quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Codex 632 (O) - José Rodrigues dos Santos

O ”Codex 632”, escrito entre 2004 e 2005, tenta ser um livro desmistificador da vida de Cristóvão Colombo, pelo menos numa perspectiva de lhe dar uma nacionalidade e, sobretudo, um objectivo.

Cristóvão Colombo nunca foi, para mim, uma personagem digna de especial relevo.

Para qualquer interessado em História, facilmente constata que Colombo não foi o primeiro a chegar à América, pois, e está mais do que comprovado, centenas de anos antes já lá “passeavam” feníncios, vikings e, soube-se à pouco tempo, até chineses já lá tinham aportado. Logo essa história de ter sido Cristóvão Colombo o primeiro a chegar à América, à muito que está ultrapassada.

Agora o que desconhecia é a história que está por detrás do homem.

Quem foi realmente Colombo? Qual a sua nacionalidade? O que o moveu nesse empreendimento e, chamava-se realmente Cristóvão Colombo?

Pois bem, neste “Codex 632”, José Rodrigues dos Santos, assente em documentos genuínos, apresenta-nos muitos factos e dá também muitas respostas, porém e na minha opinião, comete um erro: não assume essas teorias, deixa antever que ali há muita coisa romanceada, sem contudo separar os factos reais dos dissimulados, e isso desvaloriza o livro.

Antes de abordar a história do livro expresso a minha profunda admiração pelo trabalho de JRS, sobretudo ao nível literário. O seu romance anterior, “A Filha do Capitão”, é uma pérola da literatura portuguesa e não só. Ele escreve bem, tem sensibilidade, não complica, nem entra em desnecessárias descrições ou devaneios. A escrita dele é simples, fluída e o ritmo que emprega, faz com que o livro se leia num ápice. “A Filha do Capitão” foi assim, e este “Codex 632” também. Porém, dificilmente ele escreverá um outro romance que bata, em Qualidade e sensibilidade, a “Filha do Capitão”.

Este “Codex” é um romance histórico, na linha de Dan Brown. Pois é meu caro Rodrigues dos Santos, por muito que teime, é difícil desmentir tais semelhanças. A estrutura é muito semelhante. Concordo que o curso da história e os personagens e alguns outros pormenores sejam diferentes, mas os objectivos, o porquê da história é semelhante entre os dois livros: “Código Da Vinci” e “Codex 632”.

Tomás Noronha é um professor de História da Universidade Nova de Lisboa e perito em Criptanálise e Línguas Antigas que recebe uma proposta de um organismo norte-americano no sentido de descodificar uma cifra que seria a chave para entrar no trabalho de investigação que um outro professor havia feito, trabalho esse que havia ficado sem quaisquer conclusões conhecidas, pois esse investigador havia falecido sem divulgar as suas conclusões...

Homem estudioso, Tomás vive uma época muito conturbada da sua vida ao nível familiar, problemas esses que necessitam de dinheiro para serem solucionados, e é precisamente por essa necessidade que Tomás resolve aceitar a incumbência que lhe propõem, acabando assim por empreender uma aventura cheia de códigos, mistérios, enigmas e muitos segredos. Ao princípio Tomás tem como objectivo investigar as notas desse tal falecido investigador, notas essas que alegadamente seriam sobre os Descobrimentos Portugueses, porém depressa Tomas começa a juntar uma série de peças que lhe dão a visão clara de muitos factos do séc. XIV e XV, factos esses que influenciam não só a actual perspectiva dos Descobrimentos, como também a visão dos jogos políticos que estiveram por detrás dos mesmos. E é por aí que Tomás chega a Cristóvão Colombo, e o papel que ele desempenhou naquele cenário.

Embora este seja um livro repleto de aventuras, volto a repetir, na mesma linha de “Código Da Vinci”, é também, e isso é indesmentível, um rico manancial de História dos Descobrimentos.

Rodrigues dos Santos leva a cabo uma investigação minuciosa da época, dos objectivos, da política, dos interesses e – e para mim foi uma surpresa -, o que está por detrás dos Descobrimentos, como começaram, quem os impulsionou e que objectivos tinham. E mais uma vez surgem os Templários, com a sua Ordem de Cristo legalmente formalizada em Portugal.

De resto é necessário referir que JRS não descobriu a pólvora. Ele limitou-se a usar velhas teorias.

Já em 1992 o Prof. Augusto Mascarenhas Barreto publicava, fruto de 20anos de investigação, “Cristóvão Colombo – Agente Secreto de El Rei D. João II”, e em 1997, “Colombo Português: provas Documentais”.

Nesses trabalhos, AMB conclui que Colombo não era genovês, mas sim judeu português, natural de Cuba, Alentejo. Conclui também que havia um complôt entre D. João II e Colombo, no sentido de iludir a atenção dos Reis Católicos de Espanha, entre outras interessantes conclusões que Rodrigues dos Santos aproveita para escrever o “Codex 632”.

O livro está bem conseguido, isso é um facto. No entanto há partes que não gostei e acho até que estão mal exploradas e até mal escritas. A vida familiar de Tomás é desenvolvida de uma forma paralela à história da investigação, no entanto nunca se percebe bem qual a finalidade. Para além de ser muito piegas, JRS usa e abusa de lugares-comuns, dando a sensação que grande parte é escrita apenas para ocupar espaço. Bem sei que a vida familiar de Tomás está por detrás do motivo de ele aceitar esse encargo de descodificar aquelas cifras, mas depois disso...

Depois há as situações sexuais, e aí, enfim, que dizer?

Na minha humilde opinião estão muito mal conseguidas. Nada excitantes ou provocatórias, quase todas as situações são ridículas e sem ponta de sensualidade. Lê-se coisas como ”fazer sopa de peixe com o leite das minhas mamas”, entre outras frase muito fraquinhas.

Mas pronto, de resto gostei bastante do livro.

Descobri muitos factos novos e interessantes e diverti-me imenso, só é pena JRS não encarar de frente esses Históricos factos.

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