segunda-feira, 8 de junho de 2009

Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - DÉCIMO ANO – 1867

TRECHO:
SOBRE O MOVIMENTO DO ESPIRITISMO.
Não é duvidoso para ninguém, muito mais para os adversários do que para os partidários
do Espiritismo, que esta questão agita, mais do que nunca, os espíritos. Esse movimento
é, como alguns afetam dize-lo, um fogo de palha? Mas esse fogo de palha dura
há quinze anos, em lugar de se extinguir, a sua intensidade não faz senão crescer ano a
ano; ora, não está aí o caráter das coisas efêmeras e que não se dirigem senão à curiosidade.
O último levante geral sob o qual esperava-se abafá-lo, não fez senão reavivá-lo
superexcitando a atenção dos indiferentes. A tenacidade desta idéia nada tem que possa
surpreender quem sondou a profundeza e a multiplicidade das raízes pelas quais ela se
liga aos mais sérios interesses da Humanidade. Aqueles que se espantam com isto dele
não viram senão a superfície; a maioria mesmo não o conhece senão pelo nome, mas
não lhe compreende nem o objetivo, nem a importância.
Se uns combatem o Espiritismo por ignorância, outros o fazem precisamente porque
lhe sentem toda a importância, que nele pressentem o futuro e nele vêem um poderoso
elemento regenerador. É preciso muito se persuadir de que certos adversários se converteram.
Se eram menos convencidos das verdades que ele encerra, não lhe farão tanta
oposição. Sentem que a garantia de seu futuro está no bem que ele faz; fazer ressaltar
esse bem aos seus olhos, longe de acalmá-los, é acrescentar à causa de sua irritação.
Tal foi, no século XV, a numerosa classe dos escreventes copistas que teriam de boa
vontade feito queimar Gutenberg e todos os impressores; assim não teria sido em lhes
demonstrando os benefícios da imprensa, que ia suplantá-los, que os teria apaziguado.
Quando uma coisa está na verdade e que o tempo de sua eclosão chegou, apesar
de tudo ela caminha sozinha. A poderosa ação do Espiritismo está atestada pela sua expansão
persistente, apesar do pouco esforço que fez para se difundir. É um fato constatado,
que os adversários do Espiritismo dispensaram mil vezes mais força para abatê-lo,
sem a isto chegar, do que seus partidários não o empregaram para propagá-lo. Ele avança
por assim dizer sozinho, semelhante a um curso de água que se infiltra nas terras, e
abre uma passagem à direita se se o detém à esquerda, e pouco a pouco mina as pedras
mais duras e acaba por fazer desmoronar as montanhas.
Um fato notório é que, em seu conjunto, a marcha do Espiritismo não sofreu nenhum
tempo de parada; ela pôde ser entravada, comprimida, abrandada em algumas localidades
pelas influências contrárias; mas, como o dissemos, a corrente, barrada em um ponto,
se divide em uma multiplicidade de filetes. No entanto, à primeira vista dir-se-ia que a
sua marcha é menos rápida do que o foi nos primeiros anos; disto é preciso inferir que se
a desampara, que encontra menos simpatias? Não, mas simplesmente que o trabalho
que se realiza, neste momento, é diferente, e, por sua natureza, menos ostensivo.
Desde o início, como já dissemos, o Espiritismo reuniu nele todos os homens nos
quais estas idéias, de alguma sorte, estavam em estado de intuição; ele bastou se apresentar
para ser compreendido e aceito. Imediatamente, ele recolheu abundantemente por
toda a parte onde encontrou o terreno preparado. Feita esta primeira colheita, restavam
os terrenos incultos que necessitaram de mais trabalho. Agora, é através das opiniões
refratárias que ele deverá mostrar-se, e é o período em que nos encontramos. Semelhante
ao mineiro que ergue sem dificuldade as primeiras camadas de terra móvel, ele chegou
à rocha que é preciso cortar, e no seio da qual não pode penetrar senão pouco a pouco.
Mas não há rocha, tão dura que seja, que resista indefinidamente a uma ação dissolvente
contínua. Sua marcha é, pois, ostensivamente menos rápida, mas se, num tempo dado,
não reúne também grande número dos adeptos francamente devotados, não abala menos
as convicções contrárias, que caem, não de repente, mas pedaço a pedaço, até que a
passagem seja feita. É o trabalho ao qual assistimos, e que marca a fase atual da Doutrina.
