TRECHO:
Luiz de Mattos desencarnou no dia 15 de janeiro de 1926, quando completava, exatamente, 66 anos e 12 dias de vida física.
Seu nome todo era Luiz José de Mattos Chaves Lavrador, mas assinava simplesmente, despretensiosamente, Luiz de Mattos.
Nascido na Vila de Chaves, Província de Trás-os-Montes, Portugal, a 5 de janeiro de 1860, era filho de José Lavrador, natural de Orence, Província da Galiza, Espanha, descendente, em linha reta, dos fidalgos Lavrador, e de D. Casemira Julia de Mattos Chaves, que descendia, por sua vez, dos grandes lutadores e fidalgos Mattos Chaves – fundadores da linda, hospitaleira e salubérrima Vila de Chaves (hoje cidade).
Aos 13 anos, em 1873, veio para o Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro, onde o esperava o seu irmão Victorino de Mattos Lavrador, negociante em Santos, que o internou no Colégio São Luiz, em Botafogo, para seguir os estudos.
O desejo, porém, de Luiz de Mattos era ir para Santos, no Estado de São Paulo, para ficar em companhia de seus tios Victorino e João de Mattos Chaves.
Partiu, assim, autorizado por seus tios, para essa cidade, tempos depois, onde se empregou em importante casa de estivas – secos e molhados no atacado – e da qual se passou, mais tarde, para o comércio de café, desenvolvendo aí grande atividade.
Dotado de uma inteligência invulgaríssima, tudo assimilou com incrível facilidade, neste novo rumo de comércio, nada havendo que Ele não soubesse fazer com perfeição, inclusive ensacar, empilhar, separar e qualificar o café.
Seus chefes, que muito o estimavam e admiravam, despacharam-no para o interior de São Paulo e Minas, com a incumbência de comprar e obter consignações de café.
Entregue a essa nova atividade, fez Ele as mais elevadas relações com políticos, fazendeiros, negociantes, industriais, literatos, etc., chegando a alcançar as maiores simpatias entre compradores e vendedores de café, sendo, em breve, o mais considerado dentre os seus colegas.
Despedindo-se da casa em que trabalhava, para se estabelecer, iniciou-se, aos 25 anos, como comissário de café; seu capital era pequeno, mas as excelentes relações que tinha no interior e a sua grande simpatia concorreram para que, ao saberem-no estabelecido, os fazendeiros lhe mandassem a maior parte das suas colheitas, e assim foi ele fazendo uma casa importante, a ponto de tornar-se a maior casa portuguesa em Santos, naquela época, exportadora de café.
Conhecedor profundo da matéria, prestimoso e pontualíssimo na prestação de contas aos seus comitentes, alastrou-se a propaganda da sua casa de tal forma que os fazendeiros, mesmo os que não o conheciam, lhe faziam grandes consignações.
Sempre ativo e trabalhador, Luiz de Mattos chegou aos 26 anos já possuindo valiosa fortuna. Foi fundador de diversas empresas nesta capital (Rio de Janeiro) e em Santos, e dentre elas a Companhia Industrial, a Companhia Carris de Ferro, etc.
Convém observar que esta última foi organizada em época de grandes dificuldades financeiras. Só mesmo seu irresistível prestígio poderia conseguir traduzir em realidade uma idéia que demandava de pronto avultado capital. Além destas e outras empresas, Luiz de Mattos foi igualmente o fundador da Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio, do Real Centro da Colônia Portuguesa, etc.
Entre outros serviços humanitários, destacam-se os que desveladamente fez à Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos. Achava-se em completa decadência essa instituição benemérita, quando Luiz de Mattos, ainda materialista, mas impulsionado pela grande generosidade de sua alma, que até então desconhecia como partícula da Inteligência Universal, pôs ombros à espinhosa e árdua tarefa de levantá-la da prostração em que se achava, e que a aniquilaria por completo, se à sua frente não se pusesse esse homem admirável, cujo semblante de mata-mouros, se contradizia com a brandura da grande alma de que era dotado.
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