O sábado, 23 de maio, teve um componente que não costuma incomodar no projeto Roedores de Livros: o barulho. Tivemos que nos reunir na área externa da creche pois acontecia uma reunião importante no interior do prédio. Até aí, nada de novo. De repente apareceu um caminhão tipo trio elétrico anunciando o aniversário de um supermercado local. Passou devagarinho com o volume nas alturas bem no meio de A Cobra e o Grilo (Graziela Hetzel, com ilustrações de Ivan Zigg, Ediouro). Uma paradinha para os "comerciais". Plim, plim.
Fiz um brinquedo cantado para descontrair e introduzir a a mediação de O Amigo Urso (Mery Weiss, Formato). Fom Fom! Buzinou um grande carro preto para um barulhento fusquinha que se arrastava na pista ao lado da gente. Bip Bip! Respondeu o fusquinha. Cri Cri! Ssssssssss!! Groaaarrrr!!! A cobra, o grilo, o urso e as crianças se manifestaram. Outra pausa para a rua deixar as histórias se acomodarem no pensamento. Plim, plim!
Parti para a leitura de uma história do Contos de Artimanhas e Travessuras (Vários Autores, Ática). A raposa estava comendo os peixes quando o mesmo primeiro caminhão voltava pela via oposta convidando a todos para a promoçào de aniversário do tal supermercado. Desta vez, era seguido por algumas kombis, fiorinos e outros veículos da frota da empresa. Ora o tomate estava em promoção, ora Claudia Leite cantava seu axé. As crianças pareciam mais incomodadas que a gente - mas nem eu, nem Edna, nem Tino, nem Célio cabíamos em meio a tanto aborrecimento. Plim, plim!
Foi então que a pequena Samara pediu para ler um livro que gostamos muito por aqui: Coitada da Raposa! (Sandra Ronca, Cortez). A história é bem divertida e vai levando o leitor por um caminho que parece mas não é tão óbvio. Aí o livro ganha o sorriso no olhar dos pequenos. Samara começou a leitura em voz baixa, ainda tímida, mas depois a história pegou e - sem interrupções - chegou ao seu final surpreendente. Depois a monitora Samantha pediu para ler A Cidade dos Carregadores de Pedras (Sandra Branco, ilustrado por Elma, Cortez). Partindo de uma metáfora genial, a autora desfila um enredo gostoso em que ora os meninos se espantam com uma cidade em que todos carregam pedras ora se encantam com o final transformador da história. Por fim, brinquedos cantados como o Andar de Trem (foto abaixo) descontraíram a turma antes do retorno para casa.
É sempre bom que o mediador tome conhecimento prévio do que vai ler para o público. Assim, prepara-se melhor para as palavras difíceis, para as entonações certas, para o jogo entre o livro e o espectador. Naquela manhã barulhenta, as crianças perceberam nosso incômodo e pediram para ler novas histórias. Não foi um exemplo de mediação. Mas, certamente, um exemplo de carinho pelo outro. Sim, nas manhãs de sábado, não só aprendemos - todos - o prazer em descobrir boas histórias nos livros. Aprendemos também a respeitar o próximo. Sem barulhos. Hatuna Matata.
P.S. Um dia, escreverei um post sobre a conquista da nossa sede. Enquanto este dia não chega, agradecemos ao pessoal da Creche Comunitária da Criança que nos acolhe sempre com muito carinho. Fazem o possível para que sigamos com o nosso trabalho.
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