Esta fase é caracterizada por sinais inequívocos. Examinando-se a situação, tornase
evidente que a idéia ganha a cada dia terreno, que ela se aclimata; encontra menos
oposição; dela se ri menos, e aqueles mesmos que não a aceitam ainda, começam a lhe
conceder o direito de burguesia entre as opiniões. Os Espíritas não são mais mostrados
ao dedo como outrora e considerados como animais curiosos; é o que, sobretudo, aqueles
que viajam estão em condições de constatar. Por toda a parte encontram mais simpatia,
ou menos antipatia pela coisa. Não se pode negar que não esteja aí um progresso
real.
Para compreender as facilidades e as dificuldades que o Espiritismo encontra em
seu caminho, é preciso se representar a diversidade das opiniões através das quais ele
deve abrir uma passagem. Não se impondo jamais nem pela força nem pelo constrangimento,
mas unicamente pela convicção, encontrou uma resistência mais ou menos grande,
segundo a natureza das convicções existentes, com as quais podia mais ou menos
facilmente assimilar, das quais umas o receberam de braços abertos, ao passo que outras
o repeliram com obstinação.
Duas grandes correntes de idéias dividem a sociedade atual: o Espiritualismo e o
materialismo; embora este último forme uma incontestável minoria, não se pode se dissimular
que haja tomado uma grande extensão há alguns anos. Um e o outro se fracionam
em uma multidão de nuanças que podem se resumir nas principais categorias seguintes:
1- Os fanáticos de todos os cultos, - 0.
2- Os crentes satisfeitos, tendo convicções absolutas, fortemente atrasadas e sem
restrição, embora sem fanatismo, sobre todos os pontos do culto que professam e que
com eles estão satisfeitos. Esta categoria compreende também as seitas que, por isto
mesmo que elas fizeram cisão e operaram reforma, se crêem na posse de toda a verdade,
e são, às vezes, mais absolutas que as religiões mães. - 0.
3- Os crentes ambiciosos, inimigos das idéias emancipadoras que poderiam lhes fazer
perder o ascendente que exercem sobre a ignorância. - 0.
4- Os crentes pela forma, que, por interesse, simulam uma f é que não têm, e quase
sempre se mostram mais rígidos e mais intolerantes do que os religiosos sinceros. - 0.
5- Os materialistas por sistema, que se apoiam sobre uma teoria raciocinada e da
qual muito se obstinam contra a evidência, por orgulho, para não confessar que puderam
se enganar; eles são, na maioria, tão absolutos e tão intolerantes em sua incredulidade
quanto os fanáticos religiosos o são em sua crença. - 0.
6- Os sensualistas, que repelem as doutrinas espiritualistas e espíritas com medo
que venham lhes perturbar em seus gozos materiais. Fecham os olhos para não ver. - 0.
7- Os negligentes, que vivem o dia-a-dia sem se preocupar com o futuro. A maioria
não saberia dizer se são espiritualistas ou materialistas; o presente é para eles a única
coisa séria. - 0.
8- Os panteístas, que não admitem uma divindade pessoal, mas um princípio espiritual
universal no qual se confundem as almas, como as gotas de água no oceano, sem
conservar a sua individualidade. Esta opinião é um primeiro passo para a espiritualidade,
e, conseqüentemente, um progresso sobre o materialismo. Embora um pouco menos refratários
às idéias espíritas, aqueles que a professam são em geral muito absolutos, porque
é, neles, um sistema preconcebido e racional, e que muitos não se dizem panteístas
senão para não se confessarem materialistas. É uma concessão que fazem às idéias espiritualistas
para salvar as aparências. - 1.
9- Os deístas, que admitem a personalidade de um Deus único, criador e soberano
senhor de todas as coisas, eterno e infinito em todas as suas perfeições, mas rejeitam
todo culto exterior. - 3.
10- Os espiritualistas sem sistema, que não pertencem, por convicção, a nenhum
culto, sem repelir nenhum deles, mas que não têm nenhuma idéia decretada sobre o futuro.
- 5
11- Os crentes progressistas, ligados a um culto determinado, mas que admitem o
progresso na religião, e o acordo das crenças com o progresso das ciências. - 5.
