TRECHO:
INTRODUÇÀO
No prefácio da primeira edição do livro As Mansões Filosofais (e o
Simbolismo Hermético nas suas Relações com a Arte Sacra e o Esoterismo da
Grande Obra), Eugénio Canseliet afirmou: Considerada durante muito tempo
como uma quimera, a Alquim ia interessa cada vez mais ao mundo científico.
E se filosofar, como disse Aristóteles, é estudar as causas últimas de
todas as coisas, ou se é, também, tentar fornecer uma explicação orgânica do
Universo, como afirmou o filósofo e matemático inglês Alfred North W hitehead
(1861-1947), a Filosofia não pode dar preferência a um ou outro campo do
saber. Não. Não se pode adstringi-la apenas ao estudo da Lógica, da
Metafísica, da Ética, da Epistemologia, da Teodicéia, da Política, da
Cosmologia, da Psicologia ou da Estética. A Filosofia (philos sophias) estuda
tudo, pois tudo tem valor ponderável para o conhecimento. E, também, porque
qualquer coisa pode ser examinada sob o aspecto científico ou sob o plano
filosófico. Por isso, o estudo dos aspectos filosóficos da Alquimia está inserido
no âmbito da Filosofia das Ciências. Falar, portanto, de uma Filosofia da
Alquimia não deve causar espanto a ninguém. Os próprios alquimistas
referem-se ao seu conhecimento como Filosofia Natural. Em aditamento,
renomadíssimos pensadores e cientistas de todos os tempos - registradamente
os da Idade Média - a ela dedicaram fervorosos e aprofundados estudos. A
título de ilustração, listam-se alguns nomes de notabilíssimas personalidades
de reputação ilibada e mundial, que entregaram parte ponderável de suas vidas
ao estudo da Filosofia Alquímica: Zózimo (o Panapolitano), Ostanes (de
Synesius), Geber, Thazes, Artephius, Moriano, Maria (a Profetiza), Hermes,
Rogério Bacon (Doctor Admirabilis), Alão de L‘Isle, Cristóvão (o Parisiense),
Arnaldo de Villeneuve, Tomás de Aquino (Doctor Angelicus), Ferrarius,
Raimundo Lulio (Doctor Illuminatus), João Daustin, João Cremer, Ricardo
(apelidado Roberto, o Inglês), Pedro Buono de Lombardia, Guilherme (de
Paris), João de Meng, Grasseus (apelidado Hortulanus), Nicolau Flamel,
Basílio Valentim, Tritémio (o Abade), Isaac (o Holandês), Tomás Norton, Jorge
Ripley, Lambsprinck, Jorge Aurach (de Estrasburgo), Lacini (monge calabrês),
Bernardo Trevisano, Venceslau Livínio (de M orávia), Zacário, Paracelso,
Lascaris, Eireneo Filaleuto, Jean d‘Espagnet, Fulcanelli, Eugénio Canseliet,
François Rabelais, Tiago Tesson, Francisco Vicente Raspail, Jacob Boheme,
Robert Fludd, Michael Maier, Jollivet Castelot, Harvey Spencer Lewis, Nicolau
de Grosparmy, Quercetanus, Pierre Vicot, Limojou de Saint-Didier, Cyliani,
Cipriano Piccolpassi, Hujumsin, Nicolau Valois, Göethe, Leriche, Luis
D‘Estissac, Avicena, Demócrito, Salomão, Tollius, J.B. van Helmont,
Trismosino, Alberto o Grande, Naxágoras, Huginus à Barma, Cagliostro,
Batsdorf, Sethon (o Cosmopolita), Senior Zadith, Henrique de Linthaut, Artéfio,
Tiago Coeur, Lactâncio, Platão, Francis Bacon, Homero, Virgílio, Ovídio, Dante,
Miguel de Cervantes, Francisco Colonna, Teobaldo de Champagne e Jesus o
Cristo. (Jesus, dos doze aos trinta anos, entre outros países da Antigüidade,
esteve na Pérsia, na Èndia e finalmente no Egito. No seu discipulado, adeptado
e mestrado a Alquimia constituiu-se em uma das colunas fundamentais de sua
preparação iniciática).
