segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A Laranja Mecânica

Autor: Anthony Burgess
Título Original: A Clockwork Orange (1962)
Editor: Bibliotex Editor (colecção DN "Os Livros do Cinema")
Páginas: 222
ISBN: 8496180506
Tradutor: José Luandino Vieira

Sinopse
Alex, o "humilde narrador" deste romance, é o produto de uma civilização em que a violência se transformou num hábito, numa parte integrante da sociedade. Os adolescentes que, como Alex, cresceram rodeados por essa violência, juntam-se em grupos e aterrorizam uma Londres do futuro, atacando os seus cidadãos ao acaso, roubando e violando, ou brigando entre si. Um dia, Alex é traído pelos seus "drucos" e preso pelos "milicens". Na prisão, Alex vê-se confrontado com um tipo de violência diferente, uma violência institucionalizada, legalizada, e torna-se objecto de um "tratamento" que o condiciona a repudiar qualquer tipo de violência...

Escrito em "nadescente", a língua que Burgess inventou para as suas personagens, A Laranja Mecânica é um livro sobre o livre arbítrio. Burgess apresenta aos leitores um dilema central da existência humana: "O que é que define um homem bom? É nom o homem que escolhe o bem ou aquele a quem o bem é imposto? Não será o homem que escolhe o mal de alguma forma melhor do que aquele que faz o bem porque não tem escolha?"

Opinião
Este foi um dos livros que me recomendaram dentro do lote das melhores distopias literárias (nas quais se incluem 1984 e Fahrenheit 451), pelo que a vontade de o ler era grande. Não é um livro muito fácil de encontrar: nas livrarias encontra-se esgotado e eventualmente poderá ser comprado nalgum alfarrabista. Para além da edição que possuo, existe ainda uma das Edições 70 e saiu também numa das colecções da RBA (ambas com a mesma tradução).

A história de A Laranja Mecânica decorre numa sociedade com reminiscências futuristas, na qual a violência está na ordem do dia. O livro é relatado na primeira pessoa por Alex, um adolescente que, com o seu grupo de amigos, se dedica a roubar, agredir pessoas e a levar a cabo toda a espécie de actos violentos, aparentemente sem grandes consequências. Nesta sociedade, os jovens utilizam o calão "nadescente" e é desta forma que o livro está escrito. Várias palavras são substituídas por palavras que nunca vimos e, por isso, o início do livro não é propriamente fácil de interiorizar. Contudo, passado o impacto inicial com a ajuda do glossário, rapidamente entramos no ritmo da história e o nosso cérebro assimila as associações entre as novas palavras e o seu significado.

Depois de tantos actos de violência, um dos assaltos corre mal e Alex é apanhado pela polícia e colocado na prisão. Decorridos 2 anos dessa data, Alex será a primeira cobaia do novo "Projecto Ludovico", que tem por objectivo mitigar o uso da violência por parte do ser humano, através de métodos algo duvidosos, incluindo o visionamento repetido de imagens violentas, que provocam mal-estar ao sujeito, inibindo-o de cometer actos violentos no futuro sob pena de voltar a sentir esse insuportável mal-estar. No fundo, acaba por ser uma conversão forçada ao bem, que consiste na questão fundamental deste livro, e que continua bastante actual: deverá a prática do bem sobrepôr-se à liberdade de escolha? Até que ponto devem as entidades responsáveis interferir na liberdade dos indivíduos? Foi um livro de que gostei bastante, não só pelas questões morais que levanta, mas também pela originalidade da forma como é narrado. A nível pessoal, gostei mais das duas distopias que referi acima, mas esta não deixa de valer muito a pena uma leitura.

Nota final para a excelente tradução de José Luandino Vieira, que teve de inventar todo um novo vocabulário e praticamente "reescrever" esta história.

8/10 - Muito Bom

[Livro n.º 75 do meu Desafio de Leitura] - Desafio cumprido!

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