12- Os crentes não satisfeitos, em que a fé é indecisa ou nula sobre os pontos de
dogmas que não satisfazem completamente a sua razão, e que a dúvida atormenta. - 8.
13- Os incrédulos por falta de melhor, cuja maioria passou da fé à incredulidade e à
negação de tudo, por falta de ter encontrado nas crenças, nas quais foram embalados,
uma sanção satisfatória para a sua razão, mas nos quais a incredulidade deixa um vazio
que ficariam felizes em ver preenchido. - 9.
14- Os livres pensadores, nova denominação pela qual se designam aqueles que
não se sujeitam à opinião de ninguém em matéria de religião e de espiritualidade, que não
se crêem ligados pelo culto onde o nascimento os coloca sem seu consentimento, nem
obrigados à observação de quaisquer práticas religiosas. Esta qualificação não especifica
nenhuma crença determinada; ela pode se aplicar a todas as nuanças do espiritualismo
racional, tão bem quanto à incredulidade mais absoluta. Toda crença eclética pertence ao
livre pensamento; todo homem que não se guia na fé cega é, por isto mesmo, livre pensador;
a esse título, os Espíritas são também livres pensadores. Mas para aqueles que se
podem chamar os radicais do livre pensamento, esta designação tem uma acepção mais
restrita e, por assim dizer, exclusiva; para eles, ser livre pensador não é somente crer naquilo
que se vê, é não crer em nada; é libertar-se de todo o freio, mesmo do temor de
Deus e do futuro; a espiritualidade é uma tortura, e não a querem. Sob o símbolo da emancipação
intelectual, procuram dissimular o que a qualidade de materialista e de ateu
tem de repulsiva para a opinião das massas; e, coisa singular, é que em nome deste símbolo,
que parece ser o da tolerância por todas as opiniões, atiram a pedra a quem não
pense como eles. Há, pois, uma distinção essencial a fazer entre aqueles que se dizem
livres pensadores, como entre aqueles que se dizem filósofos. Eles se dividem naturalmente
em:
Livres pensadores incrédulos, que entram na 5a categoria. - 0. Livres pensadores
crentes, que pertencem a todas as nuanças do espiritualismo racional. - 9.
15- Os Espíritas de intuição, aqueles em que as idéias espíritas são inatas, e que as
aceitam como uma coisa que não lhes é estranha. -10.
Tais são as camadas de terreno que o Espiritismo deve atravessar.
Lançando um golpe de vista sobre as diferentes categorias acima, é fácil de ver as
que junto às quais ele encontra um acesso mais ou menos fácil, e as que contra às quais
se choca a picareta contra o granito. Ele não triunfará destas senão com ajuda dos novos
elementos que a renovação trará à Humanidade: esta é a obra Daquele que dirige tudo e
que faz surgir os acontecimentos de onde deve sair o progresso.
As cifras colocadas em seguida de cada categoria indicam aproximadamente a proporção
do número de adeptos, sobre 10, que cada uma forneça ao Espiritismo.
Admitindo-se, em média, a igualdade numérica entre essas diferentes categorias,
vê-se que a parte refratária, pela sua natureza, abarca quase a metade da população.
Como ela possui a audácia e a força material, não se limita a uma resistência passiva: é
essencialmente agressiva; daí uma luta inevitável e necessária. Mas este estado de coisas
não pode ter senão um tempo, porque o passado se vai e o futuro chega; ora, o Espiritismo
caminha com o futuro.
É, pois, na outra metade que o Espiritismo deve recrutar, e o campo a explorar é
muito vasto; é ali que deve concentrar seus esforços e que verá seus limites recuarem.
No entanto, essa metade longe de lhe ser inteiramente simpática, ali encontra resistências
renitentes, mas não insuperáveis, como na primeira, e cuja maioria prende-se a prevenções
que se apagam à medida que o objetivo e as tendências da Doutrina são melhor
compreendidas, e que desaparecerão com o tempo. Podendo-se admirar de uma coisa, é
que, apesar da multiplicidade dos obstáculos que encontra, das armadilhas que se lhe
estende, tenha podido chegar, em alguns anos, ao ponto onde está hoje.
