito entre Sua boca e aquilo mostrado em
sua Justiça. Mostrai os Mistérios da sua Criação e compartilhai conosco O IMACULADO
CONHECIMENTO.”

PREFÁCIO
"Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor,
eu nada seria."
Renato Russo

Allah Akbah (Deus é grande).
Uma das mais queridas palavras para Deus segundo o islamismo, fé cujo povo é dono de
duas características marcantes: a religiosidade e a tradição em contar histórias. A devoção
nessa crença é expressiva, muitas vezes divulgada por atitudes inconseqüentes de poucos
desequilibrados. Entre os árabes existe a figura do contador de histórias, ela é secular. Em
algumas cidades existem corporações desses narradores que são tradição. A força é tão
intensa que a cultura ocidental há décadas conhece as aventuras de Simbá, Aladim, Ali
Babá vindos das histórias de Cheherazade.
Nada mais adequado do que as terras do Islã servirem como palco a uma fantástica
aventura mística através da psique humana... e além.
Liber 418 é considerado pela Besta como o segundo livro em importância, perdendo
apenas para Liber Al vel Legis (o Tarô de Thoth por exemplo utiliza bastante as
conclusões da obra). Para obtê-lo, Aleister Crowley e seu discípulo, o poeta inglês Victor
Benjamin Neuburg , viajaram as terras áridas da Argélia e ali realizaram invocações
específicas de onde saíram a série de conceitos que alicerçaram a filosofia de Thelema.
Valendo-se do sistema enoquiano de John Dee e Eduard Kelley, Crowley iniciou as
invocações no ano e 1900 e.v. no México, porém o seu despreparo espiritual o levou
apenas a invocação dos dois primeiros éteres (as invocações se iniciaram no trigésimo e
seguiram na ordem decrescente). Em 1909 e.v., no dia 17 de Novembro chega a Argélia e
dá seqüência ao processo, repetindo a experiências de seus compatriotas: no dia 23 de
Novembro, de posse de uma pedra-de-vidência, um topázio dourado, incrustada numa cruz
grega de cinco quadrados e uma rosa de quarenta e nove pétalas no meio, penetrou nos
Éteres, entoando o chamado da décima nona chave enoquiana, ficando a cargo de seu
chela a função de escriba. O resultado foi um conjunto de visões de caráter enigmático, em
sua maioria, porém, de uma força e beleza impressionantes.
Nitidamente influenciada pelo Apocalipse de São João (originalmente um apócrifo), a obra
expõe acontecimentos futuros e explica alguns pontos importantes da iniciação thelêmica:
ali está reconstrução do ritual de Abramelim, o Mago, o caminho para a Travessia do
Abismo, a simbolização da derrocada do Æon de Virgem-Peixes e a revelação de Babalon
e seu papel na evolução espiritual, todos esses eventos costurados pelo tema principal: o
nascimento de um Magister Templi ou Buda. Ambas as obras tratam do mesmo evento, a
primeira, no entanto, tornou-se obscura e hermética, cabendo a Besta desenvolver uma
mais adequada (e ainda hermética) a nova era que anunciou.
A Nova Jerusalém torna-se conhecida agora pro Cidade das Pirâmides sob a Noite de
Pan. Se lermos o seguinte trecho do Apocalipse:
“E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das últimas sete pragas, e falou
comigo dizendo: Vem, mostrar-te-ei a esposa, a mulher do Cordeiro”.
“E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a
santa Jerusalém, que de Deus descia do céu.”
A mulher do Cordeiro (uma besta) representa Binah, a primeira sephirah do estágio
mencionado, bem como Sophia, a sabedoria Virgem de Deus (Chokmah) , a Grande
Deusa, Babalon, manifestação de Nuit e também a “Cidade”. Entre os gnósticos, a
cidade era um arquétipo de caráter feminino, representante do pensamento divino em
manifestação, o centro da sabedoria (a cidade mais famosa da antiguidade centro da
cultura mundial era Alexandria “onde deuses caminhavam lado a lado nas ruas ”. Todos
os caminhos levavam a caótica Roma, mas poucos a Alexandria ).
A carta referente a Cidade das Pirâmides, é a XXI, o Universo, a segunda carta onde
vemos uma mulher conjugada com uma besta. Lembrando que 21 é 12 ao contrário.
Reduzindo o 12 (a carta símbolo da iniciação, o "mergulho" no inconsciente) chegamos a 3.
A carta 3 é um dos arquétipos do Amor, lembrando que “Amor é a lei, amor sob
vontade”. Não apenas uma regra de conduta, mas condição para concluir a travessia do
Abismo e chegar a ... Cidade das Pirâmides . A travessia dá-se sacrificando
definitivamente o ego, “o abandono absoluto de si mesmo “ ,” derramando todo o
