sábado, 15 de março de 2008

Os livros também cantam!!!

Queridos amigos... semana passada chegou pelo correio o Historiar nº 06, boletim bimestral da Associação Viva e Deixe Viver, uma OSCIP que conta com o apoio de voluntários que se dedicam a contar histórias para crianças e adolescentes hospitalizados. Nesta edição, foi publicado um texto do Tino sobre alguns livros-CD que gostamos muito. Aproveito para reproduzí-lo a seguir. Deixamos ainda um abraço de letrinhas para a Lígia Pin que nos visita sempre por aqui e que é o nosso elo de ligação com a associação. Enfim, música, literatura, solidariedade e amizade num campo fértil para uma vida melhor. Seguimos plantando.

"Os livros também cantam!!!

A música brasileira acompanha a literatura infantil desde tempos idos. Nos anos 60 a coleção Disquinho apresentava uma narrativa de histórias clássicas como Chapeuzinho Vermelho recheadas de músicas do compositor João de Barro, o Braguinha. São parte da nossa memória infantil os versos musicados daquele tempo como “pela estrada afora eu vou bem sozinha / levar esses doces para a vovozinha (...)”.

Depois, Vinícius de Moraes adaptou alguns versos do livro A Arca de Noé (1970) para um disco homônimo lançado no Brasil em 1980. A idéia já havia produzido um filhote italiano: o LP L`Arca, lançado na Itália em 1972. Ainda na seara de músicas inspiradas na literatura infantil, não podia faltar a trilha sonora do programa O Sítio do Pica Pau Amarelo exibido pela TV Globo nos anos 70 e que tinha canções de craques da MPB como Gilberto Gil, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Ivan Lins e Caetano, entre outros.

Em 1982 a Editora Abril lançou a coleção TABA. Vendida em bancas de revistas, a coleção trazia em cada edição uma história infantil, atividades para crianças e um compacto (mini LP) com as histórias e duas canções da MPB relacionadas ao tema. Fez um tremendo sucesso. Histórias de Ana Maria Machado, Joel Rufino dos Santos, Sylvia Orthof e Ruth Rocha conviviam harmoniosamente com músicas de Chico Buarque, Tom Zé, Secos & Molhados, Jorge Ben e tantos outros. Foram 40 edições atualmente disputadíssimas em sebos. Um marco!!!

No final dos anos 80 o CD conquista o mundo. Sua capacidade de armazenar até 74 minutos de música (a duração da Nona Sinfonia de Beethoven) e seu formato compacto, instigou novas possibilidades para quem desejava aliar música e literatura. Surgiram então os Livros-CD diversos em forma, inspiração e conteúdo.

Nestes termos, gostaria de falar sobre três títulos em especial. Não por serem meus preferidos – outros também o são. Mas por estarem ao alcance da mão, dos olhos e dos ouvidos nestes últimos dias. Aqui em casa é uma bagunça organizada – nem tanto – de livros, CDs, crianças e adultos. Periodicamente faço um montinho cultural na mesa de trabalho e leio, releio, escuto bem alto... Os três livros-CD estavam aqui ao lado. São queridos meus. Os adoro por inteiro: texto, ilustrações e canções. Aqui estão: A Mulher Gigante, O Cavalinho Azul e Amigos do Peito.

Encontrei A Mulher Gigante (Editora Projeto) na pequena e aconchegante livraria do Lourenço, um amigo gaúcho que mora aqui em Brasília. O livro-CD é escrito e musicado por Gustavo Finkler e Jackson Zambelli (do grupo Cuidado Que Mancha) com ilustrações-maravilhas da Laura Castilhos, que abusa do talento em colagens e pinturas. No livro, 12 pequenas histórias como a da tal mulher que usa dois ônibus em cada pé e tem elefantes de estimação. Há outros absurdos bacanas como um dragão bobalhão que foi raptado pela princesa. Do CD que acompanha o livro eu destaco as canções O Fantasma Desafinado; O Seqüestro do Dragão Bobalhão; Príncipe Herculano, o chato; Tião Zoreia escuta tudo e Cuidado que Mancha. São canções divertidas com refrões fáceis que grudam na cabeça já na primeira audição. Gosto de acompanhar o CD olhando o livro. Eles se completam.

O Cavalinho Azul é um clássico escrito por Maria Clara Machado nos anos 60. Em 2001 a Companhia das Letrinhas lançou uma edição especial com as ilustrações originais de Marie Louise Nery. Na história, o menino Vicente sai à procura do seu cavalinho azul. Da cor fantástica do animal até o calor no peito da gente quando a história termina, tudo é uma delícia só. A emoção também impera ao ouvimos o CD com a versão em forma de ópera infantil que o genial Tim Rescala fez para a obra. É um trabalho maravilhoso. Lembra os musicais americanos. Mas ópera não é música fácil para ouvidos desatentos. É preciso atenção. Convido o leitor curioso a primeiro ler o livro. Depois, feche os olhos, aumente o som e deixe a música colorir de azul toda a história. Talvez você estranhe no início, mas ao final, estará refém da emoção.

O texto de Amigos do Peito (Editora Formato) é de Cláudio Thebas que também assina a produção musical ao lado de Carlos Renoya e André Bedurê. O livro tem uma sonoridade gostosa de ler em voz alta. Um humor inteligente que alcança as crianças. O tema é um dia na vida de um garoto. O despertar, a casa, a escola, os vizinhos, o irmão, bichos de estimação. As ilustrações caprichadas de Eva Furnari. Alguns poemas são plenos de meninice como em O Médico é o Monstro: O médico nunca me disse: / Sorvete. Tome sorvete. / Picolé, três vezes por dia. O Cd tem muita música boa e conta com participações de Zeca Baleiro, Rita Ribeiro e outros bambas da MPB. Impossível ficar parado ouvindo Brinquedo novo e Jogo de Dados. Ali, sintonia total com o mundo infantil. O cão é uma brincadeira vocal muito bem feita. Aumente o som e prepare-se para estalar os dedos. A bossa de Carlos Careqa dá um charme ao poema do médico (dou-do). A Casa da Avó ficou balançante como neto solto no mimo e Chico César arrebenta na Hora do Banho, outra canção íntima das certezas infantis.

Espero que a sua curiosidade desperte a vontade de conhecer estas obras. Não tenha medo de discordar da minha modesta opinião. Eu também não concordo com muitas certezas que os especialistas pregam por aí. O importante é levar a literatura, a música e outras formas de cultura para casa. Fantasiar em família. Hatuna Matata.

Tino Freitas."

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