Um outro progresso, não menos evidente, é o da atitude da oposição. À parte as invectivas
lançadas, de tempo em tempo, por uma plêiade de escritores, quase sempre os
mesmos, que não vêem por toda a parte senão a matéria para rir, que ririam mesmo de
Deus, e cujos argumentos se limitam a dizer que a Humanidade torna-se demente, muito
surpreende que o Espiritismo haja caminhado sem sua permissão, e é muito raro ver a
Doutrina implicar com uma polêmica séria e firme. Em lugar disto, como já fizemos notar
em um precedente artigo, as idéias espíritas invadem a imprensa, a literatura, a filosofia;
não se as apropria sem confessá-las: é porque vê-se, a cada instante, surgirem nos jornais,
nos livros, nos sermões, no teatro, pensamentos que se diria hauridos na própria
fonte do Espiritismo. Seus autores, sem dúvida, protestariam contra a qualificação de Espíritas,
mas com isto não sofreriam menos a influência das idéias que circulam e que parecem
justas. É que os princípios sobre os quais repousa a Doutrina são de tal modo racionais,
que fermentam numa multidão de cérebros e brilham com o seu desconhecimento;
eles tocam a tantas questões, que é, por assim dizer, impossível entrar no caminho da
espiritualidade sem fazer involuntariamente o Espiritismo. Foi um dos fatos mais característicos
que marcaram o ano que acaba de se escoar.
É preciso concluir disto que a luta está terminada? Seguramente não, e devemos, ao
contrário, mais do que nunca nos manter em guarda, porque teremos assaltos de um outro
gênero a sustentar; mas, em esperando, as fileiras se reforçam, e os passos dados
para a frente são tanto mais ganhos. Guardemo-nos de crer que certos adversários se
dêem por batidos, e de tomar seu silêncio por uma adesão tácita, ou mesmo pela da neutralidade.
Persuadamo-nos bem que certas pessoas não aceitarão jamais, nem abertamente
nem tacitamente, o Espiritismo enquanto viverem, como há os que não aceitarão
jamais certos regimes políticos; todos os raciocínios para a ele conduzi-los são impotentes,
porque não o querem a nenhum preço; sua aversão pela Doutrina cresce em razão
dos desenvolvimentos que ela toma.
Os ataques a céu aberto tornaram-se mais raros, porque se lhes reconheceu a inutilidade;
mas não se desespera em vencer com a ajuda de manobras tenebrosas. Longe de
dormir numa enganosa segurança, é preciso mais do que nunca desconfiar dos falsos
irmãos que se insinuam em todas as reuniões para espiar, e em seguida travestir o que
se disse e se fez; que semeiam por mão oculta os elementos de desunião; que, sob a aparência
de um zelo factício e algumas vezes interessado, procuram levar o Espiritismo
para fora dos caminhos da prudência, da moderação e da legalidade; que provocam em
seu nome atos repreensíveis aos olhos da lei. Não tendo conseguido torná-lo ridículo,
porque, por sua essência, é uma coisa séria, seus esforços tendem a comprometê-lo para
torná-lo suspeito à autoridade, e provocar contra ele e seus adeptos as medidas de rigor.
Desconfiemos, pois, dos beijo de Judas e daqueles que querem nos abraçar para nos
sufocar.
É preciso se figurar que estamos em guerra e que os inimigos estão à nossa porta,
prestes a agarrar a ocasião favorável, e que manejam as inteligências no lugar.
Nesta ocorrência, o que há a fazer? Uma coisa muito simples: se conter estritamente
no limite dos preceitos da Doutrina; se esforçar por mostrar o que ela é por seu próprio
exemplo, e declinar toda solidariedade com o que poderia ser feito em seu nome e seria
de natureza a desacreditá-la, porque isto não saberia ser o fato de adeptos sérios e convictos.
Não basta se dizer Espírita; aquele que o é de coração o prova por seus atos. A
Doutrina não pregando senão o bem, o respeito às leis, a caridade, a tolerância e a benevolência
para todos, repudiando toda violência feita à consciência alheia, todo charlatanismo,
todo pensamento interessado no que concerne às realizações com os Espíritos, e
todas as coisas contrárias à moral evangélica, aquele que não se afasta da linha traçada
não pode incorrer nem em censura fundada, nem em perseguições legais; bem mais,
quem toma a Doutrina por regra de conduta, não pode senão se conciliar à estima e à
consideração das pessoas imparciais; diante do bem a própria incredulidade zombeteira
se inclina, e a calúnia não pode sujar o que é sem mancha. É nestas condições que o Espiritismo
atravessará as tempestades que se acumularem em seu caminho, e que sairá
triunfante de todas as lutas.
