TRECHO:
A educação - I
Educar-se é aprender a comandar os instintos e as tendências. Quem não tem horas para
dormir e trabalhar, quem gasta e diverte-se exageradamente e não consegue dominar os acessos de
cólera ou os momentos de medo, também não poderá dominar-se em qualquer circunstância, até
mesmo na sexualidade.
Educação não consiste apenas em boas maneiras, é algo mais amplo, mais profundo, porque
envolve o desenvolvimento da vontade, os problemas da saúde física, da higiene mental, da
formação moral.
Os vícios são verdadeiras doenças morais de que se contagiam os mal-educados.
Educar-se é também preparar-se para a sexualidade normal cuja finalidade é a procriação
como conseqüência da união conjugal. O instinto não controlado é próprio dos irracionais.
Educar é compreender, é reforçar a vida do grupo, compartilhando não só das
responsabilidades e alegrias como do trabalho.
Educação não é somente o maior bem legado aos filhos, mas também o mais alto dever
paterno.
Não se furtem os pais a esse dever, nunca vacilando em colocá-lo acima das experiências e
da tranqüilidade pessoal.
O perigo de não educar os menores é o de legar-lhes um triste futuro: criaturas fracassadas
ou carrascos dos que lhes ensinaram a ser tiranos.
Mas não são poucos os lares onde os filhos implantam anarquia, mandam, olham a mãe
como serviçal.
A delicada tarefa de educar depende de harmonia interior, de equilíbrio, por isso nem todos
os pais estão aptos a ministrá-la, embora sejam sinceramente desejosos da felicidade dos filhos. São
criaturas-problema, mais erradas que culpadas, cujo comportamento é conseqüência da própria
história pessoal: reações afetivas de parentes ou conjugais, agressividade com que foram tratadas na
infância e adolescência. Mas, se a recuperação é uma lei natural, qualquer indivíduo, desde que se
esclareça, que se conheça, é capaz de solucionar os próprios problemas e evitar outros (os dos
filhos).
A maneira de educar não deve ser uma panacéia universal, porque as crianças não são
iguais, mas há princípios gerais que evitam constantes equívocos.
Relações de afetividade indispensáveis ao binômio pais-filhos são envenenadas pelo
autoritarismo que humilha, solapa a confiança, destrói o amor. São comuns em algumas famílias as
ofensas que decorrem dos atritos diários reveladores de falta de confiança, de medo de futuros
fracassos.
É bom que o educador não esqueça que sensibilidade ferida tem ótima memória.
Em educação, é importante a crítica objetiva que se baseia no bem-estar do outro, na análise
que visa ao autocontrole, a qual será realizada com moderação e ponderação. Somente tal atitude do
educador poderá ajudar a refletir.
Educar e aceitar o outro tal qual é, o que não impede de ajudá-lo a tornar-se aquilo que devia
ser. Educar é dar prova de amor, mas existem pais que não dando importância às condições afetivas,
agem de acordo com o modo de pensar. Imaginam que, aplicando apenas bons hábitos
automaticamente, educam muito bem: a criança executa as ordens e, de tanto executá-las, torna-se
um ser forte dotado de personalidade.
Evidentemente, a autoridade é indispensável, mas não impede que se afirme que tanto pode
formar como deformar. Uma criança normal, mal compreendida pelos pais, será educada às avessas.
Atitudes pedagógicas rígidas e humilhantes provocam revolta surda ou declarada. O método
pode ser enérgico, mas desde que apele para uma aceitação espontânea, não terá a inconveniência
de desencadear reações de animosidade ou hostilidade.
O papel dos pais (principalmente da mãe) é aprender a aceitar as piores estórias dos filhos,
podendo até provocá-las nos momentos de tensão para evitar cóleras surdas que conduzem, muitas
vezes, à hipocrisia ou à mentira. Compreender, não para perdoar, mas para aplicar o castigo
merecido.
“Seja bonzinho para agradar a seus pais” é frase que não atinge as necessidades profundas
do adolescente. O erro não está no apelo ao amor filial, mas na maneira inexpressiva de dizê-lo.
Mas explicar que somente o cumprimento do dever abre caminho a uma vida produtiva é reforçar, é
guiar.
Agir sem durezas e fraquezas, aceitando a criança ou o adolescente como alguém que
necessita de uma presença para compreender as contradições e ajudar a compensá-las é o que vale
em educação — o problema mais importante do Brasil, segundo a opinião do eminente mestre
Miguel Couto.
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