Neste ponto da presente pesquisa, ao se iniciar o estudo dos princípios
fundamentais da Alquimia, deseja-se deixar clarificado, que o tema impõe,
além da análise filosófica necessária e insubstituível, um aprofundamento,
ainda que tangencial, nos aspectos científico e iniciático que esta ciência
parece incontestemente contemplar. O espírito hodierno quer mais luz! E por
isso, não aceita mais ficar aprisionado nos laços de um Positivismo autoritário,
fútil e ilusório. O Positivismo já deu o que tinha que dar no que concerne à
negação da Metafísica. Entretanto, a Religião da Humanidade, que tem por
lema O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim ,
contraditoriamente, está ancorada em princípios metafísicos. O pensamento
daquele agonizante século XX começa a admitir que aquele que conhece
realmente está em enteléquia. A Alquimia, assim, passa a estar incluída como
campo de pesquisa e de interesse de cientistas, de psicólogos e de filósofos
contemporâneos. A enteléquia, portanto, como já determinara Aristóteles,
preside as realizações do ser, quer seja na arte, na poesia, na música, na
arquitetura, na ciência, quer se manifeste na trajetória iniciática, pois é aquilo
que conduz o postulante à possibilidade de pleitear, e de, eventualmente,
atingir a iluminação. A enteléquia é, em última instância, a razão de ser do
progresso, pois está contida no início e no transcurso de qualquer atividade.
Isto o Positivismo não pode denegar nem indeferir.
A Pedra Filosofal é sabidamente a meta preliminar do alquimista. Ela, na
verdade, encontra-se na própria matéria-prima negra, malcheirosa, de aspecto
realmente repugnante; mas pela Arte com Arte e sob os auspícios exclusivos
da Arte, passará de potência a ato. Esse é o fundamento filosófico que norteia
e ampara toda a Ciência e Filosofia Alquímicas. Sob este prisma, os conceitos
de ato e de potência são perfeitamente válidos e verdadeiros.
Entretanto, antes de se adentrar no tema propriamente dito, é
necessário que se recorde que na Antigüidade - particularmente no Egito -
vidreiros, ceramistas, ourives, fundidores, esmaltadores estavam submetidos a
juramento de segredo inviolável. E, assim, trabalhavam no interior dos templos,
fazendo parte da casta sacerdotal e dependendo das ordens e da orientação
dos sacerdotes. A hierarquia era rigorosamente observada. A própria arte do
vidro não era divulgada até praticamente o século XIX. Esta e outras atividades
eram transmitidas de boca a ouvido e, geralmente, apenas em família. Assim
eram os costumes daqueles tempos. Quem sabia não ensinava. O silêncio era
a regra de ouro que presidia o comportamento desses artistas.
M as, da mesma forma que todas essas artes (técnicas) hoje se tornaram
de domínio público, a Alquimia - quem sabe? - talvez, neste novo milênio que
está nascendo, possa vir a interessar mais pessoas do que atraiu no passado.
Haverá, contudo, dificuldades. O grande alquimista Fulcanelli levou mais de
trinta anos para obter sucesso, e Bernardo Trevisano empenhou cinqüenta e
seis anos de sua existência para realizar a R csb5 Obstinação, constância e
perseverança!
M as se é laborioso realizar a R csb, pelo menos uma esperança há:
não há nada de oculto que não deva ser descoberto, nem nada de secreto que
não deva ser conhecido1. Todavia, nessa matéria, há um único vocábulo
regulador: nçsjup . E uma única via para realização da ObraA)
Wsbotop ftjt.
Porém, há um paradoxo desconsolador e desanimador: Alquimia não
pode ser ensinada integralmente. Se a R csb for passível de concretização,
cada um deverá realizá-la individualmente. O auxílio só ocorrerá por intermédio
de chaves e sutilmente. Pelo menos, isto é o que atestam todos os alquimistas,
do passado e do presente. Contudo, acumulados os conhecimentos
necessários, poderá o pesquisador passar, então, do domínio meramente
teórico-especulativo para o das realizações: primeiro arquímicas e espagíricas,
depois alquímicas. Da grande Obra pouco dizer, m uito fazer, sem pre calar.
E o maior conselho que um velho alquimista deixou aos interessados na
arte-ciência da Alquimia foi: qbdjèodjb3)ftqfsboåb3)usbcbmi p . Outro grande
adepto do século XV, em carta a seu filho, recomendou: a paciência é a escada
dos filósofos, e a humildade a porta do seu jardim. A ciência ou filosofia
hermética - a Alquimia - é, em última e irredutível instância, um Presente do
Alto, e sua Luz Espiritual - convicção repetida por todos os adeptos - só poderá
ser obtida por revelação. É quando se dá verdadeiramente a Dvsp sb) e b)
Yje b, porque, até então, tudo é noite, dúvida, erro e dissimulação. A
presunção da posse de qualquer forma de conhecimento é, sob um prisma,
parcial; sob outro, ilusória. A própria realização da R csb não é um fim em si
mesmo. É através do adepto que a Divindade torna-se consciente de Si
Mesma. E isto é mais um mistério da J sboe f)R csb.
