Lendas e contos indianos, José Jorge Letria (texto), Inês de Oliveira (ilustração), Ambar, recomendado para o 4º ano do 1º ciclo, leitura orientada em sala de aula, grau de dificuldade III
Das vinte e uma narrativas que o livro Lendas e contos indianos oferece ao leitor, muitas serão lendas e algumas contos. A fronteira é ténue, mas a simbologia mítica, em muitos casos cosmogónica acentua a relação da narrativa com a construção de uma origem.
Neste sentido, a selecção vale pela possibilidade que é dada ao leitor de construir uma imagem da cultura indiana, com os valores, os sacrifícios, as recompensas e os castigos próprios de uma moral que se erige. Outra curiosidade é não haver qualquer ordem cronológica nas lendas fundadoras, pelo que a sua organização é um desafio sugerido pela leitura. Do mesmo modo, a genealogia de deuses e outras figuras poderá ser traçada através da releitura.
No prefácio da obra, o autor do texto explicita o processo de criação: «Os textos cuja leitura se propõe neste livro foram construídos a partir de narrativas publicadas, ao longo de vários anos, em francês, inglês e castelhano. Essas narrativas foram submetidas a um trabalho de adaptação e, consequentemente, de reinvenção. Tentou o autor ser fiel à matriz das histórias, mas fez questão, exactamente por ser autor, de lhes acrescentar a sua voz própria, o seu toque pessoal, a marca do seu estilo.» Esta revelação é duplamente importante: em primeiro lugar, para que não se fixem estas narrativas como reproduções fiéis das originais; em segundo lugar, para que haja uma coerência estética entre as várias histórias.
Efectivamente, José Jorge Letria confere ao ritmo diegético uma marca geralmente presente neste tipo de texto literário: o final rápido, curto e incisivo, como aliás acontece no género do conto, especialmente no que deriva da tradição oral. O final da narrativa não se ocupa de especulações, divagações ou sequer se deixa tentar por mais alguma informação contextual. Outra das características estruturais que o autor cumpre sem provocar estranhamento é a própria economia narrativa, que não se detém em pormenores, mesmo que pudessem contribuir para uma mais detalhada visualização da acção (Uma proeza de Hanuman, p.41). Finalmente, a moral estruturante dos valores sociais está presente em muitos destes contos, cuja última frase a sintetiza, em forma de conclusão.
A riqueza e diversidade lexical contraria mecanismos de simplificação que normalmente desnudam os textos originais da sua razão de ser estética. Neste caso, é através do vocabulário que se dão as ambiências específicas de uma imagética popular indiana, que as crianças poderão recriar, com o auxílio das ilustrações bastante paradigmáticas de Inês de Oliveira, através da suavidade das cores e do enfoque nos ocres e vermelhos. Há, aliás, uma relação gráfica entre as opções de cor das ilustrações e as da capa e guardas, que jogam precisamente com estas duas bases.
O cuidado da edição e a simplicidade narrativa contribuem para colocar este livro no acervo da narrativa tradicional universal, relevante para a interpretação das histórias tradicionais portuguesas e sua contextualização num património muito mais vasto.
Neste sentido, a selecção vale pela possibilidade que é dada ao leitor de construir uma imagem da cultura indiana, com os valores, os sacrifícios, as recompensas e os castigos próprios de uma moral que se erige. Outra curiosidade é não haver qualquer ordem cronológica nas lendas fundadoras, pelo que a sua organização é um desafio sugerido pela leitura. Do mesmo modo, a genealogia de deuses e outras figuras poderá ser traçada através da releitura.
No prefácio da obra, o autor do texto explicita o processo de criação: «Os textos cuja leitura se propõe neste livro foram construídos a partir de narrativas publicadas, ao longo de vários anos, em francês, inglês e castelhano. Essas narrativas foram submetidas a um trabalho de adaptação e, consequentemente, de reinvenção. Tentou o autor ser fiel à matriz das histórias, mas fez questão, exactamente por ser autor, de lhes acrescentar a sua voz própria, o seu toque pessoal, a marca do seu estilo.» Esta revelação é duplamente importante: em primeiro lugar, para que não se fixem estas narrativas como reproduções fiéis das originais; em segundo lugar, para que haja uma coerência estética entre as várias histórias.
Efectivamente, José Jorge Letria confere ao ritmo diegético uma marca geralmente presente neste tipo de texto literário: o final rápido, curto e incisivo, como aliás acontece no género do conto, especialmente no que deriva da tradição oral. O final da narrativa não se ocupa de especulações, divagações ou sequer se deixa tentar por mais alguma informação contextual. Outra das características estruturais que o autor cumpre sem provocar estranhamento é a própria economia narrativa, que não se detém em pormenores, mesmo que pudessem contribuir para uma mais detalhada visualização da acção (Uma proeza de Hanuman, p.41). Finalmente, a moral estruturante dos valores sociais está presente em muitos destes contos, cuja última frase a sintetiza, em forma de conclusão.
A riqueza e diversidade lexical contraria mecanismos de simplificação que normalmente desnudam os textos originais da sua razão de ser estética. Neste caso, é através do vocabulário que se dão as ambiências específicas de uma imagética popular indiana, que as crianças poderão recriar, com o auxílio das ilustrações bastante paradigmáticas de Inês de Oliveira, através da suavidade das cores e do enfoque nos ocres e vermelhos. Há, aliás, uma relação gráfica entre as opções de cor das ilustrações e as da capa e guardas, que jogam precisamente com estas duas bases.
O cuidado da edição e a simplicidade narrativa contribuem para colocar este livro no acervo da narrativa tradicional universal, relevante para a interpretação das histórias tradicionais portuguesas e sua contextualização num património muito mais vasto.
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