Autor: Nigel Richardson
Tradução: Jaime Araújo
Edição: Presença
Colecção: Noites Claras
Nº de páginas: 208
"Mungo adora Londres e detesta o campo. Nunca se imaginaria a viver rodeado de árvores, flores e camponeses. Mas um dia, o pai, que ele adorava, adoece gravemente e morre, deixando Mungo e a sua mãe numa situação financeira difícil.
Sem outra alternativa, são obrigados a trocar a casa de Londres por uma casinha na província. Mungo vê-se agora rodeado de tudo aquilo de que não gosta. Sente-se miseravelmente. Sozinho, sem o pai, sem amigos, com todos os problemas existenciais próprios da adolescência... É então que o insólito acontece... Mungo encontra outro Mungo em tudo semelhante a si, até no nome! Será que a chegada deste Mungo paralelo servirá apenas para duplicar o caos em que já se encontrava a vida de Mungo? Ou será que traz na manga um plano extraordinário para o ajudar? Tudo é possível neste romance surpreendente que mistura na perfeição fantástico, ficção-científica
, thriller psicológico e universos paralelos." Está disponível a partir de hoje o mais recente número da colecção Noites Claras. Como muitos de vocês já sabem, apesar de ser uma colecção mais vocacionada para um publico jovem, os livros costumam tratar temas muito interessantes e podem ser lidos com prazer tanto pelos mais novos como por adultos.
A personagem principal desta narrativa é Mungo, um adolescente londrino com o qual não simpatizei nada ao inicio. É um filho de uma família abastada que se acha superior aos demais e se diverte a fazer asneiras, a beber, a fazer pequenos furtos, a rebaixar os outros e a gozar e espancar os mais vulneráveis. A mãe, como tantas vezes, pensa que o filho é um prodígio, um exemplo a seguir.
Depois de um episódio nada feliz em Londres encontramos Mungo e a sua mãe em plena mudança para o campo. O pai de Mungo morreu de doença súbita e deixou a família na falência obrigando a mãe a voltar para a aldeia e para a casa onde havia sido criada. Rapidamente percebemos que a "Aldeia dos Mortos" - como a apelida Mungo - é um lugar que apesar de não muito distante de Londres, parou no tempo. Não há lojas de CD's, não há mercearias modernas, os habitantes para além de maioritariamente idosos, não seguem as tendências da moda e têm ocupações muito pouco citadinas. A aversão de Mungo pelo local é instantânea mas nada pode fazer para contrariar a realidade.
Mas num lugar onde nada de extraordinário parece acontecer, a vida de Mungo vai sofrer uma reviravolta espantosa e o insolito vai imperar após uma tarde de chuva em que Mungo conhece um jovem bimbo com quem partilha não apenas o nome mas muitas outras coisas... Depois desse primeiro "encontro", o Mungo bimbo desaparece e o leitor, tal como o personagem principal, começa a perceber que por alguma razão desconhecida apenas é possível encontrá-lo em ocasiões de chuva algo intensa. A partir daqui nada é aquilo que parece... E no final, que se revela surpreendente, acabamos por gostar de Mungo (devia dizer dos Mungo) e perdoar-lhe algumas das suas atitudes.
Gostei bastante da ideia em torno da qual se desenvolve esta história, uma ideia feita de "ses" , de opções que quando tomadas criam um universo que se torna real mas que podia não o ser se a escolha feita tivesse sido outra. Para perceberem melhor...fez-me lembrar um pouco o Donnie Darko, numa versão mais soft ou o Efeito Borboleta (não sei se já viram estes filmes). A teoria dos mundos paralelos, do viajar de uns para outros e conseguir viajar através do tempo e do espaço, as realidades que se moldam às escolhas que fazemos. A escrita do autor é leve e fluída o que nos permite avançar na estória apesar desta complicada temática subsequente e os estranhos personagens acabam por nos cativar de uma forma que inicialmente não prevíamos.
Enfim, ficção-cientifica à parte é uma narrativa algo estranha mas que acaba por envolver-nos e despertar em nós a curiosidade não só em relação à história de Mungo mas também à nossa própria história. O que poderia ser diferente se em determinada ocasião a nossa escolha tivesse sido outra? E se não tivéssemos tomado esta ou aquela atitude? Pode ser uma boa escolha para este Natal.
7/10
Nota: A Presença também edita hoje o mais recente título de Sandra Carvalho, "A Sacerdotisa dos Penhascos".
Nenhum comentário:
Postar um comentário