Curiosamente, há mais de cem mil publicações sobre Alquimia;
entretanto, só no século XX alguma atenção começou cientificamente a ser
dada a esse multimilenar conhecimento. Se, no passado, acabou por se formar
um coro polifônico contra a divulgação obscura da R csb, e a Alquimia
terminou envolta por uma conspiração de silêncio, de desprezo e de
ignorância, de 1940 a 1945 o Governo Americano comprou a peso de ouro
todos os manuscritos e documentos alquímicos que conseguiu encontrar.
Presumiam os cientistas americanos que os procedimentos alquímicos - a
Alquimia Operativa - poderia produzir o que a física já conhecia como campo
de força. E acabaram descobrindo, basicamente, que bastavam disposições
geométricas adequadas de materiais de altíssima pureza para que as
radiações nucleares fossem desencadeadas. Alamogordo primeiro; Hiroxima
depois. Como disse Oppenheimer, em 1955, a ciência havia tomado contato
com o pecado. Na verdade, o que ela fez foi parir um monstro. Assim, a
primeira pista que a Alquimia parece deixar evidente a todos os interessados, é
que as operações da R csb, por caminhos simbólicos, labirínticos e
profundamente crípticos, intentam chegar ao Vwnnwn) ) Ep own do
Universo, vale dizer, ao mais alto grau de pureza que a matéria oculta nas
entranhas de sua estrutura. Há um Princípio, um a Palavra, um Verbo... Há
um aparente nada que é tudo escondido no meio de todas as coisas em
processo lento de desocultação. Pelos caminhos da Arte - ponderam os
alquimistas - o desencobrimento acontece de forma mais acelerada. O calvário
é apressado e a noite negra abreviada. Todavia, a primeira chave que abrirá o
sacrário da R csb só será alcançada no tempo próprio, quando o mérito do
postulante for absoluto e irretocável, e sua vontade inquebrantável.
A Alquimia, cuja meta última é a transmutação do próprio Alquimista e o
conseqüente acesso a um estado superior de consciência, em 1945, teve na
transmutação nuclear produzida pela bomba que arrasou as duas Cidades
Japonesas, confirmadas as preocupações dos Filósofos da Arte. Talvez,
porque, geração após geração, por uma cadeia ininterrupta de iniciados,
tenham guardado na memória fatos históricos similares aos que ocorreram em
Hiroxima e Nagazaki.
Se, como advertem os alquimistas, as práticas da Arte dão suporte a
uma ascese interior, o produto final, no tempo adequado, será a libertação do
mais sutil, a ultraconsciência e a reintegração assintótica na Unidade. Toda a
filosofia alquímica resume-se na sabedoria: Om nia ab unum et in unum
om nia (Tudo provém da Unidade e a Unidade contém tudo).
Já a física nuclear, voltada para aplicações militares, colheu seu mais
espetacular sucesso durante a Segunda Grande Guerra, destruindo, como se
recordou, duas Cidades, incapacitando e matando milhares de seres humanos,
comprometendo diversos sistemas ecológicos japoneses e poluindo
criminosamente a atmosfera. A devastação foi total. Na atualidade, este foi o
exemplo maior do que se poderia denominar de antialquimia.
