Depois do Codex 632, voltei a ler José Rodrigues dos Santos, mas, desta vez, naquele que considero o seu melhor genéro - o romance histórico. O espaço da acção de A Ilha das Trevas, Timor, não podia estar mais perto e mais longe de mim, enquanto portuguesa. Os acontecimentos vividos nesta ilha marcaram o meu crescimento, mas eram só imagens. Dramáticas, marcantes, mas só imagens. Jose Rodrigues dos Santos teve o condão de me fazer aprender e perceber tudo aquilo que aconteceu ao longo de 33 anos de luta pela independência. Curiosamente, enquanto lia a obra, comemorou-se, a 12 de Novembro, o 17º aniversário do massacre no cemitério de Santa Cruz, em Dili.
O melhor desta obra é, sem dúvida, a investigação que a sustenta. Simplesmente fascinante. José Rodrigues dos Santos, como bom jornalista que se preze, não deixou nada ao acaso e apresenta-nos várias versões do mesmo facto. Quando se falava de Timor, percebia o que estava em causa, mas de forma muito superficial. N' A Ilha das Trevas cada situação foi bastante bem explorada, permitindo-nos finalmente compreender todas as posições e vontades dos envolvidos. Até me consegui surpreender com a vontade e força dos nossos políticos diante dos líderes das grandes potências.
A personagem principal da obra, Paulino, é extraordinária e, ao longo da leitura, a descrição dos seus medos e das suas vivências cativam-nos. A emoção toma conta de nós e, pessoalmente, parece que agora consigo mesmo perceber/sentir o que os timorenses sentiam. Arrepiei-me na descrição dos massacres, senti medo nos momentos de tensão, desejei ajudar, critiquei por não se ter agido mais cedo. Paulino da Conceição é o espelho dos desejos e tormentos de uma nação.
Gostei bastante do estilo da obra. Apesar da importância dramática que encerra, A Ilha das Trevas proporciona uma leitura fluída e agradável que nos faz ir virando as páginas. Nos momentos finais, é impossível não sentir um misto de tristeza por quem pereceu e de alegria pela independência ter vencido.
8/10
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