Tem dias em que o acaso nos premia com surpresas saborosas. Agora, imagine você, o quão saboroso foi para um roedor de livros ir comprar uma passagem para a Terra da Garoa e dar de cara com uma viagem ao mundo da fantasia? Pois é, foi o que se deu comigo, ao ter que resolver uns râmites burocráticos no aeroporto. Uma longa espera me fez dar uma volta na livraria do lugar e, que delícia, lá havia uma seção de livros infantis. Confesso que tive que garimpar - mas adoro fazer isso - para descobrir algo instigante. Mas valeu MUITO à pena.
No meio da estante amarrotada de poucas boas ideias literárias, um título me chamou a atenção: CHAPEUZINHO VERMELHO. Um livro grandão, esverdeado, com um MENINO na capa dura, acompanhado do subtítulo UMA AVENTURA BORBULHANTE. Nada tradicional. Do jeito que eu gosto. Estacionei a curiosidade ali mesmo e fui descobrir as delícias daquela descoberta, enquanto dois vendedores olhavam para mim com aquele jeito de quem diz: - Vai levar ou vai ler aqui mesmo? Li ali mesmo e depois levei para casa, pois era certo que o livro seria um presente e tanto para Ana Paula.
O livro, CHAPEUZINHO VERMELHO: Uma Aventura Borbulhante, dos irmão Lynn e David Roberts (Zastrás) é uma deliciosa paródia da hostória original. Desta vez, a personagem é o menino Tomaz. A autora (Lynn) ambientou o enredo no século XVIII e a família de chapeuzinho era formada por pioneiros ingleses vivendo na América do Norte. O ilustrador (David) caprichou nos detalhes de época (perucas, roupas, mobília) mostrando cuidado em sua produção. A construção é a mesma: uma criança leva uma encomenda para a avó e encontra com o lobo. Mas são irresistíveis as soluções escolhidas para recontar. Há toda uma nova decoração e o ambiente familiar apresenta-se com o frescor de uma casa nova para o leitor de qualquer idade. Simplesmente fantástico. Resolvido o problema com a passagem, retornei para casa duplamente feliz: passagem para Sampa e, no meio do caminho, uma parada de surpresa no mundo da fantasia.
O post poderia ter terminado no parágrafo acima, mas nem eu nem Ana Paula descansamos ao saber que Chapeuzinho Vermelho fazia parte de uma trilogia escrita pelos irmãos Roberts que ainda incluía Cinderela e Rapunzel. Fucei na internet e encontrei um comentário sobre o primeiro no blog da Cristiane Rogério (LER PRA CRESCER). Nada mais. Silêncio em torne de uma produção tão criativa e bem acabada. No dia seguinte encontrei RAPUNZEL: Um Conto de Fadas Fabuloso na livraria perto de casa. E ainda estava em promoção. E descobri que era tão bom quanto o primeiro. Eu e Ana Paula nos divertimos descobrindo as sutilezas do texto e das ilustrações.
A história se passa nos anos 70. Rapunzel é uma jovem que vive isolada do mundo, num apartamento no alto de um prédio velho. Órfã, vive com sua tia que a mantém trancada em casa, cercada de discos e revistas. O elevador vive enguiçado e do seu apartamento até o térreo são centenas de degraus. Para descer e subir do apartamento para a rua a malvada tia de papunzel, que trabalha como merendeira numa escola da cidade, usa as tranças da sobrinha. Um dia um jovem roqueiro apaixona-se por Rapunzel e a história segue o fio tradicional porém, com novas cores e sabores.
Como na releitura de Chapeuzinho Vermelho, a história de Rapunzel ganha ares históricos. São cabelos os mais variados, referências a discos de rock, homens usando sapatos de salto, roupas como coletes e calças boca de sino, o incrível mobiliário, tudo referência cultural dos anos 1970. Uma viagem ao túnel do tempo. Mas, antes de tudo, uma história muito bem contada. Para todas as gerações.
Ainda não vimos a Cinderela dos irmãos Roberts, desta vez ambientado nos anos 1920. Enquanto isso não acontece, seguimos relendo os dois primeiros, e descobrindo novos detalhes como, uma referência - em ambos, ao clássico que, em breve, deve compartilhar um espaço na estante de casa. Irresistivelmente obrigatório na estante dos apaixonados por boas histórias. E aí, pronto para a viagem? Agora, de volta do século XVIII e dos anos 1970, deixo este texto para fazer as malas para a São Paulo de hoje. Hatuna Matata.
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