O Espiritismo não pode mais ser responsável pelos erros daqueles a quem agrada
se dizer espíritas, e a religião não o é dos atos repreensíveis daqueles que não têm senão
a aparência da piedade. Antes, pois, de fazer recair a censura de tais atos sobre uma
doutrina qualquer, é preciso saber se ela contém alguma máxima, algum ensino, que possa
autorizá-los ou mesmo desculpá-los. Se, ao contrário, ela os condena formalmente, é
evidente que a falta é toda pessoal e não pode ser imputada à doutrina. Mas é uma distinção
que os adversários do Espiritismo não se dão ao trabalho de fazer; são muito felizes,
ao contrário, de encontrar uma ocasião de desacreditá-lo certo ou errado, sem se
fazerem escrúpulo de lhe atribuírem o que não lhe pertence, envenenando as coisas mais
insignificantes antes que procurar-lhes as causas atenuantes.
Há algum tempo as reuniões espíritas sofreram uma certa transformação. As reuniões
íntimas e de família estão consideravelmente multiplicadas em Paris e nas principais
cidades, em razão da própria facilidade que encontraram para se formarem pelo crescimento
do número dos médiuns e dos adeptos. No princípio, os médiuns eram raros; um
bom médium era quase um fenômeno; era, pois, natural que se agrupassem ao seu redor;
mas à medida que esta faculdade se desenvolveu, os grandes centros se f racionaram,
como enxames, numa multidão de pequenos grupos particulares, que encontram mais
facilidade para se reunir, mais intimidade e mais homogeneidade em sua composição.
Este resultado, conseqüência da própria força das coisas, era previsto. Desde a origem,
assinalamos os escolhos que, inevitavelmente, deveriam encontrar as sociedades numerosas,
necessariamente formadas de elementos heterogêneos, abrindo a porta às ambições,
e, por isto mesmo, alvo das intrigas, das cabalas, das surdas manobras da malevolência,
da inveja e do ciúme, que não podem emanar de uma fonte espírita pura. Nas reuniões
íntimas, sem caráter oficial, se é mais senhor de si, conhece-se melhor, e se recebe
quem se quer; o recolhimento ali é maior, e sabe-se que seus resultados são mais satisfatórios.
Conhecemos bom número de reuniões deste gênero, cuja organização não deixa
nada a desejar. Há, pois, tudo a ganhar com esta transformação.
O ano de 1866, além disso, viu realizar as previsões dos Espíritos sobre vários pontos
interessantes para a Doutrina, entre outros sobre a extensão e os novos caracteres
que a mediunidade deveria tomar, assim como sobre a produção de fenômenos de natureza
a chamar a atenção sobre o princípio da espiritualidade, se bem que, em aparência,
estranho ao Espiritismo. A mediunidade curadora se revelou à luz nas circunstâncias mais
próprias para fazer sensação; ela germina em muitas outras pessoas. Em certos grupos
viram-se manifestar numerosos casos de sonambulismo espontâneo, de mediunidade
falante, de segunda vista e de outras variedades da faculdade medianímica que puderam
oferecer úteis assuntos de estudo. Estas faculdades, sem serem precisamente novas,
estão ainda no estado nascente numa multidão de indivíduos; elas não se mostram senão
em casos isolados e se ensaiam, por assim dizer, na intimidade; mas com o tempo adquirirão
mais intensidade e se vulgarizarão. É sobretudo quando se revelam espontaneamente
nas pessoas estranha são Espiritismo que elas chamam mais fortemente a atenção,
porque não se pode supor de conivência, nem admitir a influência de idéias preconcebidas.
Limitamo-nos assinalar o fato, que cada um pode constatar, e cujo desenvolvimento
necessitaria de detalhes mais extensos. Aliás, teremos ocasião de a isto retornar
em artigos especiais.
Em resumo, se nada de mais estrondoso assinalou a marcha do Espiritismo nestes
últimos tempos, podemos dizer que ela prossegue
nas condições normais traçadas pelos Espíritos, e que não temos senão que nos felicitar
pelo estado das coisas.

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