sangue na taça de Nossa Senhora Babalon ”
Voltando ao capítulo 21 do Apocalipse versículo, 27:
“E não entrará coisa alguma que contamine e cometa abominação e mentira; mas só
os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro.”
Citando Liber Al :
“Por um beijo tu quererás então dar tudo; mas aquele que der uma partícula de pó
tudo perderá naquela hora”.
Só o verdadeiro Amor, representado pelo ato do beijo, fará com que o iniciado logre êxito
no temível passo. Esse amor é o advindo da realização da primeira parte do aforismo: “Faze
o que tu queres, há de ser tudo da lei.”.
As Chaves De Enoque
É dito no meio ocultista que apenas aqueles que souberem a linguagem dos anjos
sobreviverão ao Apocalipse. Uma referência a linguagem enoquiana neste evento crítico
da carreira do iniciado.
O enoquiano é um sistema de magia desenvolvido por John Dee e pelo vidente Edward
Kelley no sec. XVI. Através de um sessão de vidência numa bola de cristal, os dois
estabeleceram comunicação com supostos anjos, que lhes passaram um tipo de linguagem
nativa dessas entidades. Junto passaram um alfabeto de 21 letras (um verdadeiro idioma
com regras próprias de gramática), 19 invocações e conhecimentos ocultos. Segundo a
história, as palavras possuem um poder tão grande ao serem pronunciadas, que foram
passadas de trás para frente. O nome vem do personagem bíblico Enoque conhecido por
receber dos anjos o conhecimento da Cabala.
Um fator um tanto hermético ainda, é a relação dos Éteres (Æthyrs) com a Árvore da Vida.
A A.·.A.·. se vale da Árvore como mapa de evolução, no entanto, foi penetrando nos
Éteres que Frater V.V.V.V.V. (4) obteve informações preciosas para estruturar o seu
sistema. No 12º Éter é dito:
" Mas revelo a ti um mistério dos Éteres que não estão apenas ligados as Sephiroth
mas também aos Caminhos. O plano dos Éteres interpenetra e envolve o universo
onde as Sephiroth estão inseridas e por isso a ordem dos Éteres não e a mesma da
Árvore da Vida. Em poucos lugares coincidem. No entanto, o conhecimento dos
Éteres é mais profundo do que o das Sephiroth, pois nos Éteres está o conhecimento
dos Æons e de Thelema."
No 29º o Profeta conclui alguma coisa sobre o assunto, porém, no comentário, invalida a
conclusão, apesar da mesma ser repetida no 3º:
"É necessário frisar que os últimos três Éteres possuem dez anjos atribuídos a eles e
os mesmos representam as dez sephiroth. No entanto estas dez formam apenas uma
Sephirah, uma Malkuth - pendente para os próximos três éteres, e assim por diante,
cada conjunto sendo absorvido pelo maior .O último grupo consiste, portanto, dos
três primeiros éteres com os últimos vinte e sete restantes como seu Malkuth. E as
letras dos três primeiros éteres são os sigilos-chave da mais exaltada interpretação
da Sephiroth."
No 3º:
"Apenas nos primeiros três Éteres encontramos a essência pura, pois todos os
outros Éteres são como uma Malkuth a completar essas três tríades"
É uma tarefa difícil tentar associar sephiroth com Éteres e caminhos específicos, pois
alguns atribuídos a Malkuth tratam de eventos da Tríade Superior. Existe ainda a
associação dos Éteres com as Cartas do Tarô. Uma saída seria associar com os mundos
da Árvore. Assim os 27 últimos pertenceriam ao mundo de Assiah, o da manifestação.
Assim o Éter 18, por exemplo, poderia se referir a Thiphareth de Malkuth e não a
Thiphareth de Thiphareth. A obra deveria ser o mais inteligível possível, daí a maioria dos
Éteres estarem em Assiah: uma linguagem acessível. As três primeiras então se refeririam
a Yetzirah, Briah e Aziluth do Profeta. Quanto mais alto o mundo, mais universais os
conceitos expostos.
Aos interessados em enoquiano, consultar Liber LXXXIV vel Chanokh (5).
Quanto a esta versão em português mantive a terminologia usada por Marcelo Motta nas
suas traduções, seus neologismos ou palavras não traduzidas adequadamente (mas
válidas) para manter coerência com sua obra a qual é, incontestavelmente, referência. Os
erros crassos foram corrigidos quando percebidos. Eventualmente ocorreram algumas
imperfeições no texto que deveu-se a tentativa de não "mudar muito o estilo de várias
letras" e a imperícia com a esotérica língua portuguesa. Aconselho a manterem o “original
feito pelas mãos da Besta” ao lado.
Gostaria de agradecer a Frater A.I. pela ajuda na correta tradução dos nomes das ervas.
Keron-e

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