
Tinha este livro debaixo de olho desde que foi lançado, devido às boas referências que tenho lido em relação ao autor (apesar de ainda não ter lido nada dele), e por isso a simpática oferta da Saída de Emergência devida à minha participação no Fórum BANG! foi recebida com bastante alegria e expectativa.
O espaço físico deste livro centra-se numa Península Ibérica medieval dividida pela fé religiosa, na qual encontramos 3 povos distintos: os Asharitas (baseados nos muçulmanos), os Kindates (baseados no judeus) e os Jaditas (baseados nos Cristãos). Tal como a certa altura da história da Península Ibérica, os Jaditas ocupam o território do norte, enquanto que os Asharitas têm o domínio sobre o sul. No entanto, a aparente paz é precária devido aos anseios de conquista de quem detém o poder em Al-Rassan.
É neste contexto que encontramos as 3 personagens principais deste livro, cada uma delas pertencente aos povos que referi: a médica kindate Jehane bet Ishak, o capitão jadita Rodrigo Belmonte e o poeta asharita Ammar ibn Khairan. É o destino destas personagens que seguimos ao longo do livro, entrelaçado com o próprio destino da terra que habitam.
Devo dizer-vos que a leitura deste livro, que se pode enquadrar na categoria de romance fantástico-histórico, foi um prazer do início ao fim. A construção deste novo mundo, a partir de um outrora existente, é sublime: a descrição detalhada de cidades, pessoas e costumes dá vida a Al-Rassan e permite que o leitor a visualize de uma forma muito completa. Só tive pena que não estivesse presente um mapa, que facilitaria bastante a percepção da localização dos palcos dos principais acontecimentos.
As personagens principais (e muitas das secundárias) são fantásticas. São fortes, brilhantes, mas acima de tudo, humanas. Ao longo da leitura, vão-se tornando quase como família, tal é o carinho e admiração que suscitam no leitor. De todas elas, a minha preferida foi Ammar ibn Khairan, auto-entitulado poeta, mas para além disso assassino, diplomata, e cheio de mistério. Simplesmente fascinante.
Gostei muito do estilo que o Guy Gavriel Kay utilizou para contar esta história. Apesar de não ter ainda lido outras obras dele, deduzo que seja uma voz muito própria. Percebe-se que sabe, habilmente, levar o leitor por um caminho quando afinal a história foi por outro. Para além disso, há partes da história verdadeiramente emocionantes: uma delas fez-me ficar com as lágrimas nos olhos em pleno comboio da linha de Sintra :)
Para terminar, a minha percepção quanto à mensagem deste livro é a necessidade de tolerância e compreensão entre os povos. O facto de acompanharmos os vários lados da barricada faz-nos compreender que a razão não está em nenhum dos lados, que todos têm as suas virtudes e os seus defeitos. E isso, independentemente de se tratar de ficção ou vida real, continuará sempre a ser importante.
Resumindo, só posso aconselhar esta leitura. Não deixem que esta verdadeira pérola vos passe ao lado. Espero que a SdE aposte brevemente em mais livros deste escritor.
9/10
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