M as essa loucura irresponsável não sensibilizou os governos. A guerra
fria só fez impulsionar a corrida armamentista ao limite do inconcebível. E
mesmo com a desejada suspensão das hostilidades entre os dois principais
blocos de força da Terra, os resultados não foram suficientemente efetivos. Em
1989 afundou, perto da Ilha do Urso, no Mar na Noruega, um submarino
nuclear da ex-União Soviética - o Konsomoletz - equipado com dez foguetes,
armados, cada um, com ogivas de duzentos quilotons. A bomba que arrasou
Hiroxima tinha doze quilotons de potência. Portanto, utilizando-se cálculos
elementares de matemática, conclui-se, imediatamente, que só o Konsomoletz
possuía uma capacidade de destruição cento e sessenta e seis vezes superior
à da bomba que explodiu em Hiroxima. Esta comparação foi necessária porque
ambas, Alquimia e Física Nuclear, no que tange à operacionalidade,
manipulam forças e campos semelhantes, além do que, o produto final é
sempre duplo nos dois casos: material e energético. O que não se pode deixar
de observar também, é que, enquanto a Alquimia serve-se da transmutação no
sentido último de operar uma mudança ascensional, enquanto que interna, no
próprio Alquimista-iniciado, tendo por objetivo o bom, o belo, o bem e a união
consciente com o Todo Cósmico, as técnicas nucleares, quando direcionadas
para o militarismo, produzem exatamente o oposto: o mal, a desgraça, a
aniquilação, a conspurcação ambiental, o desequilíbrio ecológico, as mutações
genéticas e suas várias conseqüências - numa palavra - morte. Por isso,
parece ficar evidente que, enquanto a Arte opera na vida com vistas à Yje b)
(opus naturæ ), a utilização das forças nucleares voltadas exclusivamente para
o campo militar (opus mechanice) movimenta forças incontroláveis e
irredutíveis que, se e quando liberadas, destroem a vida. Mas, se se
generalizar a todos os campos, o progresso da ciência, particularmente neste
último século, acabou por fazer do ser humano escravo ou vítima: escravo em
tempos de paz; vítima em períodos de guerra. Escravo e vítima de sua
vaidade, de sua ignorância, de seu egoísmo e de sua superlativa prepotência.
Submisso, enfim, à servidão que orquestrou.
No campo específico da Tecnologia Nuclear, orientada para fins
militares, só há uma alternativa: desativar todos os artefatos bélicos existentes,
e direcionar o conhecimento até agora adquirido e estocado para a confecção
de produtos civis. As possibilidades são quase ilimitadas, e esta é a única
escolha moral concertada para solucionar esse gravíssimo e aterrorizante
problema. Em médio prazo, talvez seja possível reverter a insegurança à qual
está submetida a sociedade contemporânea, e impedir que o efeito devastador
dessas incalculáveis bombas, se detonadas, venham a, mais do que destruir o
Planeta, comprometer todo o Sistema Solar e possivelmente a Galáxia, na qual
o ser humano, como hoje é conhecido, vive suas experiências, e cujos
segredos ainda não desvendou e não compreendeu na sua integralidade. Em
outra etapa da humana ascensão, a sociedade conhecerá outros tipos de
energia (além de já ter então utilizado substantivamente outras formas
alternativas de energia como, por exemplo, eólica, das marés, solar, lunar, dos
gêiseres etc.), e a fissão nuclear já então estará obsoleta e os reatores
nucleares terão sido desativados. A humanidade certamente virá a acessar
novas e mais poderosas formas de energia que não deixam resíduo (limpas) e
não comprometem o ambiente. E toda tecnologia haverá de utilizar apenas
meios e métodos limpos de operação, que não induzem a efeitos colaterais
comprometedores da harmonia planetária, galáctica e universal. Não é o caso,
certamente, também, da fusão nuclear.
A quanta fome e a quanta miséria se assiste nos quadrantes do Astro
Azul, por utilização indébita dos recursos naturais e pela inconveniente e
inadequada manipulação da forças nucleares que, se tivessem sido
direcionados para o Leste da existência, teriam colocado toda a humanidade já
em outra esfera de possibilidades. Só no Leste está a Verdadeira Luz e o Sol
Inexaurível.
Recentemente (maio de 1998) a Èndia, unilateralmente, realizou novos
testes nucleares, pondo em risco o equilíbrio de seus próprios ecossistemas,
dos países vizinhos e, por extensão, do Planeta. Com que intenção o Governo
de Nova Deli autorizou tais experiências? Segurança? Depois de vinte e quatro
anos? Inconcebível! E a expansão da OTAN no Leste Europeu, a que grupos
poderão servir? Acredita-se que só aos fabricantes de armas. humanidade, é
óbvio, caberá pagar a conta de um imprevisível confronto entre Paquistão e
Èndia ou entre a própria OTAN e algum país da região. A Coréia do Norte
também tem demonstrado interesse no desenvolvimento militar em bases
nucleares. A desconfiança e a ausência de solução definitiva para o conflito
árabe-israelense é mais um exemplo de perigo à paz mundial. Kosovo, Êfrica,
Oriente M édio, Afeganistão, Iraque, Colômbia, Balcãs e Timor Leste são mais
alguns poucos exemplos da insanidade humana.
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