terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Assim Falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche

TRECHO:
Preâmbulo de Zaratustra
Aos trinta anos Zaratustra afastou−se
da sua pátria e do lago da sua pátria, e
dirigiu−se à montanha. Durante dez
anos gozou por lá do seu espírito e da
sua solidão sem se cansar. Variaram,
no entanto, os seus sentimentos, e uma
manhã, erguendo−se com a aurora,
pôs−se em frente do sol e falou−lhe da
seguinte maneira:
"Grande astro! Que seria da tua
felicidade se te faltassem aqueles a
quem iluminas? Faz dez anos que te
apresentas à minha caverna, e, sem
mim, sem a minha águia e a minha
serpente, haver−te−ias cansado da tua
luz e deste caminho.
Nós, porém, te aguardávamos todas as
manhãs, tomávamos−te o supérfluo e
bendizíamos−te.
Pois bem: já estou tão enfastiado da
minha sabedoria, como a abelha
quando acumula demasiado mel.
Necessito mãos que se estendam para
mim. Quisera dar e repartir até que os
sábios tornassem a gozar da sua
loucura e os pobres, da sua riqueza.
Por essa razão devo descer às
profundidades, como tu pela noite, astro
exuberante de riqueza quando
transpôes o mar para levar a tua luz ao
mundo inferior.
Eu devo descer, como tu, segundo
dizem os homens a quem me quero
dirigir.
Abençoa−me, pois, olho afável, que
podes ver sem inveja até uma felicidade
demasiado grande!
Abençoa a taça que quer transbordar,
para que dela jorrem as douradas
águas, levando a todos os lábios o
reflexo da tua alegria!
Olha! Esta taça quer novamente
esvaziar−se, e Zaratustra quer tornar a
ser homem".
Assim principiou o ocaso de Zaratustra.

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