Factos Históricos
Catarina de Aragão (1485-1536) nasceu nos arredores de Madrid. Filha mais nova dos Reis Católicos (D. Fernando II de Aragão e D. Isabel de Castela), viveu numa época importantíssima para o futuro da Europa que aí começou a construir os alicerces da actual Europa.
Culta, inteligente e muito bonita, Catarina foi educada desde o berço para ser Rainha de Inglaterra, pois desde os 3 anos foi prometida em casamento a Artur Tudor, futuro Rei de Inglaterra, primogénito de Henrique VII.
Teve uma educação esmerada, sobretudo em estratégia militar, ganhando também a consciência da sua importância no tabuleiro estratégico de interesses políticos, interesses esses que visavam colocar a Espanha numa posição de relevo e liderança na Europa.
Consciente disso e do seu papel, assume a sua posição e encara o casamento como uma missão. Lutadora, lança charme sob o povo inglês conforme a mãe lhe havia ensinado. E esse charme oferece-lhe a adoração do povo sendo que, cerca de 500 anos após a sua morte, o seu túmulo em Peterborought nunca está sem flores. Por aí se pode medir a enorme popularidade de Catarina, popularidade que ela soube conquistar a pulso.
Interessante também registar as movimentações políticas de altura.
Em 1469, D. Fernando II de Aragão casa com D. Isabel de Castela, começando aí a definir-se o território espanhol com tal é hoje conhecido.
Altamente católicos, criam a Santa Irmandade e unificam os dois reinados.
Ambos têm um grande projecto: a conquista dos territórios mouros e italianos, no entanto e neste último caso, necessitam de derrotar os franceses. Para isso, e revela bem o espírito destes reis, têm uma série de filhos que, desde cedo, comprometem em casamento com as principais casas reais europeias de forma a criarem alianças e, dessa forma, isolarem França. É assim que Catarina é prometida a Artur Tudor.
Em 1492, após a conquista do reino de Granada aos mouros, é decretada a expulsão destes juntamente com os judeus. Com eles é expulso o saber e a cultura, iniciando-se um dos piores excessos de intolerância de que há memória.
O Livro
Philippa Gregory é genial na forma como narra estes acontecimentos, entrelaçando-os na história de Catarina.
O livro tem início em 1491.
Catarina tem 6 anos e, juntamente com os irmãos, está em campanha contra os terríveis mouros.
Percebemos desde logo o objectivo de ter os filhos no meio de um acampamento militar, correndo o risco de ser atacado. Fomenta-se a mentalidade guerreira, dá calo que só estas dificuldades podem dar. Catarina tem um enorme orgulho e confiança nos seus pais e, desde muito pequena, sabe que aqueles acontecimentos lhe serão muito úteis para quando assumir o trono de Inglaterra.
Em todo o livro Philippa Gragory nunca nos deixa esquecer essa veneração. Catarina vê-se como uma escolhida por Deus, ela tem uma missão e tudo para ela serve como uma lição de aprendizagem.
Algo que é bastante perceptível é a enorme religiosidade de Catarina. Embora admire os mouros, pelo seu saber, cultura, higiene, bom senso e bom gosto, ela vê-os como bárbaros, infiéis que não quiseram reverenciar o Deus Cristão e que, por isso, mereceram ser expulsos de Espanha. Porém, e isso é muito curioso, vicissitudes da sua vida vão, primeiro colocar-lhe dúvidas acerca do barbarismo dos mouros para, depois, colocar em dúvida a própria crença em Deus.
Visão empregue por Philippa Gregory é, como é compreensível, muito feminina. A maioria das personagens são mulheres e, por isso, pouco são exploradas as movimentações políticas (são afloradas) e bélicas (essas passam praticamente despercebidas).
Achei também que Philippa podia e devia ter explorado alguns acontecimentos importantes. Nomeadamente o acontecimento mais importante da época que foi a chegada de Colón à América.
Mas compreendo que Gregory se tenha focado unicamente em Catarina. Ela é a figura principal do trama e, justiça lhe seja feita, Philippa Gregory faz um trabalho notável de investigação histórica, conseguindo-nos transmitir o ambiente da época e o enorme carácter não só de Catarina como também de outras fascinantes personagens que a rodeiam.
Um livro excepcional que me apaixonou. Uma época que me apaixona e que aqui é descrita de uma forma soberba, real e rigorosa.
Por último, adorei também a escrita simples e objectiva de Gregory, assim como a estrutura do livro: capítulos curtos, todos eles deixando-nos em suspanse.
Classificação: 5
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