quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Fundamentos dos Princípios Racionais, de Caruso Samel

TRECHO:
1) Fortalecer a vontade para a prática do bem.
Nós sabemos que a vontade é uma das principais faculdades do espírito. Ela tem por
finalidade pôr em ação tudo aquilo que pensamos ou que sentimos, conforme ditado pela
nossa razão ou refletido por um impulso próprio ou, ainda, captado do ambiente. Se for
fundamentada no impulso de um sentimento, ela incita alguém a fazer acontecer um desejo,
uma aspiração ou anseio. Se a vontade derivar da razão, ela nos leva a fazer escolhas
racionais, a deliberar, a pôr em prática aquilo que foi idealizado mentalmente. Enquanto, a
aceitação pura e simples de nossos desejos pode nos levar para o materialismo desenfreado
e a sensualidade irresponsável, a vontade consciente sempre nos levará a refrear os desejos
malsãos, a nos conduzir para a prática da boa conduta, a sobrepormo-nos ao desejo. Tudo
começa, portanto, com o pensamento, e sendo este uma vibração do espírito, pode-se
entender a importância que ambos — pensamento e vontade — têm na nossa conduta.
É de Coelho Neto, grande escritor e poeta, contemporâneo e amigo de Luiz de
Mattos, ambos abolicionistas e republicanos, com muita coisa em comum, portanto, a
seguinte frase, que bem expressa a relação direta que existe entre a nossa alma e a conduta
que dela decorre: "A alma não tem erros que a conduta não revele". E o que isso quer
dizer? Significa que os vícios morais, os vícios da alma, ficam expostos pela nossa conduta,
que no fundo, no fundo, decorre de nossa espiritualidade jacente.
Fica, pois, claro que os nossos hábitos são ditados pela nossa espiritualidade. Ora, o
que significa isso? O que é de fato a conduta, de onde que ela vem, o que ela representa ?
Tudo tem uma explicação muito profunda dentro de nós. Nós somos o dia-a-dia da nossa
vida; nossa trajetória evolutiva é o resultado do ambiente e do lar, dos nossos pensamentos,
emoções e influências das condições e circunstâncias próprias do mundo físico. Para que
isso fique mais claro, vamos supor o seguinte: que você tem um elevado índice de
espiritualidade e tem de enfrentar uma influência própria desse mundo, digamos o
desemprego, muito comum em nossos dias. Até se defrontar com essa situação, tudo levava
a crer que você estava imune a essa surpresa desagradável, a de se ver despojado do seu
ganha-pão. De repente, você, que é um bom profissional, entra em depressão e desesperase,
muito embora você, que tem uma bagagem evolutiva muito elevada, não devesse chegar
ao desespero nem ficar deprimido. Mas, amigos, esta é uma circunstância própria do mundo
físico! Então, se é uma circunstância própria do mundo físico, nós, enquanto espíritos
encarnados neste mundo, indiscutivelmente estaremos sujeitos a isso. Apesar disso, existem
pessoas que, devido à sua grande fortaleza de espírito, conseguem ser mais fortes que
outras, o que vale dizer que elas encaram essas circunstâncias com maior tranqüilidade e
naturalidade. Cada pessoa age de uma maneira, isto é, cada pessoa é uma pessoa e do
mesmo modo, cada espírito, é um espírito.
Pelo exposto, vemos que nossa conduta depende da trajetória evolutiva, da
importância do pensamento, da reflexão e do raciocínio. Portanto, nós temos que fortalecer
a nossa vontade para a prática do bem. Como é que nós fazemos isso? Procurando sempre
analisar a nossa conduta, mediante um constante exame de consciência, se possível
diariamente, todas as noites, ao nos recolhermos. É pura questão de hábito, e o hábito é uma
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segunda natureza, fundado na disciplina que nos impomos. Se não for possível todos os
dias, devido ao cansaço advindo dos nossos afazeres, pelo menos uma vez por semana,
devemos escolher um momento qualquer em que estejamos calmos e refletir um pouquinho
sobre os atos corriqueiros de nossa vida, tirando boas lições de nossos erros, para não
repeti-los.
Exatamente por isso, meus amigos, é preciso que tenhamos um pouquinho de
humildade; vamos olhar para nós mesmos, vamos ver se algumas pessoas, principalmente
as de nossa confiança, estão criticando alguns dos nossos atos. Tenhamos a humildade de
enxergar os nossos próprios erros. Devemos ficar felizes e agradecer, se a crítica couber. Eu
acho que é dever do amigo, sempre, dentro das normas da educação, com carinho, com
respeito, falar-nos ao pé do ouvido sobre alguma coisa que não lhe pareceu correto de nossa
parte, e ninguém deve se melindrar com isso.
Para arrematar este item, que já se alongou, vem muito a propósito, um pensamento
de autor desconhecido, que servirá para balizar toda a nossa palestra e que diz o seguinte:
"cuidado com seus pensamentos, eles transformam-se em palavras; cuidado com suas
palavras, elas transformam-se em ações; cuidado com suas ações, elas transformam-se em
hábitos; cuidado com seus hábitos, eles transformam-se em caráter; cuidado com seu
caráter, pois ele transforma-se em futuro!" Vocês viram bem onde tudo começou: no
pensamento. Então, nós temos que ter cuidado com o nosso pensamento.

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