domingo, 6 de dezembro de 2009

A Psicologia da Evolução Possível ao Homem, de P. D. Ouspensky / Petyr Demianovich Ouspensky

TRECHO:
INTRODUÇÀO


Durante anos recebi numerosas cartas de meus leitores. Todos
perguntavam-me o que tinha feito depois de escrever meus livros,
publicados em inglês em 1920 e 1931, mas redigidos desde 1910 e
1912.
Nunca podia responder a essas cartas. Só para tentar fazê-lo,
necessitaria de livros inteiros. Porém, quando meus correspondentes
moravam em Londres, onde me instalara em 1921, organizava, em
sua intenção, ciclos de conferências, nas quais tentava responder às
suas perguntas. Explicava-lhes o que descobrira depois de haver
escrito meus dois livros e em que direção se engajara o meu
trabalho.
Em 1934 escrevi cinco conferências preliminares que davam
uma idéia geral do objeto de meus estudos, bem como das linhas de
trabalho que seguia comigo determinado número de pessoas. Reunir
tudo isso numa única conferência e mesmo em duas ou três era
totalmente impossível; por isso, advertia sempre ser inútil assistir a
uma ou duas conferências, mas serem necessárias no mínimo cinco,
ou talvez dez, para se ter uma idéia da orientação do meu trabalho.
Essas conferências continuaram desde então e, durante todo esse
período, corrigi-as e reescrevi-as várias vezes.
No conjunto, achei essa organização geral satisfatória. Liam-se
cinco conferências, estando eu presente, ou então ausente.
Os ouvintes podiam fazer perguntas e, se tentavam seguir os
conselhos e indicações que lhes eram dados œ e que diziam respeito
sobretudo à observação de si e a certa disciplina interior œ,
adquiriam rapidamente, pela prática, uma compreensão mais do que
suficiente do que eu fazia.
É claro que sempre reconheci não serem cinco conferências o
bastante e, nas conversações seguintes, retomava os dados
preliminares para desenvolvê-los, tentando fazer ver aos ouvintes
sua própria posição diante do novo conhecimento.
Tornou-se evidente para mim que, para muitos dentre eles, a
principal dificuldade era dar-se conta de que tinham realmente
ouvido coisas novas, quer dizer, coisas que nunca tinham ouvido
antes.
Sem confessá-lo a si mesmos, tentavam sempre negar em
pensamento a novidade do que tinham ouvido e esforçavam-se,
qualquer que fosse o assunto, em retraduzir tudo em sua linguagem
habitual. Naturalmente, não podia levar isso em conta.
Sei que não é fácil reconhecer que estamos ouvindo coisas
novas. Estamos de tal maneira habituados às velhas cantigas, aos
velhos refrões, que há muito deixamos de esperar, deixamos até de
crer que possa existir alguma coisa nova.
E, quando ouvimos formular idéias novas, tomamo-las por
velhas idéias ou pensamos que podem ser explicadas ou
interpretadas com o auxílio de velhas idéias. De fato, é tarefa árdua
compreender a possibilidade e a necessidade de idéias realmente
novas; isso requer tempo e revisão de todos os valores correntes.
Não posso assegurar que, desde o início, encontrarão aqui
idéias novas, isto é, idéias das quais nunca tenham ouvido falar.
Mas, se tiverem paciência, não tardarão a notá-las, e desejo-lhes,
então, que não as deixem escapar e cuidem para não interpretá-las
da velha maneira.



Nova Iorque, 1945.

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